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sábado, 30 de outubro de 2010

Monteiro Lobato e o politicamente correto


Parafraseando Augusto Nunes, de nossa "Era da Mediocridade" não escapa sequer o pai do Jeca Tatú... Recentemente é Monteiro Lobato, aquele do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que recebe censuras do politicamente correto. Fernanda Vaz, sempre altiva e educada, não se conteve e entrou na briga ao lado do pai da Narizinho.

Por Fernanda Vaz

Os que me conhecem minimamente sabem que não sou lá a pessoa mais dada a discutir atualidades, especialmente se estiverem de alguma forma relacionada a governos ou política. Digo isso sem temer críticas - a mim faz bem deixar de ler o "Times" para ler as "Eternities", como recomendava Henry David Thoreau, e assumo certo nível de alienação sem maiores conflitos de consciência.

Há certas coisas, entretanto, que nem a mais blasé das almas consegue ignorar. Uma delas é a proposta do Conselho Nacional de Educação de banir das escolas brasileiras o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. É redundante falar sobre a importância das obras de Monteiro Lobato para a literatura brasileira, sobre o valor de seus livros para a alfabetização, sobre o enriquecimento de linguagem que proporcionam (posso citar de memória pelo menos meia dúzia de palavras que lembro ter aprendido, na infância, lendo as Memórias da Emília) ou, last but not least, sobre o universo rico, imaginativo e estimulante que é o Sítio do Pica-Pau amarelo. "As Reinações de Narizinho" e "Os Serões de Dona Benta" foram parte importante da infância dos meus pais, da minha própria e de muitos brasileiros mais.

Pois bem, parece que agora uma tal de Secretaria de Alfabetização e Diversidade resolveu dizer que o livro só pode ser usado quando o professor tiver "a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil". Não sei você, leitor, mas a mim parece que essas pessoas acham que se um professor citar tia Nastácia se esquecendo dos reumatismos e "trepando feito uma macaca de carvão", as crianças vão automaticamente começar a zombar dos colegas negros. Essa, entretanto, não é nem de longe a questão principal - o autor comparou a personagem a uma "macaca de carvão". Suponhamos que fosse Dona Benta a trepar, digamos, em uma árvore, esquecendo-se de qualquer limitação física: imagino que a comparação seria mudada de "macaca de carvão" para "macaca de açúcar" ou "macaca de algodão", porque para mim é evidente que a palavra relacionada à cor da pele da personagem é "carvão", não "macaca". O animal só tem relação com o ato de subir em algo com agilidade.

Mas as pessoas do Conselho Nacional de Educação parecem não saber ler. Acho que os cérebros ali funcionam como computadores simples que têm armazenadas certas palavras-chave e fazem soar o 'alarme vermelho' sempre que as encontram, seja qual for o contexto. E vejam, não são algumas pessoas - o caráter racista da obra foi aprovado por unanimidade na Câmara de Educação Básica e no CNE. Lá, caros meus, se encontram dez, vinte, trinta, cinqüenta, sabe-se lá quantas pessoas que não sabem ler. Que, lendo Monteiro Lobato, não conseguem encontrar nada além de suposta desigualdade racial. O quão assustador é isso?

Uma acusação de racismo mais absurda ainda está no outro trecho citado pela matéria d'O Globo, onde se lê "não é à toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens". Esta é uma frase que não é nem passível de análise - posso revirá-la e lê-la quantas vezes for, que não consigo ver onde está o racismo. Tivesse Monteiro Lobato comparado os macacos faladores de besteiras aos homens negros, a crítica seria compreensível, mas ele só fala de homens. Os narradores do Discovery Channel que tomem cuidado, porque daqui a pouco a simples menção a um símio vai configurar racismo.

Diz o velho ditado que a maldade está em quem a vê, e esse é um clássico caso de racismo in the eyes of the beholder. Não vou nem falar da mentalidade simplista, politicamente correta e burrinha dos órgãos que decidem o que deve ser feito nas escolas, pois isso a essa altura do campeonato já deve ser bem óbvio. Só o que há para dizer é que talvez Monteiro Lobato estivesse mais certo do que nunca. Certos macacos e homens (brancos, negros, amarelos, azuis ou magenta com bolinhas verdes) são parecidíssimos mesmo - só dizem (e fazem) bobagem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dizem, fazem bobagem, e estão no CNE coordenando o que podemos ler.

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