Por Leandro Oliveira
"Amusing Ourselves to Death" é um livro do teórico da comunicação Neil Postmam - que teria inspirado, entre outros, o disco do Rogers Waters ("Amused to Death"). Em sua introdução, uma exploração notável:
Nós mantínhamos os olhos em 1984. Quando o ano veio e a profecia não se concretizou, americanos inteligentes cantaram cheios de orgulho sobre si mesmos. As raízes da democracia liberal vencera. Em alguns lugares o terror acontecera mas entre nós, ao menos, não houve a visita do pesadelo orwelliano.
Mas esquecemos que ao lado da visão pessimista de Orwell havia outra - um pouco mais velha um pouco menos conhecida, igualmente terrivel: "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley. Ao contrário da crença comum entre as pessoas educadas, Huxley e Orwell não professavam a mesma coisa. Orwell previa que nós seríamos obliterados por uma opressão imposta e externa. Mas na visão de Huxley, nenhum Big Brother é necessário para tirar das pessoas sua autonomia, maturidade e história. Como ele via, as pessoas iriam amar sua opressão, adorar as tecnologias que retirariam delas suas capacidades de pensar.
Orwell temia aqueles que queimam livros. Huxley temia que não houvesse mais motivos para banir livros, pois não haveria ninguém que os quisesse ler. Orwell temia aqueles que desejavam nos negar informação. Huxley temia que tivéssemos tanta informação que estaríamos reduzidos à passividade e egoísmo. Orwell temia que a verdade nos fosse afastada. Huxley temia que a verdade fosse jogada em um mar de irrelevância. Orwell temia que nos tornássemos uma cultura cativa. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura trivial, preocupados com bobagens (feelies, the orgy porgy, and the centrifugal bumblepuppy, no original). Como Huxley aponta, no seu Brave New World Revisited, os libertários e racionalistas que sempre estiveram atentos a opor-se à tirania, "falharam em levar em consideração o apetite monstruoso do Homem por distrações". Em "1984", Huxley comenta, pessoas são controladas pela dor. Em "Admirável Mundo Novo" elas são controladas pelo prazer. Em resumo, Orwell temia que aquilo que odiamos nos arruinaria. Huxley temia que aquilo que amamos fosse nossa ruína.
Um comentário:
Textaço!
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