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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Destino virtual

por Leandro OLiveira

Parece destino, e é. Todos os empreendimentos com a natureza deste site acaba fadado ao que está: a falta de zelo por falta de tempo. A verdade é que Ocidentalismo.org serve como plataforma para tantas coisas - aulas, reflexões, aglutinação de afinidades -, mas a rotina com suas necessidades faz com que as tantas coisas - aulas, reflexões e busca de afinidades - se tornem mais importantes que a plataforma que as tornam públicas.

Ocidentalismo.org interrompe suas atividades por um período indeterminado.

Aos colaboradores e amigos, meu muito obrigado.

Aos leitores, além do agradecimento, as desculpas pelos erros.

Ps: O novo layout é lindo. Oxalá nosso retorno, quando for, se dê com a cara nova.

terça-feira, 19 de abril de 2011

There is so much beauty in the world

selecionado por Leandro Oliveira


I had always heard your entire life flashes in front of your eyes the second before you die. First of all, that one second isn't a second at all: it stretches on forever, like an ocean of time.

For me, it was lying on my back at Boy Scout Camp, watching falling stars.

And yellow leaves from the maple trees that lined our street.

Or my grandmother's hands, and the way her skin seemed like paper.

And the first time I saw my cousin Tony's brand new Firebird...

And Janie! and Janie!

And Carolyn.

I guess I could be pretty pissed off about what happened to me, but it's hard to stay mad when there's so much beauty in the world. Sometimes I feel like I'm seeing it all at once, and it's too much. My heart fills up like a balloon that's about to burst. And then I remember to relax, and stop trying to hold on to it, and then it flows through me like rain, and I can't feel anything but gratitude for every single moment of my stupid little life.

You have no idea what I'm talking about, I'm sure. But don't worry - you will someday.

Em busca de um outro modelo


por Leandro Oliveira

Jamais deixei de tratar aqui o "caso OSB" como o que definitivamente é: uma comédia de erros, de enredo pífio, sem pé ou cabeça, onde as conclusões últimas são nada mais que desdobramentos conseqüentes de decisões invariavelmente desastrosas que sucedem-se a exaustão. Os protagonistas são diletantes vaidosos e sindicatos, que agem em nome dos incompetentes. A esta altura o assunto se tornou por demais enfadonho para que possamos seguir a riso; e que todos o sigam levando a sério não deixa de tornar tudo ainda mais enfadonho.

Para ser didático, chamo apenas a atenção para uma idiossincrasia. Os jornalistas e amigos que defendem o processo de reestruturação partem de uma perplexidade, a de que tudo não passa da ação de um grande maestro realizando os procedimentos necessários para reconstruir uma que um dia foi uma grande orquestra; ele estaria sendo sabotado.

Então, questão de ordem: quem é que disse que Roberto Minczuk é um grande maestro? Quem disse que a OSB um dia foi uma grande orquestra? Apenas em um país onde a cultura musical é paupérrima coisas assim podem reverberar inadimplentes. Ninguém precisa acreditar em mim e por isso trago, para provar o primeiro, que o segundo é hors de question, a crítica da atuação do maestro junto à Philadelphia Orchestra.

E o faço não por crueldade mas para tomar o verdadeiro assunto do post que é a Philadelphia Orchestra - uma das big five, as cinco mais poderosas instituições orquestrais dos EUA, e que acaba de pedir concordata. Após a greve da Orquestra Sinfônica de Detroit (que durou alguns meses e terminou semana passada), este é o verdadeiro assunto da música clássica internacional. No Brasil, nenhum caderno de cultural deu uma notinha sequer, jornalistas especializados provincianos que temos.

(A título de exemplo, imaginem se o clube do Barcelona pedisse falência, imaginem a possibilidade da notícia passar incólume pelos grandes veículos de esporte!)

Todos especialistas do mundo da música clássica se perguntavam, a boca pequena, já há muito tempo, qual seria a primeira grande orquestra a fechar as portas. Minha aposta pessoal era alguma da Itália, que cancelara parte das suas subvenções estatais no governo Berlusconi. Mas a surpresa veio mesmo após a crise americana.

