por Leandro Oliveira
Deus e a Osesp fizeram com que minha segunda-feira amanhecesse em Taubaté no exato dia do aniversário do filho ilustre da cidade, Monteiro Lobato. A Providência - esta senhora cheia de caprichos - fizera antes com que no sábado, dia 16, sem que soubesse das comemorações de aniversário ou atinasse que aqui tratava-se da cidade natal do escritor, eu vasculhasse minha biblioteca trechos do "Urupês" e outras bizarrias do homem que sonhou a Cuca, a Emília e o Visconde de Sabugosa.
Não entendendo tais desígnios mas imaginando que raros deles são vãos, decido compartilhar minhas perplexidades. E homenagear o homem, com sua famosa autobiografia.
Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884 (na verdade 1882). Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez, aos 5 anos, um célebre ditado: “Cavalo pangaré/Mulher que... em pé/Gente de Taubaté/ Dominus libera mé”.
Concordou.
Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.
Gostava de livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares de França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.
Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau – apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire. Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano – merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi (que nunca usou no dedo, aliás).
Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a 4.000 o alqueire.
Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários. Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.
Escreveu umas tantas lorotas que se vendem – Urupês, gênero de grande saída, Cidades mortas, Idéias de Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Pretente publicar ainda um romance sensacional que começa por um tiro:
- Pum! E o infame cai redondamente morto...
Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja, a de suprimir todos os pedaços que o leitor pula.
Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.
Físico: lindo!
Monteiro Lobato, "A Novela Semanal" (São Paulo, 2 de maio 1921)
Deus e a Osesp fizeram com que minha segunda-feira amanhecesse em Taubaté no exato dia do aniversário do filho ilustre da cidade, Monteiro Lobato. A Providência - esta senhora cheia de caprichos - fizera antes com que no sábado, dia 16, sem que soubesse das comemorações de aniversário ou atinasse que aqui tratava-se da cidade natal do escritor, eu vasculhasse minha biblioteca trechos do "Urupês" e outras bizarrias do homem que sonhou a Cuca, a Emília e o Visconde de Sabugosa.
Não entendendo tais desígnios mas imaginando que raros deles são vãos, decido compartilhar minhas perplexidades. E homenagear o homem, com sua famosa autobiografia.
Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884 (na verdade 1882). Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez, aos 5 anos, um célebre ditado: “Cavalo pangaré/Mulher que... em pé/Gente de Taubaté/ Dominus libera mé”.
Concordou.
Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.
Gostava de livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares de França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.
Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau – apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire. Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano – merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi (que nunca usou no dedo, aliás).
Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a 4.000 o alqueire.
Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários. Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.
Escreveu umas tantas lorotas que se vendem – Urupês, gênero de grande saída, Cidades mortas, Idéias de Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Pretente publicar ainda um romance sensacional que começa por um tiro:
- Pum! E o infame cai redondamente morto...
Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja, a de suprimir todos os pedaços que o leitor pula.
Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.
Físico: lindo!
Monteiro Lobato, "A Novela Semanal" (São Paulo, 2 de maio 1921)
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