sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Se ela pensa eu danço
Paola Braga é nossa infiltrada no mundo da dança, escrevendo de Paris. Entre as expressões artísticas contemporâneas ocidentais, a dança é sem dúvida a que mais abriga modismos oportunistas e imposturas pós-modernas de maneira desfaçatada. Ruim para arte, péssimo para todos nós que amamos esta tradição tão universal. Não deixa de ser um sintoma de nosso tempo - um sintoma enigmático que Paola nos ajudará a decifrar.
Por Paola Secchin Braga
Quando converso com as pessoas aqui na França, onde moro, elas me perguntam por que vim para cá. Eu respondo que vim fazer um doutorado em dança e espero, já sem conter um sorriso no canto dos lábios, a reação de sempre: doutorado em dança?!?! Como assim? Isto existe? Mas dança é uma disciplina prática, como pode existir um doutorado em dança? O que se faz num doutorado em dança? E depois, o que você faz? E por aí vai. Isto já aconteceu incontáveis vezes!
Mas, sim, há graduações, mestrados e doutorados em dança. Sim, há produção intelectual sobre a dança. Hoje a dança, além de dançar, também pensa – e muitas vezes pensa mais do que dança. Não que ela não pensasse antes mas sua produção estava cheia da inocência e romantismo típicos de qualquer disciplina que está começando a se conhecer. Depois de alguns séculos de definições, redefinições e contra-definições, aos pouquinhos, começou a surgir um pensamento crítico na dança, sobre a dança, pela dança e para a dança. E até contra ela! Afinal, para se ter fogo é necessário um certo atrito, não?
Vimos surgir, especialmente, um pensamento de dança feito pelos que se definem como “alguém de dança”. Como muito bem disse Roberto Pereira – e que falta ele nos faz! –, “ser 'alguém de dança’ passa a ser um viés que precisa ser levado em conta ao longo de todo esse texto. ‘Alguém de dança’ pensado como um ofício.”
É deste lugar do ofício de ‘alguém de dança’ que passo a escrever aqui, oportunidade gentilmente criada por Ocidentalismo.org. A proposta é ampla, a estrada pode se bifurcar e tomar caminhos imprevistos. A aventura pode se tornar interessante. Abre-se mais um espaço – e eles são ainda raros – onde se poderá falar desta dança que pensa, anda e se move por suas próprias pernas.
Sejam bem vindos!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário