LUDMILA: (...) Você acha que estou ficando velha?
MÁRIO: Está. É. A juventude é muito velha.
LUDMILA: Com que idade a gente fica jovem?
MÁRIO: Aos cinqüenta. (Pausa) Mas aí já é tarde.
Retirado da peça "É..." de Millôr Fernandes.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Rosebuds da Nova Geração
Cada tempo tem sua própria mitologia. Em seu texto de estréia, Ieda Marcondes escreve sobre "Rede Social", o filme que conta as origens do Facebook - e comenta porque algumas coisas não mudam nunca.
Por Ieda Marcondes
De acordo com o filme “A Rede Social”, a motivação principal de Mark Zuckerberg, criador do Facebook, para se tornar um bilionário é o fora que ele leva de sua namorada na faculdade. Do jeito dolorosamente hábil que algumas mulheres têm de apontar a verdade em momentos delicados, ela termina o namoro dizendo que ele passará a vida inteira achando que as garotas não gostam dele por ele ser nerd, mas que isto não era verdade, que era porque ele é mesmo um babaca. Zuckerberg, então, volta bêbado para seu dormitório e, confirmando o que foi dito, começa um site para comparar as garotas do campus, além de ridicularizar a ex-namorada em seu blog. Em qualquer outro filme, isto seria um acontecimento sem relação alguma com a criação e expansão do Facebook, mas “A Rede Social” escolhe deliberadamente tratar tal episódio como o único motivo para Zuckerberg querer criar algo que chame atenção, que o torne bem-sucedido. Ele está interessado em; 1- Criar algo que impressione sua ex-namorada e, então, 2- Conseguir finalmente esquecê-la. Nenhum dos dois acontece no filme, ele nunca deixa de gostar dela e não há reação ou comentário algum de sua ex sobre seu sucesso, mas são estas as motivações que colocam tudo em ação. É quase como se fosse um "Cidadão Kane", só que em vez de trenó, há uma garota. Parece bobo e simples, mas é muitíssimo plausível, especialmente hoje em dia.
Entendo que, em determinados momentos, para aqueles que não estão prestando atenção, o filme possa parecer misógino. Enquanto todos os personagens masculinos são gênios, dizem coisas inteligentes e engraçadas, assim que Mark e seu parceiro Eduardo começam a ficar famosos no campus, todos os tipos de mulheres vulgares e nulas se aproximam deles. Algumas se limitam a passar cenas inteiras rindo, bebendo e se drogando. Acredito que estas mulheres aparecem desta forma simplesmente porque elas com certeza existem e também porque não significam nada para nenhum dos personagens. Mas o filme está longe de ser misógino, já que duas mulheres tem as falas mais inteligentes de todo o filme. Uma das mulheres é a namorada que termina com Zuckerberg e se torna toda a sua motivação logo no início, a outra é a advogada que acompanha um dos processos contra ele e o aconselha sobre que rumo tomar. Ou seja, mulheres de substância têm papéis que definirão todo o curso da história, por mais que seja uma história predominantemente masculina.
sábado, 27 de novembro de 2010
Machado de Assis e a ópera
Por Leandro Oliveira
Esta semana a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal e meu amigo Rodrigo de Carvalho apresentaram na Sala São Paulo um programa dedicado a trechos de óperas. Achei uma crônica perfeita para ocasião: é longa para um blog mas deliciosa do primeiro ao último parágrafo.
TANNHÄUSER e bonds elétricos. Temos finalmente na terra essas grandes novidades. O empresário do Teatro Lírico fez-nos o favor de dar a famosa ópera de Wagner, enquanto a Companhia de Botafogo tomou a peito transportar-nos mais depressa. Cairão de uma vez o burro e Verdi? Tudo depende das circunstâncias.
Já a esta hora algumas das pessoas que me lêem, sabem o que é a grande ópera. Nem todas; há sempre um grande número de ouvintes que farão ao grande maestro a honra de não perceber tudo desde logo, e entendê-lo melhor à segunda, e de vez à terceira ou quarta execução. Mas não faltam ouvidos acostumados ao seu oficio, que distinguirão na mesma noite o belo do sublime, e o sublime do fraco.
Eu, se lá fosse, não ia em jejum. Pegava de algumas opiniões sólidas e francesas e metia-as na cabeça com facilidade; só não me valeria das muletas do bom Larousse, se ele não as tivesse em casa; mas havia de tê-las. Cai aqui, cai acolá, faria uma opinião prévia, e à noite iria ouvir a grande partitura do mestre. Um amigo:
— Afinal temos o Tannhäuser; eu conheço um trecho, que ouvi há tempos...
— Eu não conheço nada, e quer que lhe diga? É melhor assim. Faço de conta que assisto à primeira representação que se deu no mundo. Tudo novo.
— O que eu ouvi, é soberbo.
— Creio; mas não me diga nada, deixe-me virgem de opiniões, Quero julgar por mim, mal ou bem...
E iria sentar-me e esperar, um tanto nervoso, irrequieto, sem atinar com o binóculo para a revista dos camarotes. Talvez nem levasse binóculo; diria que as grandes solenidades artísticas devem ser estremes de quaisquer outras preocupações humanas. A arte é uma religião. O gênio é o sumo sacerdote. Em vão, Amália, posta no camarote, em frente à mãe, lançaria os olhos para mim, assustada com a minha indiferença e perguntando a si mesma que me teria feito. Eu, teso, espero que as portas do templo se abram, que as harmonias do céu me chamem aos pés do divino mestre; não sei de Amália não quero saber dos seus olhos de turquesa.
Era assim que eu ouviria o Tannhäuser. Nos intervalos, visita aos camarotes e crítica. Aquela entrada dos fagotes, lembra-se? Admirável! Os coros, o duo, os violinos, oh! o trabalho dos violinos que cousa adorável, com aquele motivo obrigado: lá, lá, lá tra, lá, lá, lá, tra, lá, lá. . . Há neste ato inspirações que são, com certeza, as maiores do século. De resto, os próprios franceses emendaram a mão dando a Wagner o preito que lhe cabe, como um criador genial...
Esta semana a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal e meu amigo Rodrigo de Carvalho apresentaram na Sala São Paulo um programa dedicado a trechos de óperas. Achei uma crônica perfeita para ocasião: é longa para um blog mas deliciosa do primeiro ao último parágrafo.
TANNHÄUSER e bonds elétricos. Temos finalmente na terra essas grandes novidades. O empresário do Teatro Lírico fez-nos o favor de dar a famosa ópera de Wagner, enquanto a Companhia de Botafogo tomou a peito transportar-nos mais depressa. Cairão de uma vez o burro e Verdi? Tudo depende das circunstâncias.
Já a esta hora algumas das pessoas que me lêem, sabem o que é a grande ópera. Nem todas; há sempre um grande número de ouvintes que farão ao grande maestro a honra de não perceber tudo desde logo, e entendê-lo melhor à segunda, e de vez à terceira ou quarta execução. Mas não faltam ouvidos acostumados ao seu oficio, que distinguirão na mesma noite o belo do sublime, e o sublime do fraco.
Eu, se lá fosse, não ia em jejum. Pegava de algumas opiniões sólidas e francesas e metia-as na cabeça com facilidade; só não me valeria das muletas do bom Larousse, se ele não as tivesse em casa; mas havia de tê-las. Cai aqui, cai acolá, faria uma opinião prévia, e à noite iria ouvir a grande partitura do mestre. Um amigo:
— Afinal temos o Tannhäuser; eu conheço um trecho, que ouvi há tempos...
— Eu não conheço nada, e quer que lhe diga? É melhor assim. Faço de conta que assisto à primeira representação que se deu no mundo. Tudo novo.
— O que eu ouvi, é soberbo.
— Creio; mas não me diga nada, deixe-me virgem de opiniões, Quero julgar por mim, mal ou bem...
E iria sentar-me e esperar, um tanto nervoso, irrequieto, sem atinar com o binóculo para a revista dos camarotes. Talvez nem levasse binóculo; diria que as grandes solenidades artísticas devem ser estremes de quaisquer outras preocupações humanas. A arte é uma religião. O gênio é o sumo sacerdote. Em vão, Amália, posta no camarote, em frente à mãe, lançaria os olhos para mim, assustada com a minha indiferença e perguntando a si mesma que me teria feito. Eu, teso, espero que as portas do templo se abram, que as harmonias do céu me chamem aos pés do divino mestre; não sei de Amália não quero saber dos seus olhos de turquesa.
Era assim que eu ouviria o Tannhäuser. Nos intervalos, visita aos camarotes e crítica. Aquela entrada dos fagotes, lembra-se? Admirável! Os coros, o duo, os violinos, oh! o trabalho dos violinos que cousa adorável, com aquele motivo obrigado: lá, lá, lá tra, lá, lá, lá, tra, lá, lá. . . Há neste ato inspirações que são, com certeza, as maiores do século. De resto, os próprios franceses emendaram a mão dando a Wagner o preito que lhe cabe, como um criador genial...
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Dicta&Contradicta nº 6
Em breve teremos mais dois peixinhos no aquário, ao pé da página (aliás, alimente-os por favor sempre que puder: os editores, todos rapazes, acabamos sendo relapsos com os bichinhos...). Os peixinhos de cor laranja farão companhia aos amarelos, verdes, azuis e vermelhos, contrapostos ao roxo para o qual mudará as páginas de Ocidentalismo.org - acompanhando a capa da nova edição de Dicta&Contradicta, e a cor "daquillo" de todos nós que lutamos para fazer cultura no país.
O lançamento da Dicta já está marcado: dia 07 de dezembro, às 19hs30, no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura – Conjunto Nacional). Para reservar na Livraria Cultura a Dicta&Contradicta nº6, é só clicar aqui.