A Philadelphia Orchestra é uma das mais influentes e tradicionais do Ocidente. "Influente" e "tradicional" de fato, não algo como a a OSB onde a palavra "tradição" é apenas um sucedâneo para "velhice". (Para casos como a OSB, Gustav Mahler nos deixou uma frase ótima: Tradition ist Schlamperei!). Diante da Philadelphia Orchestra estamos frente a um monumento norte-americano, uma orquestra que teve sua fase áurea com Eugene Ormandy, e por onde passou, antes dele, Leopold Stokowsky, e após, Wolfgang Sawalisch ou Christoph Eschenbach.

Seu eventual fechamento é o primeiro que pode, de modo real, acontecer no universo das grandes instituições clássicas. Esta é a notícia musical do mês: pode fechar as portas uma orquestra fundada em 1900 que desbravou parte importante do mercado fonográfico em 1925 e - sobretudo - participou, em 1940, da gravação do extraordinário "Fantasia" de Walt Disney; uma orquestra que não deitou em berço esplêndido e, sempre antenada com os tempos, se tornou, em 2006, a primeira a disponibilizar para download a gravação de suas performances, diretamente de seu website.

Na prática, a concordata a alivia de pagamento a credores, e permite a renegociação imediata do contrato com os músicos - inclusive com os fundos de aposentadoria. De fato, esperamos todos, deverá servir como o primeiro passo para uma eventual reconstrução. O que devemos entender atentamente é como tal reconstrução apresentará saídas para um modelo de negócios que, fundado no trinômio "subvensão pública - venda de assinaturas - verbas de patrocinadores", parece fadado ao fracasso.

Gestores de cultura de todo mundo acordaram em um pesadelo - ele contava que uma orquestra sinfônica é uma entidade muito cara para não prever permanentemente fórmulas generosas e criativas de geração de receita e controle de gastos.

O mundo clássico virou seus olhos para Philadelphia. Parece impossível deixar de acompanhar as bobagens aqui ao lado, mas ao menos alguns de nós para lá é que deveríamos virar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amnésia Cultural - Monteiro Lobato

por Leandro Oliveira

Deus e a Osesp fizeram com que minha segunda-feira amanhecesse em Taubaté no exato dia do aniversário do filho ilustre da cidade, Monteiro Lobato. A Providência - esta senhora cheia de caprichos - fizera antes com que no sábado, dia 16, sem que soubesse das comemorações de aniversário ou atinasse que aqui tratava-se da cidade natal do escritor, eu vasculhasse minha biblioteca trechos do "Urupês" e outras bizarrias do homem que sonhou a Cuca, a Emília e o Visconde de Sabugosa.

Não entendendo tais desígnios mas imaginando que raros deles são vãos, decido compartilhar minhas perplexidades. E homenagear o homem, com sua famosa autobiografia.

Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884 (na verdade 1882). Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez, aos 5 anos, um célebre ditado: “Cavalo pangaré/Mulher que... em pé/Gente de Taubaté/ Dominus libera mé”.

Concordou.

Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.

Gostava de livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares de França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.

Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau – apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire. Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano – merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi (que nunca usou no dedo, aliás).

Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a 4.000 o alqueire.

Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários. Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.

Escreveu umas tantas lorotas que se vendem – Urupês, gênero de grande saída, Cidades mortas, Idéias de Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Pretente publicar ainda um romance sensacional que começa por um tiro:

- Pum! E o infame cai redondamente morto...

Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja, a de suprimir todos os pedaços que o leitor pula.

Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.

Físico: lindo!


Monteiro Lobato, "A Novela Semanal" (São Paulo, 2 de maio 1921)

Observatório Ocidentalismo

por Leandro OLiveira

Mariss Jansons, o maestro mais influente, inspirador e técnico da atualidade - ou seja, o melhor - renova seu contrato com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Munique. E seguirá a frente da Royal Concertgebouw Orchestra. É o único regente a cuidar concomitantemente de duas entre as dez melhores da europa.


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The Fabulous Philadelphians, the "solid gold Cadillac of orchestras," the internationally revered ensemble built by Stokowski and Ormandy, says it is headed for bankruptcy.

Para saber mais, clique aqui.

This should be a wakeup call for the entire classical music business. Because, yes, the Philadelphia Orchestra has had serious problems, but those problems can't the sole cause of the bankruptcy. Orchestras have had management/board/musician problems before, and survived, because the financial and cultural climate wasn't dealing them death blows.

(...) This bankruptcy is big, big news.


Aqui

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Revista de interesse da PUC-Rio: ERA - Ética e Realidade Atual. Vale inserção nos favoritos.

