Como queria assinar os textos de Érico... Este é um post-desabafo, uma petição de princípios que, se aqui parece focado em problemas específicos da literatura, deve na verdade ser entendido à luz de toda produção cultural pátria. Desfrutem.
Por Érico Nogueira
Se há um país idiota, no sentido etimológico do termo - em grego, idiotés, ou um particular que de tão particular chega a ser autista, e é, pois, incapaz de compreender o lógos comum sobre que se assenta a pólis -, esse país é o Brasil, nação que em regra não consegue entender os pressupostos mais básicos da civilização ocidental. Disso sabiam os Garotos Podres; a isso refere-se o "se não é jabuticaba, e dá só no Brasil, então é besteira".
O ponto é: ensina-se poesia, aqui, como uma justificada sucessão de assassinatos, até que, finalmente, se chegue ao modernismo mais chinfrim, do tipo "amor: humor", como se chega ao paraíso. Imaginem um professor italiano dizendo que Ungaretti, sim, é que é bom, e aquele almofadinha do Carducci faz muito bem em ficar na penumbra; ou um francês dizendo que Apollinaire salvou a França do rendilhado de Gautier; um alemão afirmando que Celan estirpou a praga de Rilke... Seria caso de polícia, acreditem. No Brasil não; e a criançada continua aprendendo que "amor: humor" é A poesia brasileira de verdade, enquanto "Ora o surdo rumor de mármores partidos" não passa de afetação...
O que fundamenta essa brutalidade é uma certa idéia de Brasil, mais ou menos arraigada em todos nós: o Brasil é o seu povo, e o seu povo é espontâneo, leve e cordial; a poesia genuinamente brasileira, pois, deve ter essas características, sob pena de ser mera macaqueação de modelos estrangeiros. É um apanhado de absurdos - e absurdos xenófobos, criados pelo Sr. Getúlio Vargas e decantados nas canções de Ary Barroso... O pior, porém, não são eles: é a releitura deles em chave socialista, obra máxima do cachaceiro presidencial, que já vai tarde: o Brasil é o seu povo, e o seu povo, espontâneo, leve e cordial, depois de longa luta de classes chega finalmente ao poder para não mais sair. Tudo o que não for povo, pois, não é Brasil, é 'elite', e deve, ou bem abrasileirar-se, ou... Como se vê, trata-se da reedição do inesquecível "Brasil: ame-o ou deixe-o". Dá vontade de vomitar.
Concluindo: a sofisticação formal, em poesia, nunca foi tão política como hoje. É resistência contra a imbecilização. É afirmação do indivíduo contra a massa de idiotas.
Retirado de Ars Poetica.
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