Guilherme Malzoni Rabello comenta: "por que precisaremos de um teatro? Bom, essa surpresa fica para logo mais!"
terça-feira, 23 de novembro de 2010
A escrita como uma tecnologia que reestrutura a mente - Parte II.2
Por Leandro Oliveira
Para ilustrar nosso pequeno problema, antes de prosseguirmos, um trecho de Ortega y Gasset.
(...)Ahora se comprenderá que no es caprichoso iniciar una lectura del "Banquete" platónico invitando a que se reflexione sobre qué demonio de faena es esta de leer, que tan fácilmente consiste en no enterarse de lo que se lee.
La ausencia del dicente deja ante nosotros la palabra escrita descoyuntada del complejo expresivo que era el cuerpo de aquel. Por muy habituados que estemos a la lectura, cuanto mejor sepamos leer más sentiremos la tristeza espectral de la palabra escrita, sin voz que la llene, sin mímica carne que la incorpore y concrete. Bien decía Goethe que la palabra escrita es un subrogado, un mísero Ersatz de la palabra hablada. No es importuno aludir a esto en el frontis de una lección sobre el "Banquete", porque en la obra paralela y coetánea, el "Fedro", Platón hará constar su antipatía hacia todo libro por lo que tiene de cadavérico decir, de paralítica expresión. E insinúa agudísimamente algo en que no se suele reparar: que la relación entre lector y libro es inmoral porque ni este puede responder a nuestras objeciones, sino que sigue petulante y sin riesgo diciendo lo mismo siempre, ni puede contestar enérgicamente al imbécil lector dándole —y esto no lo dice Platón, pero se entrelee bajo sus líneas— un buen puñetazo en las narices. Embotados por la habitualidad de la lectura que nos es ya casi una segunda naturaleza, gozamos de las evidentes ventajas de la palabra escrita —menos aún, impresa— y hemos perdido conciencia de las mermas y peligros que trae consigo. Ello ha engendrado desde hace sesenta años un menosprecio creciente de la única palabra que lo es en plenitud, la palabra oral, y con ella de las maravillas más humanas de todas, que son el diálogo, la oratoria, la retórica: la única magia efectiva.
Ortega Y Gasset, "Que és Leer" in "Comentario al 'Banquete' de Platon".
Para ilustrar nosso pequeno problema, antes de prosseguirmos, um trecho de Ortega y Gasset.
(...)Ahora se comprenderá que no es caprichoso iniciar una lectura del "Banquete" platónico invitando a que se reflexione sobre qué demonio de faena es esta de leer, que tan fácilmente consiste en no enterarse de lo que se lee.
La ausencia del dicente deja ante nosotros la palabra escrita descoyuntada del complejo expresivo que era el cuerpo de aquel. Por muy habituados que estemos a la lectura, cuanto mejor sepamos leer más sentiremos la tristeza espectral de la palabra escrita, sin voz que la llene, sin mímica carne que la incorpore y concrete. Bien decía Goethe que la palabra escrita es un subrogado, un mísero Ersatz de la palabra hablada. No es importuno aludir a esto en el frontis de una lección sobre el "Banquete", porque en la obra paralela y coetánea, el "Fedro", Platón hará constar su antipatía hacia todo libro por lo que tiene de cadavérico decir, de paralítica expresión. E insinúa agudísimamente algo en que no se suele reparar: que la relación entre lector y libro es inmoral porque ni este puede responder a nuestras objeciones, sino que sigue petulante y sin riesgo diciendo lo mismo siempre, ni puede contestar enérgicamente al imbécil lector dándole —y esto no lo dice Platón, pero se entrelee bajo sus líneas— un buen puñetazo en las narices. Embotados por la habitualidad de la lectura que nos es ya casi una segunda naturaleza, gozamos de las evidentes ventajas de la palabra escrita —menos aún, impresa— y hemos perdido conciencia de las mermas y peligros que trae consigo. Ello ha engendrado desde hace sesenta años un menosprecio creciente de la única palabra que lo es en plenitud, la palabra oral, y con ella de las maravillas más humanas de todas, que son el diálogo, la oratoria, la retórica: la única magia efectiva.
Ortega Y Gasset, "Que és Leer" in "Comentario al 'Banquete' de Platon".
Pergunte ao Julio Lemos
Por Julio Lemos
Qual é o sujeito do primeiro verso do Hino Nacional? Não vale pesquisar. 30 segundos para responder. Valendo!
Ouviram... o brado retumbante / de um povo heróico (inversão). A crase resolve: se consideramos "às margens plácidas", temos um sujeito indeterminado; se consideramos "as margens plácidas", temo-las como sujeito. Tertium non datur. Corrija-me se estiver errado.
Quais obras sobre história do direito você recomenda? Acha importante o estudo disso? Nos cursos acadêmicos brasileiros não se comenta nada...
Sim, lógico que é importante. Perguntar quase ofende. Defendo pena de morte para professores (que dirá de juristas...) que ousem esnobar a história do direito, e joelho no milho para os estudantes que engulam isso. Recomendaria a "História do direito privado moderno" do Wieacker, além da "Introdução histórica ao direito" de Gilissen. Anyway, meu interesse no direito não é histórico.
O que você acha sobre o dadaísmo, o futurismo o surrealismo e o abstracionismo modernista?
Os três primeiros são apenas aquilo: "ah, legal" e acabou. Ninguém lê, por exemplo, o manifesto futurista. Já a arte abstrata sempre teve um pouco mais a dizer e é mais permanente. Ainda assim, serve mais para decorar consultórios.
Você é a favor de pesquisa com células-tronco embrionárias?
Ser a favor ou contra é um pouco simplista. O que acredito é que experimentar com embriões é grotesco. Enquanto continuarem a proteger ovos de tartaruga faço questão que protejam embriões humanos. Ocorre que os boçais não pensam nesse tipo de contradição.
Júlio, a realidade é construção.
Então desenhe um avião e dirija-se ao portão de embarque.
Julio Lemos é editor de Ocidentalismo.org, além de consultor informal para todos os assuntos e especialista nos outros. Quer fazer alguma pergunta? Clique aqui.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Elogio à Caecilia
Padroeira da música, Santa Cecília poderia servir de mote para mais este elogio à beleza do empreendimento humano: a "fonte" ou tecnicamente a família tipográfica criada por um jovem genial chamado Peter Matthias Noordzij. Assunto interessante e pouco conhecido, é a estréia do designer José Luís Bomfim no Ocidentalismo.org.
por José Luis Bomfim
"Caecilia" é uma família tipográfica desenhada por Peter Matthias Noordzij e publicada no ano da graça de 1991 pela Linotype. Trata-se de um marco; o fito desta nota é explicar o porquê.
Corriam na época as primeiras tentativas sérias de desenhar uma fonte que fosse adaptada à fotocomposição digital, conhecida também como off-set digital. O fato é que uma família tipográfica, uma fonte, não existe no ar. Uma família tipográfica é boa na medida em que serve para um determinado projeto tipográfico, e um projeto tem como fim uma boa impressão. Tipografia à moda antiga, com tipos em metal, é um tipo de impressão de resultados escultóricos: o tipo escava o papel dando-lhe aquele matiz aveludado, onde as terminações (tecnicamente terminais) se fazem mais presentes do que na impressão offset, na qual a letra é colocada sobre o papel de forma homogênea. Ora, o desenho deve acompanhar tais mudanças para poder refletir não somente o Zeitgeist, mas para servir ao leitor, que certamente esquecerá da fonte se esta for boa, se for, enfim, legível.
Aí que entra Noordzij, o estudante de tipografia que tinha recebido de seu pai uma educação que insistia na confiança no traço manual. Entre 1985 e 1986 Noorddzij empreendeu uma façanha: queria desenhar uma fonte que fosse um reflexo da vitalidade humanista presente nas fontes renascentistas, dada pelo resquício do sabor do traço dos calígrafos no desenho da fonte e ao mesmo tempo incorporasse o traço contínuo, não modulado, típico das fontes com serifa quadrada ou egípcia tão marcadamente técnicas e sisudas. Para isso ele teve de recuperar o arquétipo de cada letra e combiná-lo em um ritmo que fosse, no desenrolar do texto, gracioso.
Alguma Poesia de Pablo Simpson
Por Érico Nogueira
Em tempos de ENEM fodendo, me agrada lembrar que, além de Dirceu Villa e Caio Gagliardi, conheci também o poeta, professor de literatura francesa, enófilo e gourmand Pablo Simpson quando trabalhei naquela terra ruim...
O poeta estreou em 2003, com "Mitologias", um belo livro, sem dúvida, mas que, edição do autor, só foi distribuído entre uns poucos privilegiados. Sempre gostei do poema de abertura:
O anúncio da voz cruza teu rosto branco.
As tardes se evocam em ti, guirlandas e arcos de sol.
Observo a casa engastada nas pedras.
Também quis curvar-me sombra aos temores do vento,
esconder-me nos homens. Também quis curvar-me
aos desígnios da luta.
Mas o ocaso da tarde inclina-me as sombras duras do corpo.
O anjo sem equilíbrio da tarde risca no ar
denso azul de chuva.
As águas então se afeiçoam a mim, súbito
uma poça se forma em meus pés,
prende-me os passos.
Mas miro-me nas ladeiras da tarde que se erguem de ti.
Miro-me na veste luminosa que se dobra em teu peito:
na íntima claridade do nome.
E vejo que uma chuva fria transborda
um verde seguro na margem de teu olho.
