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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Estátua da paciência


Ainda sobre o Oscar: sobre aqueles que não estarão na cerimônia.

por William Silveira

Como é possível levar a sério uma premiação que deixou de reconhecer nomes como Alfred Hitchcock, Federico Fellini e Stanley Kubrick? Os esquecimentos - eufemismo barato para erros injustificáveis - ganham proporção se soubermos que Hitchcock esteve por cinco vezes no Kodak Theatre, assim como quatro foram as indicações de Fellini e Kubrick.

O inexplicável e o imponderável fazem parte de qualquer premiação e há quem diga que as injustiças carregam certo charme e sabor ao tapete vermelho. Não raro, diz-se que há mais prestígio em juntar-se à lista dos esnobados que a dos vencedores. A ironia, sabe-se, guarda em si suas verdades.

Desde a premiação de 2010, a Academia aumentou de cinco para dez os indicados na categoria de Melhor Filme. Inegavelmente, é uma forma de diminuir injustiças, mas principalmente de acomodar e dar visibilidade a um número maior de títulos que, caso contrário, facilmente terminariam como estatísticas diluídas na grande quantidade de produções norte-americanas. Seria assim com o interessante "Inverno da Alma" e com o bom "Minhas mães e meu pai", ambos concorrendo ao prêmio principal.

Não é o papel destes filmes, contudo, protagonizar a cerimônia. Entende-se, com razão, que o reconhecimento foi dado ao serem indicados e que, com muita sorte, podem sair com uma estatueta por atuação ou roteiro. A primeira pista para tal conclusão vem de uma incongruência apresentada pela própria Academia. Se determinado título concorre entre os dez selecionados a Melhor Filme e seu diretor não está presente nas cinco vagas destinadas a Melhor Diretor, então é muito provável que o filme em questão seja apenas um espectador de luxo.

Poucas atividades movimentam tanto os cinéfilos - e certamente lhes dá mais prazer que assistir à cerimônia - quanto apontar a miopia da premiação. Mesmo com uma lista de dez indicações muito boa, alguns nomes ecoam como injustiçados e poderiam perfeitamente estar presentes no próximo dia 27, em Los Angeles.

- Melhor filme: "O Escritor Fantasma" e "Ilha do Medo". Dois títulos muito aguardados, principalmente o de Polanski, nunca estiveram perto da unanimidade de crítica e público. Lançados no primeiro semestre, sofreram, sem sombra de dúvida, com a distância em relação à premiação.

- Melhor diretor: Christopher Nolan. Se ter sido preterido em 2009 pelo ótimo trabalho em "Batman - O Cavaleiro das Trevas" bastou para que os fãs do diretor megalomaníaco o rotulassem como persona non grata, Hollywood confirmou a suspeita - até que se prove o contrário - ao deixá-lo de fora pelo badalado "A Origem".

- Atriz: Julianne Moore. Além de ruiva - o que deveria bastar para a indicação -, Moore está muito bem no drama contemporâneo "Minhas mães e meu pai". O problema foi ter contracenado com a atuação irretocável de Annette Bening. Pesou ter de indicar duas atrizes do mesmo filme para a categoria e Bening foi bem escolhida.

- Ator: Ryan Gosling. Recebeu inúmeros elogios ao compor o par romântico com Michelle Williams (indicada para Melhor Atriz) em "Blue Valentine" ("Namorados para sempre", sem data de estréia no Brasil). O drama do jovem casal fez uma boa carreira antes do Oscar, mas até agora só levou o prêmio da Associação de Críticos de Chicago.

- Atriz coadjuvante: Mila Kunis e Olivia Williams. Muito competente ao ajudar na composição da oposição de Natalie Portman em Cisne Negro, Kunis não foi indicada por represália, pois ninguém que se preze deve participar de projetos como "Max Payne" e "O Livro de Eli". Por sua vez, Williams sabe que uma supporting actress não deve roubar a cena e assim o fez. Poderia muito bem ocupar a cadeira destinada a Amy Adams, dona de mais beleza que talento.

- Filme estrangeiro: "Abutres". Mais um filme do talentoso diretor argentino Pablo Trapero. Fala-se muito que a premiação expressiva de "O segredo dos seus olhos" no ano passado intimidou a Academia a indicar outra produção argentina com Ricardo Darín - o que soa como pleonasmo em Hollywood.

- Documentário: "Waiting for Superman". Vencedor de Melhor Documentário no Festival de Sundance, o filme sobre as falhas do sistema público de educação nos Estados Unidos foi apontado como favorito à categoria e surpreendeu ao sequer concorrer.

- Montagem: "A Origem". Quem assiste ao filme de Christopher Nolan facilmente percebe quanto do resultado final é méritos do trabalho seguro e eficiente do montador Lee Smith. Como nos prêmios técnicos somente estão aptos a votar os profissionais da área, pode-se imaginar que Smith não goza de grande admiração, uma vez que o atabalhoado trabalho de Pamela Martin ("O Vencedor") conseguiu indicação.

Por essas e outras, a Empire divulgou há pouco o que a revista considera como as 22 maiores injustiças da história do Oscar. Vale a pena conferir: http://www.empireonline.com/features/22-incredibly-shocking-oscars-injustices

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