quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Martina Gusman
Aproveitando a passagem do Ricardo Darín por São Paulo, Willian faz um pequeno post sobre Martina Gusman, atriz que há tempo chama atenção não só pelo Sul. Espero que gostem!
Por Willian Silveira
Ricardo Darín é avesso a homenagens. Sabe-se disto porque, contrariando o esperado, o ator argentino aceitou o convite da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos e esteve em São Paulo para receber os louros por uma carreira que contabiliza mais de cinqüenta filmes. Como não poderia ser diferente, o fato foi destaque nos principais jornais do país.
Na verdade, poderia - e costuma - ser exatamente diferente caso não estivéssemos nos referindo ao protagonista de "O segredo de seus olhos" (El secreto de sus ojos, Juan José Campanella, 2009), vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro na última edição da premiação. Ou seja, não fosse a estatueta e os inúmeros serviços prestados por Darín ao cinema argentino dificilmente seriam conhecidos.
C'est la vie, diriam. Verdade, o modus operandi da imprensa - perdão pelo termo vago - é demais previsível. Porém esta é uma questão, agora, secundária. Mais vale destacar que a homenagem a Darín contou com a exibição de "Abutres" (Carancho, Pablo Trapero, 2010), seu último trabalho. Com os holofotes totalmente voltados ao ator, deixou-se escapar a presença marcante de uma das grandes revelações do cinema sul-americano, Martina Gusman.
Martina nasceu em Buenos Aires em 1978, estudou Artes Combinadas na Universidade de Buenos Aires e interpretação na renomada escola Carlos Gandolfo. Em 2002, juntou-se com Pablo Trapero e fundaram a produtora de cinema independente Matanza Cine. A parceria não poderia ter obtido melhores resultados. O talento cinematográfico de Trapero tornou-se consenso e o incluiu como mais um a figurar na seleta lista de excelentes diretores da geração, assim como Lucrecia Martel, Juan José Campanella, Marcelo Piñeyro e Daniel Burman. Martina, por sua vez, ocupou-se exclusivamente da produção executiva dos filmes durante os primeiros anos da sociedade. Foi somente em 2006, com a pequena participação em "Nacido y Creado" (Pablo Trapero), que a dúvida foi semeada: a jovem não estaria atuando do lado errado da câmera? A questão se resolveu depois que dois prêmios Clarín (atriz revelação e melhor atriz) e um Sur (atriz revelação) coroaram a aposta que a levou de forma brilhante ao trabalho realizado como protagonista de Leonera (Pablo Trapero, 2008). Se neste a atriz exibe energia ao encarar o áspero papel de mãe na luta para retomar o filho, em Abutres consolida a versatilidade de sua habilidade dramática. No papel de médica, a personagem consegue denunciar a precariedade do sistema público de saúde argentino e a máfia por trás dos golpes nas seguradoras. Com maestria, Martina demonstra segurança ao lidar com a gama de sentimentos que o filme lhe exige, seja a frieza profissional frente aos pacientes, a amabilidade junto às famílias ou a incerteza diante de uma paixão comprometedora. Saber distinguir e desenvolver as nuances necessárias em cada situação só não é mais difícil que ter de trabalhá-los ao mesmo tempo em um único personagem.
De maneira semelhante ao que aconteceu com Darín durante muito tempo, a interpretação de Martina não rendeu comentários, sequer uma nota. Se não foi miopia da mídia, então parece que a seqüência de ótimas atuações passou por mero acaso. Enquanto o Oscar não chega, talvez.
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