O que temos aqui é a mais fina flor da moderna tradição francesa transplantada -- e muito bem aclimatada -- para solo brasileiro. Valéry, Char e Bonnefoy, eu diria; mas também, quem sabe, um pouco de Saint-John Perse... Rastrear referências, porém, é o de menos: o que importa é notar como o poeta consegue, já no seu livro de estréia, fazer uma poesia leve, aguda e sutil, de sugestões e murmúrios quase surdos, sem cair na tentação de teorizar em verso. Esse equilíbrio, leitor, é muito difícil de conseguir...
Em tempos de ENEM fodendo, me agrada lembrar que, além de Dirceu Villa e Caio Gagliardi, conheci também o poeta, professor de literatura francesa, enófilo e gourmand Pablo Simpson quando trabalhei naquela terra ruim...
O poeta estreou em 2003, com "Mitologias", um belo livro, sem dúvida, mas que, edição do autor, só foi distribuído entre uns poucos privilegiados. Sempre gostei do poema de abertura:
O anúncio da voz cruza teu rosto branco.
As tardes se evocam em ti, guirlandas e arcos de sol.
Observo a casa engastada nas pedras.
Também quis curvar-me sombra aos temores do vento,
esconder-me nos homens. Também quis curvar-me
aos desígnios da luta.
Mas o ocaso da tarde inclina-me as sombras duras do corpo.
O anjo sem equilíbrio da tarde risca no ar
denso azul de chuva.
As águas então se afeiçoam a mim, súbito
uma poça se forma em meus pés,
prende-me os passos.
Mas miro-me nas ladeiras da tarde que se erguem de ti.
Miro-me na veste luminosa que se dobra em teu peito:
na íntima claridade do nome.
E vejo que uma chuva fria transborda
um verde seguro na margem de teu olho.
O que temos aqui é a mais fina flor da moderna tradição francesa transplantada -- e muito bem aclimatada -- para solo brasileiro. Valéry, Char e Bonnefoy, eu diria; mas também, quem sabe, um pouco de Saint-John Perse... Rastrear referências, porém, é o de menos: o que importa é notar como o poeta consegue, já no seu livro de estréia, fazer uma poesia leve, aguda e sutil, de sugestões e murmúrios quase surdos, sem cair na tentação de teorizar em verso. Esse equilíbrio, leitor, é muito difícil de conseguir...
domingo, 21 de novembro de 2010
Adeus a um mestre
Por Leandro Oliveira
O maestro José Antônio de Almeida Prado faleceu hoje, em São Paulo. Nascido em Santos em 1943, estudou no Brasil com Dinorah de Carvalho, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Após vencer o Festival da Guanabara em 1969, estudou com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen e, a partir dali, tornou-se um dos primeiros compositores brasileiros a enveredar pelas trilhas da então “música de vanguarda”, abordando técnicas atonais e pós-seriais desenvolvidas à sua própria maneira:
Não rejeitei nada [de minha formação], acabei fazendo uma síntese de tudo, do nacionalismo de Camargo Guarnieri às ideias “ecológicas” de Messiaen, que era profundamente ligado à natureza. Isso rendeu as "Cartas Celestes", por exemplo, que é música universal, sem se preocupar em saber se o tema é nordestino ou seja lá o que for. (Revista Concerto, 2000)
Sempre presente na Sala São Paulo - era um papo ótimo -, recentemente Almeida Prado foi um dos responsáveis pela música de um dos concertos mais emocionantes que pude participar: aquele que a Fundação Osesp fez em parceira com a Cinemateca na projeção do filme "Études sur Paris", sob a regência do maestro Cláudio Cruz. Antes (2005) sua "Sinfonia dos Orixás" já havia sido um alvoroço...
Para ouvir uma recente peça do compositor, com Antônio Meneses, clique aqui.
PS: O maestro era primo da inacreditável Hilda Hilst, e dela são os poemas de algumas músicas.
O maestro José Antônio de Almeida Prado faleceu hoje, em São Paulo. Nascido em Santos em 1943, estudou no Brasil com Dinorah de Carvalho, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Após vencer o Festival da Guanabara em 1969, estudou com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen e, a partir dali, tornou-se um dos primeiros compositores brasileiros a enveredar pelas trilhas da então “música de vanguarda”, abordando técnicas atonais e pós-seriais desenvolvidas à sua própria maneira:
Não rejeitei nada [de minha formação], acabei fazendo uma síntese de tudo, do nacionalismo de Camargo Guarnieri às ideias “ecológicas” de Messiaen, que era profundamente ligado à natureza. Isso rendeu as "Cartas Celestes", por exemplo, que é música universal, sem se preocupar em saber se o tema é nordestino ou seja lá o que for. (Revista Concerto, 2000)
Sempre presente na Sala São Paulo - era um papo ótimo -, recentemente Almeida Prado foi um dos responsáveis pela música de um dos concertos mais emocionantes que pude participar: aquele que a Fundação Osesp fez em parceira com a Cinemateca na projeção do filme "Études sur Paris", sob a regência do maestro Cláudio Cruz. Antes (2005) sua "Sinfonia dos Orixás" já havia sido um alvoroço...
Para ouvir uma recente peça do compositor, com Antônio Meneses, clique aqui.
PS: O maestro era primo da inacreditável Hilda Hilst, e dela são os poemas de algumas músicas.
Humanitas
João Vidal estréia com um post muito sucinto, espécie de saudações cultíssimas a todos - e dois links para quem quer aperfeiçoar o latim.
Por João Vidal
Mala tempora, laboriosa tempora, hoc dicunt homines.
Bene vivamus, et bona sunt tempora.
Nos sumus tempora: quales sumus, talia sunt tempora.
Sed quid facimus? Non possumus ad bonam vitam convertere multitudinem hominum?
Pauci qui audiunt bene vivant: pauci bene viventes multos male viventes ferant.
»Tempos ruins, tempos difíceis, é o que dizem os homens.
Mas vivamos bem, e bons serão os tempos.
Nós somos os tempos: Tal como somos, assim são os tempos.
Mas o que podemos fazer? Não podemos converter à vida do bem a multidão dos homens?
Que vivam bem os poucos que ouvem, e que os poucos que vivem bem tolerem os muitos que vivem mal.«
Augustinus: Sermo Nr. 80:8
http://www.vivariumnovum.it/accademia/Lat/
Retirado de Das Blog ohne Eigenschaften.
sábado, 20 de novembro de 2010
O Animal agonizante em três tempos
Por Willian Silveira
É interessante notar como certas obras se localizam à greta de outras. No caso de Philip Roth, a produção prolífica e o incessante acúmulo de premiações a partir dos anos oitenta catapultaram seu nome à posição de patriarca da literatura americana. Obras de talento irrefutável como O Complexo de Portnoy (Portnoy's Complaint, 1969), Teatro de Sabath (Sabbath's Theater, 1995) e Pastoral Americana (American Pastoral, 1997) com o passar do tempo transformaram-se em sinônimos do autor. Entre a sombra de tais totens, reside O Animal Agonizante (The Dying Animal, 2001).
Último dos três livros do personagem David Kepesh - "The Breast" (1972) e "O Professor do Desejo" (1977) -, O Animal Agonizante apresenta o relato de um professor de literatura em fim de carreira que acaba por envolver-se com a bela e jovem Consuela Castillo, sua aluna no curso de Practical Criticism. Solipsista, hedonista e esteta, Kepesh profere uma religião que cobra caro, em última instância, pelo deus que adora. Seu relato é um acerto de contas e um desabafo.
Depois de adaptado ao cinema pela espanhola Isabel Coixet, em 2008, e de receber no Brasil o péssimo título de Fatal, a short novel chegou ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre, para quatro apresentações. Sob a direção de Luciano Alabarse e com Luiz Paulo Vasconcellos no papel principal, a peça que estreou na primeira semana de novembro segue, a partir do dia 12, no Instituto Goethe.
Apesar dos visíveis esforços e de acertos particulares, tanto Coixet quanto Alabarse deixam a desejar em suas recriações. O que não significa que sejam ruins e dispensem a investida, pelo contrário, o problemático é colocá-las constantemente em comparação com o texto original, deixando-as enfrentar de forma desleal o vigor e a profundidade da narrativa - por vezes quase histérica - de Roth.
Para evitar lançar observações gratuitas sobre as escolhas dos diretores, penso nas dificuldades encontradas tanto no filme quanto na peça e tento resolvê-las, mas as alternativas viáveis nem sempre resultam melhores. A exposição excessiva, por exemplo, atrapalha muito o filme e é contornada quando o teatro privilegia o monólogo. O que se pode concluir não é nenhuma novidade: o expositivo se configura melhor nos palcos que na tela.
Televisão para Adultos
Por Joel Pinheiro da Fonseca
Não sei se é o meu gosto que mudou, mas vejo cada vez menos motivos para ir ao cinema. A quase totalidade dos filmes (ou ao menos dos filmes que passam aqui no Brasil) são produções boçais para o público adolescente. Basta lembrar que o filão de maior sucesso são os filmes inspirados em histórias em quadrinhos (nada contra as HQs; algumas dão bons filmes; mas não matam o desejo por algo mais denso e profundo). Ao mesmo tempo, as séries de TV têm ficado cada vez melhores. Sem a limitação de tempo do filme, e sem os recursos bilionários para se perder em efeitos especiais, elas podem se dar ao luxo de construir bons roteiros e personagens interessantes, indo além da pose que passa por caracterização em nosso cinema pós-Tarantino.
