Arquitetura e suas agruras modernistas... uma pequena reflexão.
por Joel Pinheiro da Fonseca
Certas formas de arte são mais passíveis de experimentos do que outras. Pense num quadro. O sujeito vai ao museu, olha a chocante aberração por uns dois minutos, acha que gostou e volta para casa. Com música é mais difícil; poucos se dispõem a aturar meia-hora que seja num concerto dodecafônico; na hora de encher as salas de concerto, são os barrocos, clássicos e românticos que salvam a orquestra.
Na arquitetura, por outro lado, pouco pensamos, embora ela interfira muito no nosso dia-a-dia e bem-estar. O suposto princípio da arquitetura moderna é a submissão da forma (aparência) à função. O problema é que a função pensada pelos arquitetos-artistas do século XX não era, muitas vezes, a vida normal e natural do ser humano, mas a vida que o homem por eles sonhado deveria ter.
Há uns dois anos foi disponibilizado no Google Video a série de documentários How Buildings Learn do escritor Stewart Brand cujo principal interesse não é com a fotografia do prédio na revista ou com as inovações da planta, e sim em como o prédio se adapta à vida humana e como, em consequência disso, ele muda ao longo dos anos.
“Na Bibliotèque Nationale, as notórias torres de vidro mostraram-se muito quentes para os livros lá dentro. Um dia de sol forte e eles assariam. Venezianas de madeira tiveram de ser adicionadas por todo o prédio, aumentando em muito os custos da construção.” No todo, a manutenção do prédio é tão cara que as autoridades tiveram que diminuir o orçamento da compra de livros.
A vida humana segue independente dos delírios grandiloqüentes de um Corbusier (ou de um Niemeyer); e se a tomarmos como critério, então as obras mais louvadas publicamente são também as menos úteis, as mais caras de se manter e as mais difíceis de se adaptar a novos usos e tecnologias. Prédios menos vistosos são frequentemente superiores; dê a eles alguns séculos, e uma obra-prima emerge das incontáveis alterações.
Retirado de Dicta.com.br.
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