quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Teclas e tipos
Hábitos que seguem como automatismos? Mesmo a indústria os tem. É o que fala - entre outras coisas - Joel Pinheiro da Fonseca.
por Joel Pinheiro da Fonseca
Até as coisas com as quais convivemos todo o dia e sobre as quais nunca pensamos têm uma história; às vezes longa. Olhe à esquerda do seu teclado. O que você vê aí, em cima da tecla Shift? Deve haver uma Caps Lock. Você provavelmente não usa o Caps Lock; ninguém mais, fora comentadores irados e gente com pouca familiaridade com o computador usa essa tecla. E você sabe como ela foi parar aí? Pois ela antecede o computador, tendo nascido junto com o Shift, no século XIX, para facilitar a vida dos datilógrafos; agora parece que vai se aposentar.
Outro legado das máquinas de escrever é o mau hábito de se usar dois espaços depois de um ponto. Como as máquinas até os anos 70 do século XX, por restrições tecnológicas, usavam apenas tipos mono-espaçados (nos quais cada caractere utilizava o exato mesmo espaço; ao contrário dos tipos proporcionais, nos quais, por exemplo, um “i” ocupa menos espaço que um “M”), era necessário dar um espaço duplo depois do ponto para marcar bem a separação dos períodos. Infelizmente o hábito pegou e muita gente continua a usá-lo, indo contra o consenso estabelecido por séculos de experiência tipográfica. Uma Times New Roman (criada nos anos 30 para o "The Times" de Londres), que é das fontes mais usadas, é proporcional.
A propósito, vocês sabem por que ela se chama Roman? A resposta remonta à Renascença. Os humanistas, horrorizados com as fontes góticas, descobriram o que eles acreditaram ser manuscritos escritos com os tipos dos antigos romanos, e batizaram as fontes daí criadas com o nome de romanas. O que eles não sabiam, contudo, era que os tipos nos quais se baseavam eram as minúsculas carolíngeas, criadas muitos séculos antes, mas igualmente medievais. Até hoje prestamos homenagem ao orgulho renascentista e colhemos os frutos da inovação medieval.
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