por Leandro Oliveira
Quase nunca me pergunto sobre o porquê deste site. Se é verdade que aquilo que fazemos é antes resultado de nossas parcas opções, conscientes e portanto morais, sem dúvida mas, à luz da ordem maior em que tragicamente vivemos, irrelevantes, cada ato é uma banalidade. Por conta disso, me abstenho da pergunta exatamente como alguns covardes abstêm-se de Deus (não digo que todos o fazem por covardia, mas boa parte, sim). Faço porque faço e isso é suficiente.
É uma banalidade este site mas dito assim, temo sugerir algo como um
hobby, passatempo de horas desocupadas, coisa de poeta. Nada mais falso. É que, no caso, aquilo que para alguns é ato de fé, projeto de vida ou desejo, para mim é simples dever profissional.
Sou um profissional de uma área ainda pouco relevante no Brasil que é a gestão cultural. Desde muito cedo, logo depois de terminar meus estudos de regência de orquestra e vir trabalhar em São Paulo, foi para onde minha carreira encaminhou: elaborar, planejar, coordenar e administrar projetos culturais. Desde então, passaram-se anos cheios de bons e maus momentos como toda atividade profissional. Meu temperamento de empreendedor me fez perceber uma demanda crescente para cultura de alto nível. É para esta demanda que bolei o site.
É tão falsa a prerrogativa que cultura de qualidade precisa de dinheiro quanto romântica a de que as seus produtores não precisam dele. O ato poético é desprovido de necessidades financeiras tanto quanto o poeta precisa pagar suas contas. O problema parece ser estarmos em um mercado especial onde tradicionalmente o que vale é uma estratégia de financiamento grotesca, tão deletéria quanto as "benesses" governamentais. Chamo "a estratégia da marchinha": quase todos da cultura no Brasil ainda pensam sua atividade na forma do "ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí". A música, conquanto divertida, tem rima pobre e, como estratégia de financiamento, um médio prazo desgraçado.
A economia criativa e os produtos culturais hoje são máquina que move bastante dinheiro; tomar a atividade como a dos itinerantes indigentes é, antes, ignorar que hoje nosso nicho, em todos os níveis de qualidade e atividades, é parte de uma das mais pujantes indústrias do século XXI. O conhecimento por mais erudito que seja, como todo produto cultural, não é uma coisa sacrossanta a ser jamais misturada ao vil metal - acabamos confundindo conhecimento de alto nível com experiência mística.
Poucos profissionais podem furtar-se em saber que, conquanto haja controvérsias em economia, tanto quanto as há em ciência, como diria Thomas Sowell "isso não quer dizer que economia seja apenas uma questão de opinião". E uma das regras clássicas da economia é que há o preço das coisas e o preço deve ser entendido como o regulador "dos usos alternativos de recursos escassos". Em uma economia livre podemos inferir aquilo que os consumidores querem, a quantidade e a qualidade daquilo que querem, exatamente a partir pela forma como valoramos o produto. No Brasil hoje não existe produto mais escasso que cultura de alto nível, e nunca houve tanta demanda.
Não falta, curiosamente, gente com apetite para explorar o mercado, gente com
expertise para tornar interessante aquilo que costuma ser pensado como "bem de altar". Para a "Norte" do mês passado escrevi um artigo a respeito. Comentava ali que alguns projetos como a Livraria Cultura e a Osesp, mas também a Dicta&Contradicta e as aulas do professor Olavo de Carvalho, são bem sucedidos exatamente pela falta de pudor em mirar alto. A Livraria Cultura não precisou se tornar especialista em auto-ajuda, o professor Olavo fala para turmas virtuais cheias sobre Tomás de Aquino, a Dicta não precisa publicar aforismos de Nietzsche e a Osesp toca a integral de Mahler e sinfonias de Thomas Àdes. Os quatro, com modelos de negócio muito distintos, vêem ano a ano seu público crescer.
Isso é o sintoma de algo.
Se vamos conseguir ou não tornar Ocidentalismo.org um negócio viável, um projeto de credibilidade e lastro, só o mercado pode dizer. E o mercado é feito tanto pela disponibilidade de investidores e anunciantes perceberem o tamanho e a qualidade dos consumidores atuais e potenciais, quanto da capacidade de administração e senso de oportunidade nossa para fazermos estes mesmos investidores e anunciantes sentirem-se devidamente identificados com nossa missão. Além, claro, de muita sorte...
Tudo isto para dizer que por enquanto estamos experimentando coisas, mas o sonho é tornar Ocidentalismo.org a mais importante revista cultural digital do país. Não depende de nós seu sucesso, claro está, mas depende de nós o trabalho bem feito.
Não sabemos a que viemos, no sentido muito estrito em que não sabemos onde poderemos dar. Bom que seja assim posto que não acredito estar o destino escrito em qualquer parte. Mas a pontaria é nossa e, como sempre no meu caso, faço questão de mirar alto. Como disse no começo, quase nunca me pergunto sobre o porquê deste site: trata-o simplesmente como uma atividade profissional feita com o rigor de tudo que faço.
Isso tudo para dizer que para 2011 a tarefa é realizar a segunda fase da empreitada. Enormes são as expectativas. Vamos experimentar coisas diferentes (os podcasts e vídeos, finalmente!), talvez novos modelos com - oxalá! - anunciantes. Layout reestruturado é certo. Só garantimos a qualidade do que aqui vai escrito e que certamente o grosso do conteúdo seguirá gratuito.
O bom da vida é que, como no circo de antigamente, o espetáculo não para. Este é o salvo conduto dos negócios: mesmo que dê tudo errado, de fato pouco se perde - ganha-se sempre experiência e cabelos brancos. Mas
tutto nel mondo é burla. Tenho a sorte de trabalhar com o que gosto, então, para além dos cabelos brancos, algo eu garanto aos colaboradores e leitores mais fiéis: alguma diversão.