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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As lentes particulares de Jan Troell



Um dos grandes cineastas de nosso tempo, em um pequeno perfil de Willian Silveira.

Por Willian Silveira
"Eu prefiro dizer que estive à luz de Bergman"

Tão ou mais raro que encontrar filmes que carregam a mesma assinatura na direção, no roteiro e na fotografia, é conhecer Jan Troell. O sueco nascido em Malmö, em 1931, manteve-se sempre ligado à fotografia. Ensaiou seus primeiros passos na sétima arte em 1962 ao assinar a direção de fotografia do curta "Pojken och draken" (algo como "O Menino e o Dragão"), de autoria do compatriota Bo Winderberg (1930-1997). A parceria parece ter dado certo e rendido bons frutos, o que garantiu que fosse repetida um ano depois no longa "The Baby Carriage" (Barnvagnen, 1963). A partir de então, interesses distintos fizeram com que Winderberg e Troell seguissem caminhos inconciliáveis. Enquanto o primeiro optou por dar seguimento à carreira trabalhando para a indústria do cinema e da televisão, o segundo entendeu que a única maneira de preservar a originalidade dos projetos cinematográficos era evitando que se transformassem em mercadoria à mercê dos estúdios, produtores e tantos outros interesses. Procedeu da forma que planejou e, em 1966, o isolamento - facilmente entendido por muitos como um suicídio - rendeu-lhe o lançamento de "Here's your life", adaptação de um romance dos anos 30 do poeta sueco e prêmio Nobel de Literatura Eyvind Johnson (1900 - 1976).


Não demorou muito e o reconhecimento de Troell chegou juntamente com o segundo filme, "Who saw him die?" (Ole dole doff, 1968), agraciado com cinco prêmios no festival de Berlim, incluindo o Urso de Ouro. Entre os grandes festivais, Berlim não foi uma exceção, porém pode-se dizer que foi aquele que melhor acolheu o pensamento do diretor. Em Veneza e Cannes, a filmografia do sueco não obteve grande repercussão, passando em branco no primeiro e recebendo apenas uma indicação, por "Bang!" (1977), no segundo. O Oscar, por sua vez, reconheceu em "The Emigrants" (Utvandrama, 1971) qualidades suficientes para que concorresse em 1972 ao prêmio de melhor filme estrangeiro e em 1973 – ano em que recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e melhor atriz, com Liv Ullmann – fosse indicado nas categorias de atriz coadjuvante (Liv Ullmann), roteiro, diretor e filme. Esta última, aliás, o colocou no seleto grupo de concorrentes - e da perda anunciada - de "O Poderoso Chefão" (The Godfather, Francis Ford Coppola, 1972), o grande vencedor da noite. Ainda que discreta, "The Emigrants" conseguiu a marca relevante de ser um dos oito filmes na história do Oscar a concorrer consecutivamente na categoria de melhor filme em língua não-inglesa e, posteriormente, na categoria principal.

"Momentos Eternos de Maria Larssons" (Maria Larssons eviga ögonblick, 2008) foi escolhido como o representante da Suécia ao Oscar de 2009, mas acabou não sendo selecionado pela Academia.

Mike Hale publicou no jornal The New York Times uma matéria interessante a respeito do diretor. Nela, Hale lança algumas hipóteses na tentativa de justificar o desconhecimento quase absoluto sobre Troell, apesar da carreira do cineasta ultrapassar quatro décadas. Seria a sombra de Ingmar Bergman? A resposta do diretor é leve e surpreendente, como a de quem nunca esteve vislumbrando os holofotes. Até porque se assim fosse, Troell certamente teria fracassado.

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