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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

To wear or not to wear, that's the question


De fora as gafes mais bizarras - como vestir sapatos de pés trocados - estamos sempre, homens e mulheres, tentando nos vestir adequadamente. O adequado não é o mais caro: é o decoroso. Existe um decoro que não o parlamentar, evidentemente, e aquele do bem vestir é pouco levado em conta hoje em dia. Maria Celina ajuda a entender a questão.

Por Maria Celina Godilho

Fui a um Tribunal há uns dias e fui barrada por não estar vestindo blazer, embora estivesse com roupas decentes. Eles estão corretos?

Para qualquer profissão, há um código de vestimenta, ou pelo menos regras do que NÃO usar no ambiente de trabalho. Por exemplo, decotes enormes, muito brilho, sandálias abertas ou roupas muito justas são proibidos. E isso para qualquer profissão mesmo, não apenas para aquelas mais formais, como as jurídicas.

No entanto, o que eu vejo (apoiada por outras pessoas de bom senso que vêem o mesmo) nos tribunais é a completa subversão dessa regra de bom senso de moda e estilo. Homens que usam o terno bem desalinhado, a gravata descombinante e outras bizarrices. Mas eles são mais fáceis de consertar - basta mudar um detalhe aqui ou ali e pronto, já ficam mais arrumadinhos.

As mulheres, no entanto, ou pensam que vão imediatamente do trabalho ao happy hour, ou pensam que já estão no evento; usam roupas de alças, decotes constrangedores, muita maquiagem (ou nenhuma), saltos-agulha (nem parece que precisam carregar bolsa pesada + processo e ainda se equilibrar em salto bem alto).

É interessante reparar como essas meninas não pensam que estão em pleno pecado de moda. Para elas, provavelmente, esse tipo de roupa as "valoriza", como se o uso de uma roupa mais clássica, menos reveladora, não as valorizasse tanto ou até mais, pois imporia mais respeito, em um mundo profissional onde imperam (imperavam?) tradições e intelectualidades. Provavelmente elas não querem esse tipo de respeito; querem ser admiradas por aquilo que estão mostrando, talvez até com certa ingenuidade e carência (para algumas; outras são bregas mesmo e aí não há Costanza Pascolato que resolva).

Esse tipo de roupa atenta à liturgia da profissão e é claro sinal de desrespeito às instituições jurídicas (ou, ao menos, às mães que, um dia, ensinaram moda decente às suas filhas). Em tribunais, a tradição é tanta que se exige o uso de toga para dirigir a palavra ao ministro. Aliás, esses também devem usar uma capa ou toga, tradicionalmente, em respeito à liturgia do cargo.

Sobre a exigência do uso do blazer. Também fui barrada um dia desses pois estava de vestido de mangas compridas, mas sem blazer. Há uns 2 ou 3 anos, o blazer só era obrigatório quando se usava calça - isso depois que o terninho foi admitido em alguns tribunais, pois antes só se podia assistir às sessões de saia ou vestido. Mesmo que esteja um calor dos trópicos, seca opressora, umidade extrema, quem trabalha nesse mundo deve se submeter às exigências tradicionais, com o uso de blazer para se assistir às sessões. E isso sequer é uma exigência absurda.

Exigência absurda era uma antiga chefe, que determinava que as estagiárias deveriam usar meias finas para não mostrar a pele do pé. Esse tipo de exagero, embora passado, é o outro lado da questão - levar ao extremo uma tradição e liturgia que não se justificam.

Em resposta, eles - o cerimonial do Tribunal - estão corretos, sim. Só podiam deixar isso bem público, pois não é todo dia que vamos aos tribunais nem usamos terninho ou tailleur. Mas essa determinação é necessária para evitar exageros pelas meninas que acham que já estão no happy hour às 14h.

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