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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

And the winner is...


É fato incontestável: a cerimônia de premiação do Oscar é um sonífero. Glamouroso para quem vai (calma, eu nunca fui...), a verdade é que assistir pela TV os intermináveis salamaleques, as piadas privadas e os tantos intermezzi musicais de gosto duvidoso, é tarefa para poucos. William explica o caso.

por William Silveira

Sei que pode ser difícil aceitar, mas o Oscar não se importa com você. Digo isso, pois logo a premiação desponta no horizonte do mês de fevereiro e um discurso patético – mais patético porque repetitivo – vem à tona. Distantes da originalidade, as variantes críticas levam todas ao mesmo destino: o reconhecimento da Academia de Hollywood não tem mais a mesma importância, perdeu o prestígio; deixou de ser relevante.

Apesar da conclusão equivocada, algumas premissas são válidas. Sabe-se, por exemplo, que 82 anos após a primeira edição, a premiação demonstra cada vez mais dificuldades em renovar-se. Tentativas de modernização aconteceram nos últimos anos, principalmente ao acelerar e desmecanizar a dinâmica dos apresentadores, retirarem os intermináveis números musicais e diminuir – ainda que sem muito sucesso - o tempo de duração do evento. Em contrapartida, a edição passada mostrou como as inovações surtiram pouco efeito. Não bastasse a cerimônia ter se estendido mais que o planejado, um ritual lamentável de elogios artificiais foi inserido durante a premiação de melhor ator e atriz, postergando o aborrecido protocolo da noite.

Um remodelamento radical, como sugerem os detratores, não acontecerá única e simplesmente porque a Academia é composta de “velhos conservadores”, mas principalmente por ser imponderável arriscar qualquer modificação que ponha em risco a aura de glamour construída desde 1929. E isso não é por acaso.

Recrimina-se a suposta parcialidade com que os prêmios são distribuídos, o interesses financeiro, a excessiva e descarada presença de lobby, profissionalizado pelos irmãos Weinstein (Miramax Films e The Weinstein Company) e praticado for your consideration. Ora, se o problema residisse única e exclusivamente aí, então bastaria lembrar que Cannes e Veneza, bastiões de um cinema inovador, independente e de les film d'art, sofreram duras críticas quanto aos métodos e critérios por detrás das escolhas que levaram Juliete Binoche e Quentin Tarantino premiarem Michael Haneke e Sofia Coppola, respectivamente.

Mesmo com a preocupante e sintomática queda de audiência, o Oscar não vê grandes motivos para mudança. Uma premiação com entrada em tapete vermelho, smoking e transmissão para todo o mundo não está aí para agradar cinéfilos, críticos de cinema e espectadores. Sua função, longe de ser entertainment, acaba por torna-se mais nobre: sustentar o maior e mais caro mercado cinematográfico do mundo. Aos que encaram com desdém tamanha responsabilidade, faça uma rápida avaliação e procure descobrir de onde vem o dinheiro para produções dispendiosas como as que estão em cartaz. Certamente não é da venda de ingressos (receita eternamente ameaçada pela pirataria) e muito menos de filantropia estatal, como acontece no Brasil. Quem entende Cinema como algo realizado quase que divinamente, com uma idéia, uma câmera e quinze pratas, simplesmente não enxerga o Cinema, mas uma aventura de meninos.

Quando a cerimônia dura quatro horas, com discursos intermináveis e intragáveis, pode ter certeza que a exibição dos anunciantes permitirá não só um novo "A Rede Social", blockbuster qualificado, como também – e o mais importante – a sobrevida de projetos arriscados como o excelente "Cisne Negro".

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