Mesmo nas séries, há as adolescentes e as adultas. Nas adolescentes nada é permanente: empregos e relacionamentos mudam com facilidade; aliás, o enredo consiste basicamente na troca de casais, briguinhas explosivas e saídas repentinas. Apesar de constantes e irrelevantes, as mudanças são sempre acompanhadas de muito drama, e a falta de valor objetivo é inversamente proporcional à quantidade de lágrimas e considerações pseudo-filosóficas para convencer o espectador de que tudo aquilo é profundo e “importa”, sempre da forma mais óbvia e escancarada possível. O melhor exemplo desse tipo de série é Grey’s Anatomy.
The Good Wife, cuja segunda temporada acaba de começar, pode ser classificada na categoria oposta: a série adulta. Isso quer dizer que os eventos na tela de fato importam. Coisas reais estão em jogo: uma família, uma carreira, uma empresa, uma reputação. Por isso mesmo não há necessidade de se exagerar no melodrama; ela pode ser sutil.
O centro da série é a advogada Alicia Florrick, que teve que retornar à profissão quando o marido Peter, promotor público, é preso num escândalo envolvendo corrupção e prostituição. Até que ponto ele é corrupto nunca fica claro, mas quanto ao uso de uma prostituta não há dúvidas. Com o marido preso, Alicia e os filhos mudam-se para um apartamento e ela volta ao Direito que havia abandonado para se tornar dona de casa; mais especificamente, vai trabalhar na Sterne, Lockhart & Gardner, empresa de seu velho amigo e antigo flerte de faculdade, Will Gardner. O problema é que a própria empresa não tem ido muito bem das pernas, e só pode contratar mais um associado; Alicia terá que disputar a vaga com Carey Ago, um jovem promissor recém-saído de Harvard Law. Paralelamente, Peter e seu estrategistas conseguem aos poucos reverter a situação calamitosa e suas perspectivas começam a melhorar, de forma que ele não só talvez saia da prisão, como mesmo possa voltar à vida pública. A relação com Alicia, contudo, continua fragilizada; Peter a quer de volta, mas Alicia resiste.
Esse é, em poucas linhas, o enredo da primeira temporada de The Good Wife. Vamos ao que torna a série um produto superior. Em primeiro lugar, fugir de todas as resoluções fáceis. Uma série inferior com um enredo desses teria uma saída fácil e convencional: Peter como o grande vilão, o machista dominador que manipula sua esposa, ao passo que Will seria o verdadeiro amor da vida dela. Nada disso por aqui. Primeiro porque o próprio Will é alguém com sérios defeitos: é alguém que encarnou em si a lógica do Direito, e para quem vitórias no tribunal e dinheiro para a firma estão acima de tudo (a proximidade com Alicia parece abrandar um pouco sua inescrupulosidae); ao mesmo tempo, é alguém distante e defensivo, que foge de seus verdadeiros sentimentos em casos puramente carnais. Que o objeto de interesse ilícito seja imperfeito é até comum; o mais inesperado é a caracterização de Peter e sua mudança ao longo da temporada.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
terça-feira, 16 de novembro de 2010
A escrita como uma tecnologia que reestrutura a mente - Parte II
Por Leandro Oliveira
É um aparente paradoxo, mas tecnologias são artificiais apenas na medida em que a artificialidade é natural aos seres humanos. O fato de não sentirmos comumente a influência da escrita como tecnologia decisiva para o processamento de nosso pensamento demonstra sua interiorização radical.
A tecnologia alfabética é tão imperiosa que a tomamos não raramente pela própria linguagem. (Tendemos a assumir como normativa a linguagem escrita e não à toa cunhamos o termo “analfabeto” a quem não domina a leitura. Pela raiz mesma da palavra, o “analfabeto” diz daquele a quem falta algo, ou seja, uma espécie de handicaped). Mas pensá-la assim é distorcer um processo de complexidade extraordinário. O que de fato está em jogo no processo do domínio da escrita é uma readequação muito específica das nossas funções intelectuais.
Por exemplo, se eu sugerir para uma pessoa com o domínio fluente do alfabeto, como qualquer um de nós, que pense na palavra "felicidade".
Alguém se habilita?
Provavelmente quem tentar terá presente na imaginação apenas letras - cursivas ou de fôrma - talvez de forma obliterada, mas incontestável. Isso é prosaico. O caso se torna mais instigante caso tentássemos fazer o mesmo exercício, pensando na mesma palavra, agora por um minuto e sem o uso de qualquer letra do alfabeto. Ou seja, pensar na palavra “felicidade” mas não pensar em consoantes e vogais.
sábado, 13 de novembro de 2010
Isonomia
Por Pedro Gonzaga
Isonomia
A nação está em festa
enquanto meu coração
cravejado de estilhaços
pulsa lento
e supura sangue.
A raiva não arrefece,
lamento o revólver
de meu avô
que perdi
para o desarmamento.
Ah, o creme da empunhadura -
láctea madrepérola -
o cano cromado,
a solução ruidosa
no tambor
as seis balas fúteis,
a curva sutil,
fria
e logo quente
do gatilho.
Em casa
(as mãos nuas)
vejo pela televisão
que já não há mais
coragem no mundo.
Há tentativas,
negociações,
liminares,
o bárbaro de terno e gravata
termina sorridente,
e então percebo
que talvez nem à bala
pudera haver
isonomia.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
A escrita como uma tecnologia que reestrutura a mente - Parte I
Por Leandro Oliveira
A escrita, quer dizer, o evento histórico que permite este ato que faço agora e que o leitor tem a oportunidade de acessar quando dou enter no mecanismo do blogger, a escrita, como dizia, foi um desdobramento muito recente para a humanidade. O primeiro registro incontroverso de linguagem de fato que conhecemos foi desenvolvido entre os Sumérios na Mesopotâmia somente por volta do ano 3500 A.C - ou seja, mais ou menos 6.000 anos atrás; o alfabeto, esta inovação tecnológica extraordinária, menos de 4.000 anos. Se considerarmos que, em uma estimativa conservadora, o Homo Sapiens está na Terra há pelo menos 30.000 anos, temos a conclusão decisiva: é uma sorte estatística você estar aí enquanto eu aqui tomo um chá quente e batemos este papo - o mais provável seria que estivéssemos mostrando os dentes ou tentando fazer filosofia por sinais de fumaça (impossibilidade categórica, mas explico isso depois...).
Claro que não necessariamente seríamos tão bárbaros. Muito antes dos primeiros registros escritos da fala, havia a fala (rá!), e, com ela, podemos permitir dizer, algum tipo de comunicação elaborada entre seres humanos. A questão é que das mais de dez mil línguas que serviram ou servem para comunicação oral no curso da história humana, apenas uma parte ínfima - Munro Edmonson em seu estudo "Lore: An Introduction to the Science of Folklore and Literature" de 1971 calcula pouco mais de 100 - compromete-se de algum modo com a escrita de maneira a permitir produção de registros regulares escritos. A maior parte delas jamais foi registrada: mesmo entre as cerca de 4.000 línguas faladas hoje, estimamos cerca de oitenta com a disponibilidade para preservar algo que podemos chamar de literatura .
Da tradução em poesia
Não é que a tradução trai o texto: ela o transforma em outra coisa. Por vezes melhor, por vezes pior; Jorge Luís Borges comenta em alguma parte que a Odisséia "graças a meu oportuno desconhecimento do grego, é uma biblioteca internacional de obras em prosa e verso". Entre enriquecer a experiência poética e ser fiel às intenções do autor, os problemas levantados pelas teorias da tradução se tornam colossais quando lidamos com a literatura - e praticamente intransponíveis quando se colocam frente à poesia e sua infinitude de possibilidades expressivas. Érico Nogueira faz uma breve exploração do tema.
Por Érico Nogueira
A academia tem os seus protocolos, as suas limitações, as suas, digamos, desvantagens; -- mas a exigência de rigor intelectual, de justificar, não apenas com bibliografia barata, mas com argumentação consistente, as nossas escolhas, me parece um bem inestimavelmente precioso, sobretudo num tempo, como o nosso, quando se confunde licença pra dizer o que dá na veneta com licenciosidade argumentativa.
Pois bem: minha tese sobre Teócrito, como já disse aqui, se compõe de uma parte teórica, e da tradução propriamente dita. Na primeira, vejo-me compelido a justificar minhas escolhas de vocábulos, de sintagmas -- do tom e do estilo, em suma. Então fui ler a bibliografia. E é asneira atrás de asneira...
As cartas de São Jerônimo ainda são a melhor coisa que jamais se escreveu sobre tradução; mas também Lutero, Schleiermacher, Wilhelm von Humboldt, Benjamin e Gadamer ajudam um pouco. O problema, como sempre, é quando a teoria ofusca o objeto. Daí a coisa fica preta.
As componentes formais de um poema ainda não é o poema. Traduzi-las todas não garante a ninguém que a poesia da língua de saída apareça na de chegada: a função poética é só um índice, digamos, de 'poeticidade', não é o que faz de um poema aquilo que ele é.
Em breve mais sobre o assunto.
Retirado de Ars Poetica.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Igualdade e outras falácias
Por Leandro Oliveira
The Hoonde Menuhin school in the south of England is also a place of privilege. Musically talented children from all over the world compete for a chance to come here to study.
Much of the moral fervor behind the drive for equality comes from the widespread belief that it is not fair that some children should have a great advantage over others simply because they happen to have wealthy parents. Of course it is not fair, but is there any distinction between the inheritance of property and the inheritance of what, at first sight, looks very different. These youngsters have inherited wealth, not in the form of bonds or stocks, but in the form of talent. That 15_year_old is an accomplished cellist. His father is a distinguished violinist. It is no accident that most of the children at this school come from musical families. The inheritance of talent is no different from an ethical point of view from the inheritance of other forms of property, of bonds, of stocks, of houses, or of factories. Yet, many people resent the one but not the other.
