por Leandro Oliveira
O fato de ser uma espécie de "outsider" na Europa talvez explique em parte a facilidade de Igor Stravinsky transformar os grandes elementos da tradição sem perder aquilo que lhe é genuíno. Assim, ele aborda os modelos ocidentais com certa neutralidade ou distanciamento, "objetos estrangeiros" manipulados sob novos pressupostos - sólidos mas originais. É o que vemos a respeito de seu "Concerto para Violino", por exemplo, e ilustrado pela "nota de programa" do próprio Stravinsky, extraída de Dialogues and a Diary:
O Concerto para Violino não foi inspirado ou modelado por nenhum exemplo. Eu não considero que os concertos de violino padrão - aqueles de Mozart, Beethoven, Mendelssohn ou mesmo Brahms - estejam entre as melhores obras de seus compositores. (O concerto de Schoenberg é uma exceção, mas dificilmente seria considerado um concerto-padrão). Os subtítulos de meu Concerto - Toccata, Aria, Capriccio - talvez sugiram Bach embora apenas de uma forma muito superficial eu possa dizer que o compositor inspire algo em sua substância musical. Encontrei alguma coisa no seu Concerto para dois violinos, como deve ficar claro no dueto do solista com um violino da orquestra no meu último movimento. Mas eu emprego outras combinações de duos, e a textura é quase sempre aquela da música de câmara. Eu não compus uma cadência, não porque pouco me importe a virtuosidade, mas porque a combinação do violino com os outros instrumentos é que era o meu principal interesse. De qualquer forma, a virtuosidade por si só tem um papel muito pequeno no Concerto, e as demandas técnicas da peça são relativamente pequenas.
A última ressalva poderia ser dita apenas por um não violinista. O Concerto é definitivamente difícil e o solista toca todo tempo. No entanto, o violino não se distancia da orquestra como acontece em outros do gênero: ele é tratado como "primeiro entre pares" e, por vezes, desaparece na textura geral como em um concerto Barroco.
Stravinsky compôs seu Concerto em Ré para Samuel Dushkin, o violinista de origem polonesa que teve a idéia de comissioná-lo. Stravinsky nos lembra em An Autobiography de seu eterno ceticismo com os virtuosos, incapazes de sobrepujar suas tentações de efeitos sensacionais ou brilho fácil. Mas o compositor impressionou-se com a "cultura musical" e a "abnegação" de Dushkin. Tornaram-se grandes amigos até o final da vida do compositor - o violinista morreu em 1976.
Samuel Dushkin fez a estréia em outubro de 1931, com a Orquestra da Rádio de Berlim sob a direção do próprio compositor. Infelizmente, a gravação desta performance perdeu-se na Segunda Guerra mundial.
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