Não sou purista - alguma graça há de ter em ser brasileiro. Acho que gosto é o que se discute (by whom?) e tomo o cuidado permanente de não considerar que amar canzone napolitane cantadas por Roberto Murolo e o Pli Selon Pli do Pierre Boulez fazem de ambos expressões da mesma grandeza: minhas simpatias e antipatias não podem - e Deus sabe como não! - ser critério para organizar o mundo. Sou muito falho para isso.
Então não me envergonho de quase ter uma epifania ouvindo as "Variações sobre um Tema de Haydn" de Brahms e, no dia seguinte, ouvir essa coisa extraordinária do James Brown que é a gravação "Doing it to Death". Extraordinária sim: o registro permite a preservação de alguns dos elementos mais caros à performance em qualquer tradição musical: espontaneidade e liberdade, timing, senso "esportivo"... É uma versão de treze minutos, uma espécie de jam-session funky para apresentação de sua banda.
Além do teatro de "reconhecimento" dos músicos no estúdio, eles fazem coisas como modular para outro tom (como quando Brown comenta que para ir "down" ele precisa do "D", que é o nosso latino Ré") e brinca com o "F" de Fá ser o ponto de partida para "Freedom" - a última parte, em estilo livre, da peça.
Para desfrutar o dia de sol deslumbrante do sábado em São Paulo (aliterações, para que te quero...).
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