por Julio Lemos
“Remember me as a time of day” é a frase que serve de título para uma música do Explosions In The Sky. Uma espécie de leitura de “Love Will Tear Us Apart” do Joy Division ao lado das Escrituras — pois João Evangelista, o Εὐαγγελιστής Ἰωάννης, lembra-se do exato horário do dia em que conheceu Christo. É como se tivesse entendido, nas entrelinhas, que lhe dissera o messias algo como: «Lembra-te de mim como uma hora do dia».
Provavelmente João morreu velhinho, lá pelo ano 100, em Éfeso. Suas últimas lembranças talvez fossem nesse sentido — a memória da hora do dia: Christo como uma sensação, uma categórica percepção do Tempo qualitativo. Os coptas lembram-se de João como um dia em seu calendário: 2 de janeiro. Entre nós, 27 de dezembro.
Também me lembro das pessoas como um dia e uma hora. As três da tarde — momento em que escrevo isto aqui — é o time of day de uma pessoa querida que desapareceu. Encontramo-nos pela primeira vez a essa hora na esquina da Haddock Lobo com a Luís Coelho. Está tudo registrado — e não desaparecerá.
Sem ter me treinado a isso — é uma aptidão da memória bastante comum –, lembro-me das frases de um livro por sua posição na página. Basta dizer “fulano diz isso no livro tal” que, se tiver lido a obra, sei dizer a posição da frase no espaço tipográfico. Ou todos sabemos. Não me parece nada incomum.
“Uma hora do dia” e “posição na página” — espaço e tempo: x, y, z e t.
Depois da explosão do Big Bang ou de algo semelhante, se explosão houve, é assim que localizamos os nossos amores.
Retirado de Feliz Nova Dieta.
Um comentário:
Julio Lemos, você é um louco!
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