Or look at the same issues from the point of view of the parent: if you want to give your child a special chance, there are different ways you can do it. You can buy them an education - an education that will give him skills enabling him to earn a higher income; or, you can buy him a business or you can leave him property, the income from which will enable him to live better. Is there any ethical difference between these three ways of using your property, or again, if the state leaves you any money to spend over and above taxes, should you be permitted to spend it on riotous living but not permitted to leave it to your children? The ethical issues involved are subtle and complex. They are not to be resolved by resort to such simplistic formulas as fair shares for all. Indeed, if you took that seriously, it is the youngsters with less musical skills, not those with more, who should be sent to this school in order to compensate for their inherited disadvantage.
(...)
SOWELL: ...that exists now, but the question of it is, those processes may indeed reduce freedom greatly. I would go beyond the question of equality and put it more generally that any process to ascribe any status to any group of people, equality, inferiority, superiority, must necessarily reduce freedom because whatever the government wishes to ascribe to any group, whatever "place", to use the phrase that was very common in the south that blacks "should have their place", whatever place the government is going to assign to people: that place will not coincide (wait) that place will not coincide either with what all those people are doing or with how others perceive all those people because there's too much diversity among human beings to maintain any system of ascribed status from the top is going to mean reducing people's freedom across the spectrum. That's the point.
PIVEN: People have an ascribed status. It isn't as if government by its intervention creates it, people are born into this world in a given specter of the society and many, many of them are born at the bottom of the society. The argument of, about equality of results was an argument that was linked to equality of opportunity. People recognized that unless there was a degree of equality in... a degree... enough food, enough security, access to education. Unless these things were available to all children, then equality of opportunity was merely a mockery. That's why equality of results became an issue and it became an issue for black people in the United States and they expressed their concern whatever the opinion polls.
SOWELL: You expressed it, dammit, look...
PIVEN: They expressed...
SOWELL: No, they did not! They did not!
(Aplausos)
SOWELL: Dammit!
PIVEN: They expressed that.
MCKENZIE: Frances finish it and then reply.
PIVEN: They expressed their will by their extraordinary participation in a protest movement that began in the late 1950s and didn't end until the 1960s.
SOWELL: I have never...
PIVEN: Intellectuals were not in that protest movement. Black people were in that protest.
SOWELL: You want me to answer or do you want to keep on? Do you want me to answer it?
PIVEN: I've finished.
SOWELL: Good. Black people have never supported, for example, affirmative action, quotas, anything of that sort. Wherever polls have been taken of black opinion on such matters as should people be paid equally or should there be this or that. Black people have never taken a position that you described. So it is not a question of what black people choose to do: it's what you choose to put in the mouths of black people and it's what you choose to project. It is not what any black people have ever said anywhere that you could put your finger on.
PIVEN: It's what you choose to put into the mouths of the pollsters (pesquisas), as far as I can see.
SOWELL: I put in the mouth of the pollsters?
PIVEN: Look at the leadership of the black community.
SOWELL: Like most people I have never seen a pollster...
(Risos)
The Hoonde Menuhin school in the south of England is also a place of privilege. Musically talented children from all over the world compete for a chance to come here to study.
Much of the moral fervor behind the drive for equality comes from the widespread belief that it is not fair that some children should have a great advantage over others simply because they happen to have wealthy parents. Of course it is not fair, but is there any distinction between the inheritance of property and the inheritance of what, at first sight, looks very different. These youngsters have inherited wealth, not in the form of bonds or stocks, but in the form of talent. That 15_year_old is an accomplished cellist. His father is a distinguished violinist. It is no accident that most of the children at this school come from musical families. The inheritance of talent is no different from an ethical point of view from the inheritance of other forms of property, of bonds, of stocks, of houses, or of factories. Yet, many people resent the one but not the other.
Or look at the same issues from the point of view of the parent: if you want to give your child a special chance, there are different ways you can do it. You can buy them an education - an education that will give him skills enabling him to earn a higher income; or, you can buy him a business or you can leave him property, the income from which will enable him to live better. Is there any ethical difference between these three ways of using your property, or again, if the state leaves you any money to spend over and above taxes, should you be permitted to spend it on riotous living but not permitted to leave it to your children? The ethical issues involved are subtle and complex. They are not to be resolved by resort to such simplistic formulas as fair shares for all. Indeed, if you took that seriously, it is the youngsters with less musical skills, not those with more, who should be sent to this school in order to compensate for their inherited disadvantage.
(...)
SOWELL: ...that exists now, but the question of it is, those processes may indeed reduce freedom greatly. I would go beyond the question of equality and put it more generally that any process to ascribe any status to any group of people, equality, inferiority, superiority, must necessarily reduce freedom because whatever the government wishes to ascribe to any group, whatever "place", to use the phrase that was very common in the south that blacks "should have their place", whatever place the government is going to assign to people: that place will not coincide (wait) that place will not coincide either with what all those people are doing or with how others perceive all those people because there's too much diversity among human beings to maintain any system of ascribed status from the top is going to mean reducing people's freedom across the spectrum. That's the point.
PIVEN: People have an ascribed status. It isn't as if government by its intervention creates it, people are born into this world in a given specter of the society and many, many of them are born at the bottom of the society. The argument of, about equality of results was an argument that was linked to equality of opportunity. People recognized that unless there was a degree of equality in... a degree... enough food, enough security, access to education. Unless these things were available to all children, then equality of opportunity was merely a mockery. That's why equality of results became an issue and it became an issue for black people in the United States and they expressed their concern whatever the opinion polls.
SOWELL: You expressed it, dammit, look...
PIVEN: They expressed...
SOWELL: No, they did not! They did not!
(Aplausos)
SOWELL: Dammit!
PIVEN: They expressed that.
MCKENZIE: Frances finish it and then reply.
PIVEN: They expressed their will by their extraordinary participation in a protest movement that began in the late 1950s and didn't end until the 1960s.
SOWELL: I have never...
PIVEN: Intellectuals were not in that protest movement. Black people were in that protest.
SOWELL: You want me to answer or do you want to keep on? Do you want me to answer it?
PIVEN: I've finished.
SOWELL: Good. Black people have never supported, for example, affirmative action, quotas, anything of that sort. Wherever polls have been taken of black opinion on such matters as should people be paid equally or should there be this or that. Black people have never taken a position that you described. So it is not a question of what black people choose to do: it's what you choose to put in the mouths of black people and it's what you choose to project. It is not what any black people have ever said anywhere that you could put your finger on.
PIVEN: It's what you choose to put into the mouths of the pollsters (pesquisas), as far as I can see.
SOWELL: I put in the mouth of the pollsters?
PIVEN: Look at the leadership of the black community.
SOWELL: Like most people I have never seen a pollster...
(Risos)
Igualdade social - uma ilusão; ou, "um homem singular"
O Ocidente assume como válidos, tradicionalmente, dois tipos de "igualdade": a igualdade de oportunidades e a igualdade perante Deus. Enquanto o último, entendido em seus termos metafísicos, implica que devemos desfrutar de uma certa dignidade pelo fato de sermos humanos, membros da mesma comunidade no mundo, o primeiro sugere algo distinto: a permissão, por parte da cultura, do desenvolvimento de talentos e inclinações individuais livre de barreiras arbitrárias como sangue, classe social ou o que quer que seja. Mas há ainda um terceiro tipo, recente, que assume como justa e necessária a distribuição igual dos frutos econômicos da sociedade. É a estranha "igualdade social" (ou "equality of results", em inglês) de que fala Leonardo Valverde.
Por Leonardo Valverde
Já disse aqui que a idéia de igualdade é mais do que um dos pontos centrais da filosofia vedānta: é a própria estrutura da realidade. Mas que funciona simultaneamente - e isso quebra o princípio da não-contradição aristotélico - com a diferença.
Falo da realidade física e metafísica. Entendendo por física a “camada” da matéria antes da social, que, inclusive, nos torna parecidos enquanto espécies; e por metafísica a alma ou o ser; ou simplesmente aquilo que é eterno e não é matéria.
É na realidade física e metafísica, portanto, que a igualdade existe.
E numa realidade social, existe a igualdade?
Tirando a igualdade que o Direito cria, não. Somos desiguais por natureza. Criamos um aparato como a lei justamente para nos fazermos iguais sob certos princípios. Enquanto social, e fora da esfera do Direito, a idéia de igualdade chega ser absurda. Mas por quê?
Vejamos o que o Bhagavad Gītā nos diz e como ele nos ajuda a clarear as idéias:
चातुर्वर्ण्यं मया सृष्टम् गुणकर्मविभागशः
cāturvarṇyaṁ mayā sṛṣṭam guṇakarmavibhāgaśaḥ
As quatro classes são criadas por Mim,
segundo a distribuição de qualidade e ação.
segundo a distribuição de qualidade e ação.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Folclore Industrial - Igor Stravinsky e seu Concerto para Violino
por Leandro Oliveira
O fato de ser uma espécie de "outsider" na Europa talvez explique em parte a facilidade de Igor Stravinsky transformar os grandes elementos da tradição sem perder aquilo que lhe é genuíno. Assim, ele aborda os modelos ocidentais com certa neutralidade ou distanciamento, "objetos estrangeiros" manipulados sob novos pressupostos - sólidos mas originais. É o que vemos a respeito de seu "Concerto para Violino", por exemplo, e ilustrado pela "nota de programa" do próprio Stravinsky, extraída de Dialogues and a Diary:
O Concerto para Violino não foi inspirado ou modelado por nenhum exemplo. Eu não considero que os concertos de violino padrão - aqueles de Mozart, Beethoven, Mendelssohn ou mesmo Brahms - estejam entre as melhores obras de seus compositores. (O concerto de Schoenberg é uma exceção, mas dificilmente seria considerado um concerto-padrão). Os subtítulos de meu Concerto - Toccata, Aria, Capriccio - talvez sugiram Bach embora apenas de uma forma muito superficial eu possa dizer que o compositor inspire algo em sua substância musical. Encontrei alguma coisa no seu Concerto para dois violinos, como deve ficar claro no dueto do solista com um violino da orquestra no meu último movimento. Mas eu emprego outras combinações de duos, e a textura é quase sempre aquela da música de câmara. Eu não compus uma cadência, não porque pouco me importe a virtuosidade, mas porque a combinação do violino com os outros instrumentos é que era o meu principal interesse. De qualquer forma, a virtuosidade por si só tem um papel muito pequeno no Concerto, e as demandas técnicas da peça são relativamente pequenas.