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Jeffrey Toobin talks with Tim Wu, a professor at Columbia Law School and the author of "The Master Switch: The Rise and Fall of Information Empires," about how forms of communication, from the telephone to the Internet, are eventually controlled by monopolies, the battle between Apple and Google, and the future of information technology.

Leia mais em http://www.newyorker.com/online/blogs/currents#ixzz1Jpe1rugX

Colt Cavalhinho 38 Cromado


por Érico Nogueira

- Sonhei que tinha um colt cavalhinho 38 cromado. E quis contar pra vocês - já que minha tese, neste ano, vai me deixar pouquíssimo espaço pra falar de outra coisa senão dela própria;

- Teócrito é poeta imenso. Ao traduzi-lo, ora com o dodecassílabo, ora com o meu hexatônico, me sinto um pouco menos incompleto, como poeta. Participo do seu bom-humor, da sua jovialidade, das suas tiradas fantásticas, da sua mistura de registros, - e até da sua graveza e da sua ternura, aqui e ali;

- a D&C deste semestre está fenomenal: não percam;

- naufragou a tentativa de fundar uma revista/portal on-line junto com outros amigos; numa palvra: é muita estrela pra pouca constelação, como dizia o Raul, - pra nada dizer da pouca vontade de dialogar, de mediar as próprias opiniões; tá lá no Tocqueville: democracia é mediação - e pouca coisa a mais; depois a gente reclama dos autoritarismos; fiquei de saco cheio; nada, porém, que afetasse a minha amizade por todos eles;

- sonhei com um colt cavalhinho; mirava no matagal, atirava, Adriana vinha, me trazia suco de abacaxi... E Freud que vá pra puta que o pariu -- eu só queria o abacaxi, a Adriana e o colt; só isso, nada mais.

Retirado de Ars Poetica.

domingo, 17 de abril de 2011

Прелюдии и фуги соч. 87

por Leandro Oliveira

Poucas coisas do pós guerra, em música, me emocionam tanto quanto isto aqui. Shostakovich rules para abençoar o domingo.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Paulo Francis - Pugilista de idéias

por Roberto Campos

Sempre achei que o Brasil não se salvaria pelo silogismo. Mas poderia ser salvo pela anedota...

Nesse sentido, a contribuição de Paulo Francis para a modernização da mentalidade brasileira foi mais relevante que a minha. Enquanto eu produzia secos silogismos, Francis usava o veneno da ironia e o punhal do sarcasmo para colocar na defensiva os cultores da mitologia nacionalista e estatizante, que reduziu nosso potencial de crescimento e nos enfeudou à pobreza. Seu passado marxista o tornou conhecedor de técnicas de lavagem cerebral.

Que essa operação de exorcismo foi eficaz, prova-o a grande mudança na atitude popular. Os monopólios estatais, antes ungidos de sacralidade estratégica, são hoje vistos com indignação resignada. Alguns, como a Telessauro e a Embratel, caíram no plano anedótico e enriquecem o vocabulário de xingamentos dos devotos da Internet, neurotizados pelas dificuldades de acesso.

Começa-se a perceber que os funcionários das estatais há muito tinham privatizado as empresas públicas, sugando-as através de abusivas contribuições para os fundos de pensão, que se expandem comprando outras empresas. Fica o Tesouro à mingua de dividendos, e o público, à mingua de serviços.

Um pouco mais resistente à erosão da mitologia estatizante é a Petrossauro, cujo monopólio constituía uma aberração lógica por sermos no mundo o único país importador que preferia comprar petróleo de estrangeiros a receber capitais para produzi-lo internamente. (...)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Momento de reflexão

por Academic Minute

Dr. Maureen Maiocco é diretora do "Early Childhood A.S. Degree Program" da "Northern New York's college for technology, health, management, and public service" (SUNY Canton). Ela tem um Ed.D em "Child and Youth Studies" pela "Nova Southeastern University".

Para o posto original em sua versão de áudio, clique aqui.

Nunca utilizo o termo "hora do castigo" (time out, no original) nas minhas práticas de ensino. Eu prefiro "momento de reflexão" (thinking time, no original) e pode ser em qualquer lugar na sala de aula que vá ao encontro das necessidades da criança naquele momento. Por exemplo, se eu tenho uma criança que está batendo nas outras, ela me indica claramente que está se sentindo frustrada. Então, ela será redirecionada para um espaço da sala de aula que possa ser calmo e macio. Pode envolver brincadeiras na água, areia, creme de barbear ou massinha, onde seja perfeitamente cabível bater, pinçar, beliscar e amassar. Experiências tácteis podem ajudar de forma mágica a uma criança que está se sentindo mal. Pode-se fazer em casa "bolas de stress" para crianças usando bexigas vazias e areia.

