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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"De Tormentibus Inferorum", Cap. IX


por Fernanda Vaz

Três são as estéticas que ditam a aparência do inferno; a da maçonaria, a da Wicca e a do Hinduísmo Kitsch. Pelas paredes se vê cabeças de bafomé, pentagramas purpurinados, pirâmides com olhos, esquadros e compassos, gentes azuis tocando flauta com os dedinhos levantados, quadros de gif animado (invenção local) com bruxinhas em estilo mangá, velas vermelhas, retratos de Morgana Le Fay desenhados a grafite por garotas de quinze anos, elefantes rosa bebê em posição de lótus [...]

[...] ecoam por todos os cantos trechos de Osvaldo Golijov - dizem uns, em espanhol, que o próprio foi para o céu, mas é certo que sua música não fez nem uma parada pequena no purgatório, descendo direto pelos mais fétidos encanamentos metafísicos até cair no lago de fogo e enxofre, onde as almas gritam incontrolavelmente frases desconexas das quais só se distingue de vez em quando alguma palavra como "desconstrução", "reificação", "pedagogia do oprimido", "coisa-em-si", "luta de classes", "pré-conceito", "pós-estruturalismo", "educação bancária", "metanarrativa" [...]

Na porta do inferno lê-se em Comic Sans roxa "Dejad toda esperanza, vosotros que entráis" [...] os primeiros anos de tormento eterno são passados ainda na antecâmara, um enorme labirinto em que os recém-chegados são perseguidos por Gabriel Colombo. Outras versões dizem que a primeira frase que as almas penadas ouvem ao entrar no território internal é "vamo quebrá tudo, galerinha", seguida de uma enorme gincana onde os participantes precisam constantemente formar círculos, dar as mãos, ter suas pernas amarradas nas do coleguinha, carregar ovos na colher com a boca, passar folhas de papel uns aos outros com a boca e toda sorte de torturas excruciantes e diabólicas. Autores mais antigos, entretanto, tiveram o cuidado de avisar o homem comum sobre a grande chance de serem reais não um ou outro, mas ambos os tipos de tormento [...]

Em face de todas estas cousas, muitos sábios e filósofos se perguntaram que lugar tinham nas hostes infernais os pequenos monstros e criaturas horrendas de Bosch e Dürer (que sabe-se residirem ao lado de Bach e Mahler). Verdade é que se encontram estas numa ala inteira do céu, bicando felizes com seus bicos e saltitando com suas pernas mirradas, ao lado do horrendo homem para o qual a criança eternamente olha e de todas as cousas feias construídas ainda assim de acordo com os preceitos do belo.

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