sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
O nosso Cinema Paradiso
por Leandro Oliveira
Não sou de São Paulo, não pude ter qualquer relação de afeto com o Cine Belas Artes. Na verdade, quando me transferi para a cidade o espaço era já um aglomerado pouco charmoso de salas de exibição ligeiramente desconfortáveis - o acesso ao andar superior era bizarro, e em caso de eventualidades, sem qualquer escape de emergência.
Quanto à programação, sinceramente, nada que o diferenciasse dos demais cinemas de shoppings - muito mais apropriados e modernos. A exceção, notável, eram as sessões noturnas que até pouco tempo levavam à madrugada da cidade alguns clássicos. Mas sinceramente, nem sei se o projeto seguia funcionando.
Não sou a favor de que siga a qualquer custo. O cheiro de decadência me causa urticárias e disputando lugar com outros cinemas comerciais o Cine Belas Artes seria sempre um lugar decadente - pouco charmoso e sem funcionalidades como um bom café ou estacionamento. E se existem lugares mais qualificados e rentáveis, com programações mais criativas ou recursos mais adequados ao mercado atual, por que não deixar que eles explorem o mercado?
Isso tudo para dizer que lamento o fechamento do Cine Belas Artes provavelmente por motivos diferentes dos meus amigos: lamento que um espaço público de cultura não consiga se re-inventar e, no caso do Belas Artes, que não consiga ter uma atuação condizente com sua capilaridade social.
Espaços de cultura devem seguir as leis naturais da economia - a administração da melhor aplicação de recursos escassos. Desde o anúncio da quebra do contrato com seu patrocinador, o Cine Belas Artes, infelizmente, ficou à deriva com um modelo de negócios que não tinha a menor intuição de uma vocação diferenciada para exploração de seu espaço e marca, seguindo com sua programação errática. O dono do prédio não precisa se fazer de santo e acho um absurdo que lhe tirem o direito de melhor explorar o lugar.
Em caso de tombamento, talvez o espaço pudesse ser agora uma espécie de posto avançado da Cinemateca... mas isso, é claro, dependeria de tantos fatores que meu medo é que antes se tornasse uma idéia grotesca, um cinema ao estilo "Adeus Lênin". Mas acho um final melancólico, de qualquer maneira, o tombamento.
Arre, arre! A morte mais digna para uma iniciativa de cultura com a qual temos afeto genuíno é a que permita as boas recordações e a esperança que em algum momento futuro o projeto renasça das cinzas.
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