Eu tenho as seguintes regras em minhas aulas: respeito a si, aos outros e ao espaço da aula. Se as regras não estão sendo cumpridas é meu dever ajudar a identificar a fonte da reação, observando atentamente o que acontece durante e após as altercações, e então removendo-a e provendo à criança uma alternativa aceitável.

Crianças muito novas não têm auto-controle ou mesmo o domínio suficiente das palavras para reconhecer e distinguir as situações por conta própria. É a responsabilidade do professor prover ferramentas a elas, não importa o quão difícil seja. Eu me esforço para falar com crianças em seu próprio nível para removê-las da situação; dou toda minha atenção à vítima (se por ventura outra criança está envolvida), e então abordo o assunto com a criança que está a causar problemas.

A "hora do castigo" no senso tradicional é humilhação. Imagine ser pego por um oficial de polícia, todos param ou desaceleram para ver, e este é o sentimento que uma criança tem quando são enviados ao castigo. Mas quando estamos tentando construir habilidades sociais, parece contraditório utilizar um método que isola e expõe uma criança. Além disso, o castigo dá à criança exatamente o que ela quer - atenção.


Retirado de Academic Minute Home.

Brave new world


por Leandro Oliveira

Não há a menor possibilidade de entendermos como funciona metade do mundo. Mais que outra cultura, outro universo mental. Há quatro dias, o grupo Voina recebeu o maior prêmio dado pelo Ministério da Cultura russo; eles pintaram um pênis gigante sobre uma ponte levadiça no noroeste de São Petersburgo - em frente ao prédio da antiga KGB. O efeito é o da foto acima.

O incauto gritará "viva a liberdade!", "os russo são democratas!", "liberdade de expressão é o valor último de todas as culturas!" o que apenas tornará tudo mais constrangedor. Pois o fato é que alguns dos integrantes do grupo seguem foragidos, outros presos sem possibilidade prévia de defesa. A premiação para eles é uma espécie de cala-boca - talvez, último gesto velado de negociação, antes de "sanções" mais drásticas. O grupo se nega a participar do prêmio, segundo eles é um brinquedote da nova máfia que toma lugar das antigas autoridades estatais.

Mas isso não é importante. É que Bob Dylan fez sua primeira apresentação no Vietnam, no domingo que passou. O teatro da cidade de Ho Chi Minh (antiga Saigon) conseguiu vender apenas metade dos lugares; assim como na China, onde tocara em Beijing e Shanghai na semana passada, o bardo precisou passar o setlist do show pela aprovação do governo local. Eu não estava lá, mas segunda consta, o show não teve "Blowin' in the Wind" ou "The Times They Are a-Changin'".

E pensar que ambas obras foram fundamentais na construção simbólica de uma cultura de paz que hoje se confunde com a cultura meio eunuca que é a norte-americana - que fez os EUA saírem da guerra para que este mesmo Vietnam hoje censurasse Dylan. É isso que quero dizer: a arte de protesto tem seu lugar. Adoro Shostakovich. Alguns amigos parecem não entender que, por vezes, o engajamento é sim uma maneira legítima de expressão artística. Pode-se acusar o mau-gosto da empreitada, mas seria uma performance muito apropriada e engenhosa, a da projeção de um pênis se erguendo no lugar do sol nos países de governos totalitários ou pseudo-democratas.


“There must be some way out of here,” said the joker to the thief
“There’s too much confusion, I can’t get no relief...
Businessmen, they drink my wine, plowmen dig my earth
None of them along the line, nobody out of it worth”

“No reason to get excited,” the thief, he kindly spoke
“There are many here among us who feel that life is but a joke
But you and I, we’ve been through that, and this is not our fate
So let us not talk falsely now, the hour is getting late”

All along the watchtower, princes kept the view
While all the women came and went, barefoot servants, too.

Outside, in the distance, a wildcat did growl
Two riders were approaching, the wind began to howl.