A última ressalva poderia ser dita apenas por um não violinista. O Concerto é definitivamente difícil e o solista toca todo tempo. No entanto, o violino não se distancia da orquestra como acontece em outros do gênero: ele é tratado como "primeiro entre pares" e, por vezes, desaparece na textura geral como em um concerto Barroco.
Stravinsky compôs seu Concerto em Ré para Samuel Dushkin, o violinista de origem polonesa que teve a idéia de comissioná-lo. Stravinsky nos lembra em An Autobiography de seu eterno ceticismo com os virtuosos, incapazes de sobrepujar suas tentações de efeitos sensacionais ou brilho fácil. Mas o compositor impressionou-se com a "cultura musical" e a "abnegação" de Dushkin. Tornaram-se grandes amigos até o final da vida do compositor - o violinista morreu em 1976.
Samuel Dushkin fez a estréia em outubro de 1931, com a Orquestra da Rádio de Berlim sob a direção do próprio compositor. Infelizmente, a gravação desta performance perdeu-se na Segunda Guerra mundial.
O fato de ser uma espécie de "outsider" na Europa talvez explique em parte a facilidade de Igor Stravinsky transformar os grandes elementos da tradição sem perder aquilo que lhe é genuíno. Assim, ele aborda os modelos ocidentais com certa neutralidade ou distanciamento, "objetos estrangeiros" manipulados sob novos pressupostos - sólidos mas originais. É o que vemos a respeito de seu "Concerto para Violino", por exemplo, e ilustrado pela "nota de programa" do próprio Stravinsky, extraída de Dialogues and a Diary:
O Concerto para Violino não foi inspirado ou modelado por nenhum exemplo. Eu não considero que os concertos de violino padrão - aqueles de Mozart, Beethoven, Mendelssohn ou mesmo Brahms - estejam entre as melhores obras de seus compositores. (O concerto de Schoenberg é uma exceção, mas dificilmente seria considerado um concerto-padrão). Os subtítulos de meu Concerto - Toccata, Aria, Capriccio - talvez sugiram Bach embora apenas de uma forma muito superficial eu possa dizer que o compositor inspire algo em sua substância musical. Encontrei alguma coisa no seu Concerto para dois violinos, como deve ficar claro no dueto do solista com um violino da orquestra no meu último movimento. Mas eu emprego outras combinações de duos, e a textura é quase sempre aquela da música de câmara. Eu não compus uma cadência, não porque pouco me importe a virtuosidade, mas porque a combinação do violino com os outros instrumentos é que era o meu principal interesse. De qualquer forma, a virtuosidade por si só tem um papel muito pequeno no Concerto, e as demandas técnicas da peça são relativamente pequenas.
A última ressalva poderia ser dita apenas por um não violinista. O Concerto é definitivamente difícil e o solista toca todo tempo. No entanto, o violino não se distancia da orquestra como acontece em outros do gênero: ele é tratado como "primeiro entre pares" e, por vezes, desaparece na textura geral como em um concerto Barroco.
Stravinsky compôs seu Concerto em Ré para Samuel Dushkin, o violinista de origem polonesa que teve a idéia de comissioná-lo. Stravinsky nos lembra em An Autobiography de seu eterno ceticismo com os virtuosos, incapazes de sobrepujar suas tentações de efeitos sensacionais ou brilho fácil. Mas o compositor impressionou-se com a "cultura musical" e a "abnegação" de Dushkin. Tornaram-se grandes amigos até o final da vida do compositor - o violinista morreu em 1976.
Samuel Dushkin fez a estréia em outubro de 1931, com a Orquestra da Rádio de Berlim sob a direção do próprio compositor. Infelizmente, a gravação desta performance perdeu-se na Segunda Guerra mundial.
"De Tormentibus Inferorum", Cap. IX
por Fernanda Vaz
Três são as estéticas que ditam a aparência do inferno; a da maçonaria, a da Wicca e a do Hinduísmo Kitsch. Pelas paredes se vê cabeças de bafomé, pentagramas purpurinados, pirâmides com olhos, esquadros e compassos, gentes azuis tocando flauta com os dedinhos levantados, quadros de gif animado (invenção local) com bruxinhas em estilo mangá, velas vermelhas, retratos de Morgana Le Fay desenhados a grafite por garotas de quinze anos, elefantes rosa bebê em posição de lótus [...]
[...] ecoam por todos os cantos trechos de Osvaldo Golijov - dizem uns, em espanhol, que o próprio foi para o céu, mas é certo que sua música não fez nem uma parada pequena no purgatório, descendo direto pelos mais fétidos encanamentos metafísicos até cair no lago de fogo e enxofre, onde as almas gritam incontrolavelmente frases desconexas das quais só se distingue de vez em quando alguma palavra como "desconstrução", "reificação", "pedagogia do oprimido", "coisa-em-si", "luta de classes", "pré-conceito", "pós-estruturalismo", "educação bancária", "metanarrativa" [...]
Na porta do inferno lê-se em Comic Sans roxa "Dejad toda esperanza, vosotros que entráis" [...] os primeiros anos de tormento eterno são passados ainda na antecâmara, um enorme labirinto em que os recém-chegados são perseguidos por Gabriel Colombo. Outras versões dizem que a primeira frase que as almas penadas ouvem ao entrar no território internal é "vamo quebrá tudo, galerinha", seguida de uma enorme gincana onde os participantes precisam constantemente formar círculos, dar as mãos, ter suas pernas amarradas nas do coleguinha, carregar ovos na colher com a boca, passar folhas de papel uns aos outros com a boca e toda sorte de torturas excruciantes e diabólicas. Autores mais antigos, entretanto, tiveram o cuidado de avisar o homem comum sobre a grande chance de serem reais não um ou outro, mas ambos os tipos de tormento [...]
Em face de todas estas cousas, muitos sábios e filósofos se perguntaram que lugar tinham nas hostes infernais os pequenos monstros e criaturas horrendas de Bosch e Dürer (que sabe-se residirem ao lado de Bach e Mahler). Verdade é que se encontram estas numa ala inteira do céu, bicando felizes com seus bicos e saltitando com suas pernas mirradas, ao lado do horrendo homem para o qual a criança eternamente olha e de todas as cousas feias construídas ainda assim de acordo com os preceitos do belo.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Festina lente
Leituras pedantes servem como tema de Richard Costa para estréia em Ocidentalismo.org.
por Richard Costa
Recebo todo dia um email com uma expressão francesa obscura decodificada. Uma expressão em particular ativou meu sexto sentido de pedante leitor de citações:
Chi/qui va piano va sano
Qui va doucement va sûrement
[...]
En Italie, on avait aussi la forme plus complète "chi va piano, va sano ; chi va sano, va bene ; chi va bene, va lontano".
Nicolas Boileau disait à peu près la même chose sous la forme "hâtez-vous lentement".
Nicolas Boileau, considerado "inatingível" por Borges, é um desses poetas franceses que nunca tive disposição para ler. Mas mesmo assim, foi aí que o meu sentido de pedante entrou em alerta, pois a atribuição é falsa, o autor é Augustus in "Doze Césares" (XXV, 4):
Nihil autem minus perfecto duci
quam festinationem temeritatemque convenire arbitratur.
Crebro itaque illa iactabat: σρɛῦδɛ βραδέως.
quam festinationem temeritatemque convenire arbitratur.
Crebro itaque illa iactabat: σρɛῦδɛ βραδέως.
He thought nothing less becoming
in a well-trained leader than haste and rashness,
and, accordingly, favourite sayings of his were: More haste, less speed.
(tr. J.C. Rolfe)
in a well-trained leader than haste and rashness,
and, accordingly, favourite sayings of his were: More haste, less speed.
(tr. J.C. Rolfe)
Julgava que não havia nada menos impróprio
a um líder excelente do que a pressa e a temeridade.
Frequentemente repetia: Apressa-te lentamente.
a um líder excelente do que a pressa e a temeridade.
Frequentemente repetia: Apressa-te lentamente.
O imperador formulou em grego, mas Erasmus reformulou em latim nos "Adagia" como Festina lente.
Algumas paráfrases:
He hasteth wel that wisly kan abyde.
— Chaucer, Troilus & Criseyde i. 956 (1385)
Gently make haste... A hundred times consider what you've said.
— Dryden, Poems 1958 I. 336 (1683)
Make haste slowly.
— Ben Franklin, Poor Richard's Almanack (Apr. 1744)
Elle se hâte avec lenteur.
— La Fontaine, Le Lièvre et la Tortue
Hâtez-vous lentement ; et, sans perdre courage,
Vingt fois sur le métier remettez votre ouvrage.
— Nicolas Boileau, L'Art poétique
Há um ensaio mais variado sobre a expressão no "Varieties".
