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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Filosofia no Esquadrão da Moda



Em tempos de Big Brother - o da Globo, não do Orwell - boa parte de nossa produção cultural está voltada para este incrível mundo do reality shows. Joel faz uma incursão a um destes tantos do gênero que ocupam nosso espaço televisivo. As conclusões (antropológicas?) são surpreendentes.

por Joel Pinheiro da Fonseca

Andei vendo uns reality shows de moda. Não me julguem; há jeitos piores de se passar uma noite. Funcionam assim: apresenta-se uma mulher que definitivamente não sabe se vestir; um bagaço desalinhado, enfim, a mess. Acontece que, em geral, ela já está conformada a feiúra e cheia de inseguranças quanto a seus defeitos, embora não saiba o que fazer.

Entram os experts em moda, reviram o guarda-roupas dela, ensinam-lhe o que vestir e como se apresentar, levam-na para umas comprinhas por conta da produção (o atrativo do programa para quem participa é exatamente esse) e, no final das contas, voilà, o bagaço virou mulher, em geral bonita.

O melhor desses programas é o do Tim Gunn, designer que basicamente eleva a moda ao patamar de ciência. Analisando o tipo físico da mulher, é capaz de mostrar a ela os efeitos que diferentes tipos de roupa têm sobre seu físico, o que ela deve evitar e o que deve usar. Um corpo mais cheinho e baixo não vai bem de calça capri, que cria a ilusão de ser ainda menor; as “back-flaps” pouco atraentes são causadas pelo tipo de sutiã usado; um modelo diferente elimina o problema. Enfim, cada mulher tem pontos relativamente mais fortes ou fracos, e a boa roupa é aquela que sabe usar os bons e atenuar os fracos.

Claro que minha apreciação desse tipo de entretenimento é puramente filosófica. O que um programa como esses grita com todos os pulmões? Uma mensagem, olhem só, conservadora: a beleza é objetiva; gosto se discute; há acertos e erros em se tratando de roupa. A feia do começo sempre tem algumas justificativas para o atual estado deplorável: “É o meu estilo; não sigo a moda”; “Sou assim e não tem jeito; não existem roupas para o meu tipo físico”; pseudo-justificativas, que mal e mal escondem profundas inseguranças acerca da própria aparência e de auto-estima.

A própria mulher, inicialmente relutante (depende do caso; algumas estão cientes de seus problemas desde o início), reconhece o progresso e vê como suas justificativas, seus flertes com um relativismo estético, eram espúrias. Vestir-se mal não é estilo; é falta dele.

No final das contas, não há mulher que não possa ser bonita. Claro, existem aquelas com deformidades muito gritantes; fora essas, todo mundo tem um potencial a ser explorado e que pode chegar a bons patamares de beleza. O que ajuda, inclusive, a viverem melhor, ao melhorar a auto-estima da pessoa (que não é gabar-se de méritos inexistentes, mas reconhcer em si um potencial para grandes coisas). O resultado é entretenimento enriquecedor e que ainda oferece algo de sabedoria prática que pode ser utilizado na própria vida (há versões masculinas dos programas, mas em menor número e menos memoráveis; pois a diferença entre o homem desleixado e o alinhado, embora grande, é minúscula se comparada à que existe entre a mulher-bagaço e a elegante).

As meninas da FFLCH poderiam se beneficiar muito da consultoria de um Tim Gunn. Algumas são muito bonitas, de forma que nem as roupas velhas e rasgadas, o cabelo ensebado, as sobrancelhas selvagens e o pé sujo conseguem enfeiar. Outras, coitadas, dão tristeza à vista. Bastaria um olhar externo de alguém que entende do assunto para, com alguns toques determinados, ajudá-las imensamente. Quem sabe até a ideologia venenosa que alimenta e é alimentada pela feiúra do ambiente enfraquecesse um pouco...

Retirado de Terra à Vista.

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