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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Che lavoro!

por Leandro Oliveira

Tanto trabalho - de tão alta qualidade - que o ano parece já estar no meio. Eduardo Wolf, por sua vez, segue na mesma toada, traduzindo e produzindo sobre originais gregos. Apenas Julio Lemos, o mais inteligente entre nós, parece estar tranqüilo com seu doutorado, traduções, artigos científicos e pesquisas matemáticas.

Finalizando um dos ensaios que escrevo, para Osesp, releio a biografia de Lorenzo da Ponte (1749 - 1838), libretista que trabalhou com W.A.Mozart nas deliciosas "Nozze de Figaro", "Don Giovanni" e "Cosí fan Tutte". De um trecho pertinente, faço uma tradução às pressas, só para ilustrar:

Imaginava que fosse o momento de reanimar a veia poética, que me parecia seca de todo, quando finamente escrevi para Reghini e Peticchio. Me apresentaram à ocasião os três maestros Martini, Mozart e Salieri.

Uma vez vieram os três pedir-me um drama. Eu os adorava e esperavam, os três, um ajuste de contas com meu passado, algum incremento de minha pequena glória teatral pretérita. Pensei que não seria possível satisfazer a todos os três, fazer três óperas de uma vez. Salieri não pedia um drama original; havia escrito de Paris a música à ópera "Tarar", e queria reduzi-la ao caráter do drama e música italiana, me pedindo então uma tradução livre. Mozart e Martini deixavam-me escolher livremente.

Escolhi para Mozart "Don Giovanni", assunto que o interessava infinitamente, e "L'arbore di Diana" para Martini - a quem queria dar um argumento sensível, adaptável à suas melodias dulcíssimas que se sentem na alma e poucos sabem imitar. Encontrados estes três argumentos fui ao Imperador, lhe coloquei o que pensava, e informei-o da intenção de fazer estas três óperas contemporaneamente.

«Non ci riuscirete!» me respondeu ele. "Talvez não", respondi, "mas vou me colocar à prova. Escreverei à noite para Mozart, e o farei lendo o "Inferno" de Dante. Escreverei pela manhã para Martini, e me colocarei a estudar Petrarca. À tarde para Salieri, e será o meu Tasso." Achou muito bonito o meu paralelo; assim que cheguei em casa, me pus a escrever. Fui à escrevania e lá fiquei doze horas seguidas. Uma pequena garrafa de "tockai" à direita, uma caixa de tabaco de Sevilha à esquerda. Uma bela menininha de dezesseis anos (que teria amado como uma filha, mas...) que tinha sob sua responsabilidade a família estava na minha casa com sua mãe, e vinha no meu quarto a cada soar de campanhia - que na verdade eu tocava muito freqüentemente, principalmente quando me parecia que a criatividade começava a esfriar-se. Ela me trazia alguns biscoitinhos, uma taça de café ou nada mais que seu belo rosto, sempre matreiro, sempre sorridente e feito ao ponto para inspirar a criatividade poética e as idéias espirituosas.

Eu seguia os estudos por doze horas seguidas cada dia, com breve intervalos, por dois meses contínuos, e por todo este espaço de tempo ela seguiu no quarto ao lado, ora com um livro em mãos, e ora com agulha e bordado, pronta a vir ao primeiro som de campanhia. Por vezes, sentava-se perto sem mover-se, sem abrir a boca ou piscar os olhos, me olhava fixamente, sorria levemente, suspirava de vez em quando e às vezes parecia querer chorar: à corte, esta menina foi minha Calíope para aquelas três óperas, e foi depois por todos os versos que escrevi pelo período de outros seis anos. Desde o início eu que permitira com alguma freqüencia as visitas, tive que, finalmente, torná-las menos freqüentes, para não perder muito tempo em carícias amorosas, das quais ela era professora perfeita. O primeiro dia no entanto, entre o "tockai", o tabaco de Sevilha, o café, a campainha e a jovem musa, eu escrevi as duas primeiras cenas de "Don Giovanni", outros dois de "Arbore Diana" e mais da metade do primeiro ato de "Tarar", cujo título eu troquei para "Assur". Eu levei pela manhã essas cenas aos três compositores, que quase não quiseram acreditar que fosse possível aquilo que com os próprios olhos liam, e em sessenta dias as duas primeiras óperas foram completamente concluídas, assim como quase dois terços da última.


Fico a imaginar que deste período febril tenha saído o texto para maravilhas como

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