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Os intelectuais e o socialismo
Por Leandro Oliveira
Relendo meus arquivos encontro um texto excelente: "Os Intelectuais e o Socialismo" de Friedrich Hayek (1899 - 1992), um dos grandes economistas do pós guerra, defensor contundente dos valores liberais e um dos poucos intelectuais públicos que não foi abduzido pelo ópio do marxismo - espécie de alucinógeno que no século passado, qual um crack concentrado, trouxe seqüelas incontornáveis a mentes as mais talentosas (explicação necessária aos nossos leitores jovens que não sabem do que se trata...). Considerei compartilhar.
(...) In every country that has moved toward socialism, the phase of the development in which socialism becomes a determining influence on politics has been preceded for many years by a period during which socialist ideals governed the thinking of the more active intellectuals. In Germany this stage had been reached toward the end of the last century; in England and France, about the time of the first World War. To the casual observer it would seem as if the United States had reached this phase after World War II and that the attraction of a planned and directed economic system is now as strong among the American intellectuals as it ever was among their German or English fellows. Experience suggests that, once this phase has been reached, it is merely a question of time until the views now held by the intellectuals become the governing force of politics.
(...) The term "intellectuals," however, does not at once convey a true picture of the large class to which we refer, and the fact that we have no better name by which to describe what we have called the secondhand dealers in ideas is not the least of the reasons why their power is not understood. Even persons who use the word "intellectual" mainly as a term of abuse are still inclined to withhold it from many who undoubtedly perform that characteristic function. This is neither that of the original thinker nor that of the scholar or expert in a particular field of thought. The typical intellectual need be neither: he need not possess special knowledge of anything in particular, nor need he even be particularly intelligent, to perform his role as intermediary in the spreading of ideas. What qualifies him for his job is the wide range of subjects on which he can readily talk and write, and a position or habits through which he becomes acquainted with new ideas sooner than those to whom he addresses himself.
(...) A proper understanding of the reasons which tend to incline so many of the intellectuals toward socialism is thus most important. The first point here which those who do not share this bias ought to face frankly is that it is neither selfish interests nor evil intentions but mostly honest convictions and good intentions which determine the intellectual's views. In fact, it is necessary to recognize that on the whole the typical intellectual is today more likely to be a socialist the more he his guided by good will and intelligence, and that on the plane of purely intellectual argument he will generally be able to make out a better case than the majority of his opponents within his class. If we still think him wrong, we must recognize that it may be genuine error which leads the well- meaning and intelligent people who occupy those key positions in our society to spread views which to us appear a threat to our civilization.
(...) It is perhaps the most characteristic feature of the intellectual that he judges new ideas not by their specific merits but by the readiness with which they fit into his general conceptions, into the picture of the world which he regards as modern or advanced. It is through their influence on him and on his choice of opinions on particular issues that the power of ideas for good and evil grows in proportion to their generality, abstractness, and even vagueness. As he knows little about the particular issues, his criterion must be consistency with his other views and suitability for combining into a coherent picture of the world. Yet this selection from the multitude of new ideas presenting themselves at every moment creates the characteristic climate of opinion, the dominant Weltanschauung of a period, which will be favorable to the reception of some opinions and unfavorable to others and which will make the intellectual readily accept one conclusion and reject another without a real understanding of the issues.
O artigo é curto e tem pontos de vista muito lúcidos sobre questões as mais pertinentes: decisiva, por exemplo, é sua definição do que seria um "intelectual" contemporâneo. Muitos dos leitores de Ocidentalismo.org são jovens interessados na atividade acadêmica. Esta referência, de uma figura notável antes de tudo por sua lucidez e realismo intransigente, é uma espécie de texto de formação. Para acessá-lo na íntegra, clique aqui.
Relendo meus arquivos encontro um texto excelente: "Os Intelectuais e o Socialismo" de Friedrich Hayek (1899 - 1992), um dos grandes economistas do pós guerra, defensor contundente dos valores liberais e um dos poucos intelectuais públicos que não foi abduzido pelo ópio do marxismo - espécie de alucinógeno que no século passado, qual um crack concentrado, trouxe seqüelas incontornáveis a mentes as mais talentosas (explicação necessária aos nossos leitores jovens que não sabem do que se trata...). Considerei compartilhar.
(...) In every country that has moved toward socialism, the phase of the development in which socialism becomes a determining influence on politics has been preceded for many years by a period during which socialist ideals governed the thinking of the more active intellectuals. In Germany this stage had been reached toward the end of the last century; in England and France, about the time of the first World War. To the casual observer it would seem as if the United States had reached this phase after World War II and that the attraction of a planned and directed economic system is now as strong among the American intellectuals as it ever was among their German or English fellows. Experience suggests that, once this phase has been reached, it is merely a question of time until the views now held by the intellectuals become the governing force of politics.
(...) The term "intellectuals," however, does not at once convey a true picture of the large class to which we refer, and the fact that we have no better name by which to describe what we have called the secondhand dealers in ideas is not the least of the reasons why their power is not understood. Even persons who use the word "intellectual" mainly as a term of abuse are still inclined to withhold it from many who undoubtedly perform that characteristic function. This is neither that of the original thinker nor that of the scholar or expert in a particular field of thought. The typical intellectual need be neither: he need not possess special knowledge of anything in particular, nor need he even be particularly intelligent, to perform his role as intermediary in the spreading of ideas. What qualifies him for his job is the wide range of subjects on which he can readily talk and write, and a position or habits through which he becomes acquainted with new ideas sooner than those to whom he addresses himself.
(...) A proper understanding of the reasons which tend to incline so many of the intellectuals toward socialism is thus most important. The first point here which those who do not share this bias ought to face frankly is that it is neither selfish interests nor evil intentions but mostly honest convictions and good intentions which determine the intellectual's views. In fact, it is necessary to recognize that on the whole the typical intellectual is today more likely to be a socialist the more he his guided by good will and intelligence, and that on the plane of purely intellectual argument he will generally be able to make out a better case than the majority of his opponents within his class. If we still think him wrong, we must recognize that it may be genuine error which leads the well- meaning and intelligent people who occupy those key positions in our society to spread views which to us appear a threat to our civilization.
(...) It is perhaps the most characteristic feature of the intellectual that he judges new ideas not by their specific merits but by the readiness with which they fit into his general conceptions, into the picture of the world which he regards as modern or advanced. It is through their influence on him and on his choice of opinions on particular issues that the power of ideas for good and evil grows in proportion to their generality, abstractness, and even vagueness. As he knows little about the particular issues, his criterion must be consistency with his other views and suitability for combining into a coherent picture of the world. Yet this selection from the multitude of new ideas presenting themselves at every moment creates the characteristic climate of opinion, the dominant Weltanschauung of a period, which will be favorable to the reception of some opinions and unfavorable to others and which will make the intellectual readily accept one conclusion and reject another without a real understanding of the issues.
O artigo é curto e tem pontos de vista muito lúcidos sobre questões as mais pertinentes: decisiva, por exemplo, é sua definição do que seria um "intelectual" contemporâneo. Muitos dos leitores de Ocidentalismo.org são jovens interessados na atividade acadêmica. Esta referência, de uma figura notável antes de tudo por sua lucidez e realismo intransigente, é uma espécie de texto de formação. Para acessá-lo na íntegra, clique aqui.
De magische wereld van M. C. Escher
por Julio Lemos
Escrevi sobre Gödel -- e fiquei surpreso com a popularidade do artigo em duas partes. Invoco novamente o nome do lógico austríaco em razão da minha visita à exposição de 85 gravuras do artista holandês M. C. Escher em Brasília, organizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil.
Mas que tem Escher com Gödel? A associação entre eles, no meu caso ao menos, resulta do clássico "Gödel, Escher, Bach - An Eternal Golden Braid", do matemático Douglas Hofstadter. O autor, entretanto, não sugeriu gratuitamente a associação. Ambos, Gödel em lógica e Escher como artista gráfico, lidaram com os limites do pensamento e da forma dos paradoxos; o primeiro através de teoremas, com o uso da linguagem lógico-matemática, e o segundo através da imagem.
Contemplar as obras de Escher -- em grande parte composta por gravuras e desenhos, mas também com tapeçarias e ilustrações para livros -- exige um pouco do 'espectador'. Diria que o prazer que tiramos da sua contemplação se assemelha ao que temos ao resolver um puzzle -- embora não haja sempre uma solução visual. Desde os primeiros trabalhos de Escher, presentes felizmente no acervo exposto, observamos as mesmas características: ao lado da exatidão, do cuidado e das linhas severas (que lembram os textos de Wittgenstein), e até do realismo, temos os jogos de perspectiva, de início sutis, e depois as metamorfoses, uma bizarra geometria, enfim, o usual em forma não-usual.
domingo, 7 de novembro de 2010
Ánguelos Seferiadis, "Hipólito"
Mais uma apresentação de um poeta notável, em tradução de Mario Domínguez Parra.
