Um dos grandes cineastas de nosso tempo, em um pequeno perfil de Willian Silveira.
Por Willian Silveira
"Eu prefiro dizer que estive à luz de Bergman"
Tão ou mais raro que encontrar filmes que carregam a mesma assinatura na direção, no roteiro e na fotografia, é conhecer Jan Troell. O sueco nascido em Malmö, em 1931, manteve-se sempre ligado à fotografia. Ensaiou seus primeiros passos na sétima arte em 1962 ao assinar a direção de fotografia do curta "Pojken och draken" (algo como "O Menino e o Dragão"), de autoria do compatriota Bo Winderberg (1930-1997). A parceria parece ter dado certo e rendido bons frutos, o que garantiu que fosse repetida um ano depois no longa "The Baby Carriage" (Barnvagnen, 1963). A partir de então, interesses distintos fizeram com que Winderberg e Troell seguissem caminhos inconciliáveis. Enquanto o primeiro optou por dar seguimento à carreira trabalhando para a indústria do cinema e da televisão, o segundo entendeu que a única maneira de preservar a originalidade dos projetos cinematográficos era evitando que se transformassem em mercadoria à mercê dos estúdios, produtores e tantos outros interesses. Procedeu da forma que planejou e, em 1966, o isolamento - facilmente entendido por muitos como um suicídio - rendeu-lhe o lançamento de "Here's your life", adaptação de um romance dos anos 30 do poeta sueco e prêmio Nobel de Literatura Eyvind Johnson (1900 - 1976).
Não demorou muito e o reconhecimento de Troell chegou juntamente com o segundo filme, "Who saw him die?" (Ole dole doff, 1968), agraciado com cinco prêmios no festival de Berlim, incluindo o Urso de Ouro. Entre os grandes festivais, Berlim não foi uma exceção, porém pode-se dizer que foi aquele que melhor acolheu o pensamento do diretor. Em Veneza e Cannes, a filmografia do sueco não obteve grande repercussão, passando em branco no primeiro e recebendo apenas uma indicação, por "Bang!" (1977), no segundo. O Oscar, por sua vez, reconheceu em "The Emigrants" (Utvandrama, 1971) qualidades suficientes para que concorresse em 1972 ao prêmio de melhor filme estrangeiro e em 1973 – ano em que recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e melhor atriz, com Liv Ullmann – fosse indicado nas categorias de atriz coadjuvante (Liv Ullmann), roteiro, diretor e filme. Esta última, aliás, o colocou no seleto grupo de concorrentes - e da perda anunciada - de "O Poderoso Chefão" (The Godfather, Francis Ford Coppola, 1972), o grande vencedor da noite. Ainda que discreta, "The Emigrants" conseguiu a marca relevante de ser um dos oito filmes na história do Oscar a concorrer consecutivamente na categoria de melhor filme em língua não-inglesa e, posteriormente, na categoria principal.
"Momentos Eternos de Maria Larssons" (Maria Larssons eviga ögonblick, 2008) foi escolhido como o representante da Suécia ao Oscar de 2009, mas acabou não sendo selecionado pela Academia.
Mike Hale publicou no jornal The New York Times uma matéria interessante a respeito do diretor. Nela, Hale lança algumas hipóteses na tentativa de justificar o desconhecimento quase absoluto sobre Troell, apesar da carreira do cineasta ultrapassar quatro décadas. Seria a sombra de Ingmar Bergman? A resposta do diretor é leve e surpreendente, como a de quem nunca esteve vislumbrando os holofotes. Até porque se assim fosse, Troell certamente teria fracassado.
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