"The Ambassadors" (1533). Hans Holbein, o Jovem (1597 - 1543) |
por Fernanda Vaz
Fiz um blog para colocar só as traduções do Mabinogion e não atolar essa página com textos gigantes. Estão lá os dois contos do primeiro ramo. Vejam, vejam!
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Percebo cada vez mais que meu gosto por História é majoritariamente anedótico e pitoresco. Sou eu aquela pessoa que decora toda a linhagem e as fofoquinhas de corte dos Tudor, mas não faz a mínima idéia de como foi o reinado de Henrique VIII politicamente para a Inglaterra.
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Das minhas andanças pelo Google Art Project:
Com a qualidade enorme do zoom e um alemão bem chulé, pude descobrir qual é a música que está escrita escrita no livro: um coral luterano chamado Komm, Heiliger Geist, Herre Gott, cuja melodia J.S. Bach utilizou na Cantata BWV 59 e no Moteto BWV 226.
Esse quadro é um verdadeiro mundo. Poderia falar milhares de coisas dele e o post ficaria enorme antes mesmo que eu pensasse em citar a caveira anamórfica na parte inferior - sim, notem aqui, aquela coisa esquisita e branca pairando no chão na diagonal é uma caveira pintada para ser vista de um determinado ângulo. Dizem uns que o Holbein a botou ali só pra mostrar como era um pintor danado de habilidoso; outros dizem que a pintura foi feita para ser pendurada na parede de uma escada, para que a pessoa que estivesse subindo e olhando a pintura da sua esquerda tomasse um belo dum susto. É claro que acredito na segunda teoria, porque é mais legal e eu gosto de acreditar nas coisas que me parecem mais legais (A música das esferas, por exemplo).
Não à toa falei que o quadro é um mundo, também - há os que sugerem que na estante estão três planos representados: os céus (representados pelos objetos astronômicos e científicos na parte de cima), o mundo dos humanos (identificado pelos livros e instrumentos musicais) e a morte (a tal caveira, é claro, mas eu também notei que há um alaúde jogado debaixo da estante). Tem mais milhares de detalhezinhos deliciosos de se ver - o padrão dos ladrilhos do chão teria sido retirado da Abadia de Westminster. O alaúde ao lado do livro com o coral que identifiquei tem uma corda quebrada, o que é considerado símbolo de discórdia. Os dois homens retratados foram identificados como Jean de Dinteville, embaixador da França na corte de Henrique VIII em 1533, e Georges de Selve, um religioso que se tornaria bispo de Lavaur no ano seguinte à pintura. No livro sob o qual de Selve repousa o cotovelo se lê AETATIS SVAE 23, que significa que ele teria 25 anos de idade. Já na adaga de Dinteville lê-se que tinha 29 anos. O livro perto do globo terrestre é um livro de aritmética comercial de Petrus Alpianus, e está aberto numa página que demonstra a divisão. Há um esquadro e um compasso, que junto com os instrumentos musicais e os objetos científicos, remetem ao Quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).
Com todas essas informações a coisa mais óbvia é ficar se perguntando o que quis dizer o Holbein com esse monte de parerga (elementos adicionais à obra de arte, que a embelezam mas ao mesmo tempo estão em conflito com ela). Este artigo faz uma análise bem detalhada e completa de todas as alegorias, contrastes e idéias contidas na pintura - mostra inclusive que todos os objetos astronômicos indicam a data 11 de Abril de 1533, Sexta-Feira Santa, o que fez com que aumentasse mais ainda meu fascínio pelo detalhismo e genialidade do pintor.
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Se meu gosto por história é baseado em pequenos detalhes e sutilezas, a razão não é outra que não o fato de meu gosto por arte obedecer à mesma regra. Da ornamentação do barroco até os milhares de detalhes e alegorias numa pintura - acho que por mais que passeie por outras correntes, sempre vou gostar mesmo é de um "Onde está Wally" highbrow.
Retirado de Apfelsaft.
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