Por Érico Nogueira
En su autobiografía Kydathineon 9 (dirección de la casa familiar en el barrio de Plaka, en Atenas), Tsatsu dedica algunos párrafos a la figura de su hermano Ánguelos Seferiadis, del que (comparado con su padre, Stylianós Seferiadis, abogado y profesor universitario además de poeta lírico y traductor de Byron, y su otro hermano, Yorgos Seferis, el primer premio Nobel griego), escribió que era de pocas palabras, cuidadoso con cada una de ellas, austero e inclinado al silencio. Poeta, traductor de Hamlet, obra a la que dedicó muchos años. Durante la invasión nazi estuvo en la cárcel durante un tiempo. Tras esa experiencia decidió emigrar a Nueva York. Murió en Monterrey, donde daba clases de griego en la Escuela de Oficiales. Su vida se apagó mientras dormía, con el Fedón de Platón entre las sábanas. No llegó a cumplir los cuarenta y cinco años. Henry Miller, que conoció a Seferis, en una carta a Lawrence Durrell desde Big Sur, fechada en 1948, escribió: «Recibí la visita de Ánguelos Seferiadis, que está dando clases de griego en “El Presidio” (escuela militar), en los alrededores de Monterrey» (vid. The Durrell-Miller Letters, 1935-1980, ed. Ian S. MacNiven, New Directions, 1988). El poema que aquí presento, «Hipólito», aparece citado en Kydathineon 9, aunque Tsatsu inserta un comentario justo antes de la mención de los ríos, lo cual invita a pensar que pueda tratarse de dos textos diferentes. Dada la dificultad de encontrar una edición original del libro de Seferiadis y por el notable interés que me parece que tiene el texto, o los dos textos juntos, decidí presentarlos como un poema.
ÁNGUELOS SEFERIADIS
HIPÓLITO
Cuando se derrite, chupando la arena fresca, la ola
te respira en un pulso saladísimo.
Y tras alejarse cual león que pisa las algas
me grita, y su voz me trae tu señal,
hijo mío. Cómo brama la voz de la sangre…
Muero
sereno en el resplandor. Oculto e incierto,
separo ahora el fruto de las raíces.
Tantos ríos que se derramaban en el Mar Negro se secaron; el Volga, el Dniéper, el Dniéster, y sólo el ensangrentado Escamandro, un poco más abajo, se desbordó hoy de nuevo, bullendo.
El Escamandro, o Astiánax, un arroyo increíble, insondable,
—puesto que goteaban las lágrimas en el bajo del escudo
y los cuervos partían a recogerse en las quemadas proas de los barcos—se levantó el lodo, como la herida cicatrizada que vuelve a abrirse, y corrió su densa, rojísima sangre, indiferente.
Lo encontré, bajando a Monastiraki,
conforme iba a comprar tabaco y papel de fumar.
Lloraba en los brazos de una desconocida,
que no era Andrómaca, la famosa princesa ganada con la lanza…
Se encontraron de nuevo varias noches
como dos flechas en el cuerpo de un San Sebastián.
sábado, 6 de novembro de 2010
Entrevistas com e sobre filósofos
Por Julio Lemos
O número de temas que interessavam os filósofos -- ou "físicos" -- pré-socráticos já era muito grande. A composição do universo, o caráter da matéria, os elementos, a fluidez da realidade, a guerra, a ética, os deuses (e talvez até Deus), o sentido da vida... Enumerei esses exemplos pensando em fragmentos de gente como Heráclito, Demócrito e Anaxágoras, que li quando estava no colegial.
Pouco depois, ao tomar contato com a filosofia moderna e contemporânea, descobri que os temas são os mesmos, mas que há muito mais "fragmentos" e, por assim dizer, sub-temas, derivações, especializações, associações com outras áreas, como a biologia e a matemática. É difícil citar um tema que tenha ficado fora da discussão filosófica: de Deus à prática da medicina.
O excelente blog Philosophy Bites realizou muitas entrevistas nos últimos tempos. Lá estão nomes conhecidos e nem tão conhecidos a falar sobre muitos temas, literalmente de Deus à prática da medicina, se me permitem a repetição. Fica às leitoras e leitores uma alternativa inteligente para passar o tempo.
A situação revolucionária
Revolutionaries themselves are the last people to realize when, through force of time and circumstance, they have gradually become conservatives. It is scarcely to be wondered at if the public is very nearly as slow in the uptake. To the public a red flag remains a red rag even when so battered by wind and weather that it could almost be used as a pink coat. Nothing is so common as to see a political upheaval pass practically unnoticed merely because the names of the leaders and their parties remain the same. Similarly in the world of music, the fact that some of the key-names in modern music, such as Stravinsky and Schönberg, are the same as before the war has blinded us to the real nature of the present-day musical revolution. We go on using the words 'revolutionary composer' just as we go on using the words 'Liberal' and 'Bolshevik'; but between the modern music of pre-war days and that of today lies as much difference as that between the jolly old Gilbertian 'Liberal or Conservative' situation and the present mingled state of the parties, or that between the clear anarchical issues of the October revolution and the present situation in Russian politics with Stalin at the head of a frustrated Five Year Plan and Trotsky fuming in exile.
To the seeker after the new, or the sensational, to those who expect a sinister frisson from modern music, it is my melancholy duty to point out that all the bomb throwing and guillotining has already taken place. If by the word 'advanced' we mean art that departs as far as possible from the classical and conventional norm, then we must admit that pre-war music was considerably more advanced (if that is any recommendation) than the music of our own days. Schönberg's Erwartung for example, still the most sensational essay in modern music from the point of view of pure strangeness of sound, was actually finished in 1909. If your ear can assimilate and tolerate the music written in 1913 and earlier, then there is nothing in post-war music that can conceivably give you an aural shock, though the illogicality of some of the present-day pastiches may give you 'a rare turn' comparable to the sudden stopping of a lift in transit.
We are most of us sensationalists at heart, and there is something rather sad about the modern composer's relapse into good behaviour. There is a wistful look about the more elderly 'emancipated' critics when they listen to a concert of contemporary music; they seem to remember the barricades of the old Russian Ballet and sniff plaintively for blood. The years that succeed a revolution have an inevitable air of anticlimax, and it is noticeable that popular interest in the Russian Soviet films has considerably waned since the directors turned from the joys of destruction to the more sober delights of construction. With the best will in the world we cannot get as excited about The General Line as we did about Potemkin, and it is doubtful if any of the works written since the war will become a popular date in musical history, like those old revolutionary war-horses Le Sacre du Printemps and Pierrot Lunaire.
Constant Lambert in "MUSIC HO! - A STUDY OF MUSIC IN DECLINE" (1934).
To the seeker after the new, or the sensational, to those who expect a sinister frisson from modern music, it is my melancholy duty to point out that all the bomb throwing and guillotining has already taken place. If by the word 'advanced' we mean art that departs as far as possible from the classical and conventional norm, then we must admit that pre-war music was considerably more advanced (if that is any recommendation) than the music of our own days. Schönberg's Erwartung for example, still the most sensational essay in modern music from the point of view of pure strangeness of sound, was actually finished in 1909. If your ear can assimilate and tolerate the music written in 1913 and earlier, then there is nothing in post-war music that can conceivably give you an aural shock, though the illogicality of some of the present-day pastiches may give you 'a rare turn' comparable to the sudden stopping of a lift in transit.
We are most of us sensationalists at heart, and there is something rather sad about the modern composer's relapse into good behaviour. There is a wistful look about the more elderly 'emancipated' critics when they listen to a concert of contemporary music; they seem to remember the barricades of the old Russian Ballet and sniff plaintively for blood. The years that succeed a revolution have an inevitable air of anticlimax, and it is noticeable that popular interest in the Russian Soviet films has considerably waned since the directors turned from the joys of destruction to the more sober delights of construction. With the best will in the world we cannot get as excited about The General Line as we did about Potemkin, and it is doubtful if any of the works written since the war will become a popular date in musical history, like those old revolutionary war-horses Le Sacre du Printemps and Pierrot Lunaire.
Constant Lambert in "MUSIC HO! - A STUDY OF MUSIC IN DECLINE" (1934).
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Dom Quixote - Um Romance do Século XXI (3)
Como "Dom Quixote" pode atravessar os anos para dizer algo a nós nos dias de hoje? Além de várias coisas, ainda pela ilustração exemplar da negação da realidade - elemento fundamental para entender as grandes ideologias do século XX que reverberam em boa parte das boas intenções e políticas públicas de nosssos dias. É o que diz Nivaldo Cordeiro.
Por Nivaldo Cordeiro
Retirado de Loop Mídia.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Poemas de Amor - Nazim Hikmet
Quevedo, Kaváfis, Pierre Louÿs - além de alguns versos da própria lavra. Eis algumas das pérolas poéticas que Pedro Gonzaga vem oferecendo aos leitores do Ocidentalismo.org. Agora é a vez de nos deliciarmos com alguns dos mais belos versos de um extraordinário poeta, o turco Nazim Hikmet. Além das traduções abaixo, o leitor não pode perder o texto de Gonzaga sobre Hikmet na Revista Norte, onde encontrará ainda outros versos notáveis do autor de "Carta para minha mulher".
Por Pedro Gonzaga
Poemas de Nazim Hikmet (traduzidos do inglês)
Vera Acordando
as cadeiras dormem sobre os próprios pés
assim como a mesa
o tapete está deitado de costas
aprisionando seu desenho
o espelho está dormindo
os olhos das janelas estão bem fechados
a sacada dorme com suas pernas balançando em pleno ar
no telhado em frente dormem também as chaminés
assim como as acácias na calçada
a nuvem dorme
com uma estrela guardada no peito
a luz dorme aqui dentro e lá fora
você acordou minha rosa
as cadeiras acordaram
e se puseram a passear de lá para cá
junto com a mesa
o tapete se sentou ereto
lentamente revelando suas cores
como um lago ao entardecer despertou o espelho
as janelas abriram seus grandes olhos azuis
acordou a sacada
e recolheu suas pernas do ar
no telhado em frente as chaminés fumegaram
as acácias na calçada irromperam numa canção
a nuvem acordou
e lançou a estrela guardada em seu peito para dentro de nosso quarto
a luz despertou aqui dentro e lá fora
inundando teus cabelos
deslizando por entre teus dedos
abraçando tua cintura nua e estes teus pés tão brancos
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
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