Saiba mais

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Narrativas urbanas


A modernidade traz, assim como para os artistas da virada do século XIX e XX, também aos historiadores a preocupação em levar à frente da discussão metodológica, os elementos "anônimos" da história: rotinas ordinárias, narrativas de pessoas vulgares, ferramentas tecnológicas; são os correlatos historiográficos da "quebra de paredes" que a arte propõe, ao trazer ao palco melodias folclóricas, para às telas pinturas primitivas, e aos livros a inflexão oral. "Vorticismo" e "primitivismo" na arte têm seus correlatos nas pesquisa histórica: são a abolição do estudo exclusivo de "processos" e a introdução da compreensão da vida como ela é a partir do relato de seus atores, os indivíduos. É o que nos conta Karen Worcman.

Por Karen Worcman

“Na verdade, a história oral é tão antiga quanto a própria história”, diz Paul Thompson, historiador inglês e responsável, em grande parte, pelo renascimento da História oral no mundo acadêmico na Inglaterra nos anos 70. Segundo ele, não era apenas nas sociedades essencialmente orais, como as africanas, que o uso da memória fazia parte das ferramentas para o exercício de registro e transmissão das tradições, valores e sentido de continuidade de um grupo. No entanto, nas sociedades ocidentais, esse exercício veio, pouco a pouco se restringindo à escrita. A História com H maiúsculo colocou as fontes orais de escanteio.

Com a chegada do gravador , o acesso ao registro de “falas”e entrevistas” independente da escrita, voltaram à tona. Hoje, essa pratica está presente de inúmeras formas: no mundo acadêmico, mas também no jornalismo, nos programas de TV e rádio. Os “testemunhos”são hoje parte de nosso cotidiano. Por trás deles, sempre as “histórias”.

Paralelamente à chegada do gravador, vieram as fotografias e finalmente o vídeo. Se formos pensar mais profundamente, essas tecnologias transformam nossas formas de comunicação, e com sua popularização, nosso cotidiano. Na medida em que os gravadores, as máquinas de fotografia e as câmeras de vídeo tornaram-se objetos altamente acessíveis, a idéia de que poderíamos, cada um, registrar imagens, histórias e nossas próprias memórias introduziu-se em nosso dia-a-dia familiar, pessoal ou nosso ambiente de trabalho.

A era digital e, mais precisamente a Internet catapultou a transformação ao abrir a possibilidade para que cada um de nós se tornasse um editor e divulgador. Celebrada como uma grande revolução e que dá um novo papel ao indivíduo na sociedade, este momento nos traz também novos desafios. Já que todos podemos produzir, afinal o que devemos escutar? Quais são de fato nossas histórias coletivas? Quais conteúdos, dentre os inúmeros produzidos hoje, merecem “ficar”?

Joe Lambert, que nasceu no Texas nos anos 50, começou sua carreira no teatro. Sua trajetória se transformou nos início dos anos 90, quando criou o Digital Storytelling, método que conjuga uma prática milenar- o círculo de histórias- com a possibilidade de cada pessoa editar” e construir uma “história em vídeo. Presente em mais de 40 países, é atualmente utilizado por museus, hospitais, organizações sociais e emissoras de TV, como a BBC.

Recentemente Joe Lambert esteve no Brasil para participar de um Fórum organizado pelo Museu da Pessoa, ABERJE, USP e Memória Votorantim. Nos dias que se seguiram, levei-o para andar pela cidade. Ele ficou fascinado pelos grafites da cidade. E fez das paredes pintadas, uma história sobre uma prática ainda mais antiga do que a história oral, a história visual.


Saturday Afternoon from Joe Lambert on Vimeo.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...