quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Das canções de Bilitis
Por Pedro Gonzaga
Inicio uma série de pequenas traduções, a partir do espanhol, da sáfica recriação de Pierre Louÿs, "As canções de Bilitis".
A gruta das ninfas
Teus pés são mais delicados do que os da argêntea Tétis. Recolhes, entre teus braços, cruzados, teus seios e os movimentas tão suavemente como a dois belos corpos de pomba.
Sob teus cabelos escondes os olhos úmidos, a boca trêmula e as vermelhas flores de tuas orelhas; mas nada, sequer o cálido alento do beijo, deterá meu olhar.
Porque na intimidade de teu corpo, ocultas, amada Mnasidika, a gruta das Ninfas de que nos fala o velho Homero, o lugar onde as náiades tecem lenços de púrpura.
O lugar de onde emanam, gota a gota, inesgotáveis fontes, e por cuja porta Norte descem os homens, enquanto sua porta Sul se abre aos Imortais.
O passado que sobrevive
Deixarei o leito como ela o deixou, desfeito e quebrantado, revoltos os lençóis, a fim de que a forma de seu corpo fique impressa junto a do meu.
Até amanhã não tomarei banho, nem usarei vestidos, nem farei penteados, porque temo apagar suas carícias.
Nem de manhã, nem à tarde comerei, e em meus lábios não porei carmim nem enfeites para que seu beijo perdure.
Deixarei os postigos fechados e não abrirei a porta porque temo que o vento arraste as lembranças que aqui estão guardadas.
O beijo
Beijarei de uma a outra ponta as grandes negras asas de tua nuca, ó doce pássaro, pomba cativa cujo coração sob minha mão palpita.
Prenderei tua boca com minha boca como um filho toma o peito de sua mãe. Estremece-te…! que o beijo penetre profundamente e complete o amor.
Passarei minha língua ligeira por teus braços, em volta de teu pescoço, e farei rodar por tuas costas inquietas a carícia rígida de minhas unhas.
Escuta sussurrar em teu ouvido todo o rumor do mar... Mnasidika, teu olhar me atormenta! Cobrirei com meus beijos tuas pálpebras ardentes como lábios.
Retirado de pedrogonzaga.wordpress.com
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