A modernidade dos antigos

por Leandro Oliveira

Esta semana, com um programa dedicado à música Romântica Russa - imaginando que a Balatta op. 108 de Glazunov possa ser entendida como romantismo em todo seu adiantado no tempo (é de 1931) - a Osesp me deu a oportunidade de retornar à obra deste que é talvez o mais importante musicólogo da tradição Clássica Russa da atualidade, o americano Richard Taruskin.

Dele, uma passagem extraordinária - uma tese efervescente, para quem se excita com teses musicológicas, é claro:

I hold that discussions of authentistic performance typically proceed from false premises. The split that is usually drawn between "modern performance" on the one hand and "historical performance" on the other is quite topsy-turvy. It is the latter that is truly modern performance — or rather, if you like, the avant-garde wing or cutting edge of modern performance — while the style, inherited from the nineteenth century, one that is fast becoming historical. The difference between the two, as far as I can see, is best couched in terms borrowed from T. E. Hulme: nineteenth-century ‘vital’ versus twentieth-century ‘geometrical.’ In light of this definition, modern performance, in the sense I use the term, can be seen as modernist performance, and its conceptual and aesthetic congruence with other manifestations of musical modernism stand revealed. What Carl Dahlhaus calls the ‘postulate of originality’ and defines as ‘the dominant esthetic of [Wagner’s] day’ is still with us even if Wagner is not, and still decrees that music, both as to the style of its composition and the style of its performance ‘should be novel in order to rank as authentic.’ When this is understood, it will appear no longer paradoxical but, on the contrary, very much in the nature of things that the same critics who can be counted upon predictably to tout the latterday representatives of High Modernism in music — Carter, Xenakis, Boulez — and who stand ready zealously to define them against the vulgarian incursions of various so-called postmodernist trends, are the very ones most intransigently committed, as we have already observed, to the use of ‘original instruments’ and all the rest of the ‘historical’ paraphernalia. For we have become prevaricators and no longer call novelty by its right name.

In "Text and Act: Essays on Music and Performance", p. 140.

terça-feira, 12 de abril de 2011

The voice of God

por Leandro Oliveira



On the page it looked nothing! The beginning simple, almost comic. Just a pulse: bassoons, basset horns - like a rusty squeezebox. And then, suddenly, high above it, an oboe. A single note, hanging there, unwavering... until a clarinet took it over: sweetened it into a phrase of such delight! This was no composition by a performing monkey - this was a music I had never heard. Filled with such longing, such unfulfillable longing, it seemed to me that I was hearing the voice of God.

A BENIGNA INQUISIÇÃO ESPANHOLA

por Joel Pinheiro da Fonseca

Ok, o título é provocativo. A Inquisição Espanhola cometeu e permitiu muitas injustiças contra cristãos de origem judaica na Espanha. Mas você sabia que ela era atribuição da Coroa espanhola, e que o próprio Papa pediu que ela abrandasse seu tratamento dos réus, o que lhe rendeu uma resposta do Rei Filipe insinuando que estivesse em conluio com os conversos? Que depois de algumas reformas ela se tornou muito mais leniente do que qualquer tribunal secular da Europa? Que ela impediu as caças às bruxas na Espanha que tomaram conta do resto do continente? Que usou tortura em apenas 2% dos casos, que o tempo máximo da tortura era de 15 minutos e que ela raramente era aplicada duas vezes e nunca, em hipótese alguma, uma terceira vez? E que em 350 anos condenou 4.000 pessoas à fogueira (compare isso com a Revolução Francesa, que em cinco anos matou cerca de 40.000)?

Pois é, há fontes mais confiáveis do que Monty Python e Mel Brooks. Este artigo de Thomas F. Madden, que consultou pessoalmente os arquivos (bastante extensos) da Inquisição na Espanha, foi publicado originalmente em 2003 (e republicado agora pelo site linkado) e dá um ótimo panorama histórico da Inquisição e contesta vários mitos. Nada disso justifica ou desculpa crime algum, muito menos algo grave como tortura ou execução devido a crença religiosa de uma pessoa sequer. Colocar os fatos em sua devida proporção, contudo, é uma questão de justiça.

Retirado de Dicta.com.br.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Observatório Ocidentalismo

por Leandro Oliveira

A Síndrome de Asperger é batizada a partir do médico que a diagnosticou, o austríaco Dr. Hans Asperger. É uma espécie peculiar de autismo, e seus portadores têm dificuldade de interação social. Ele é o tema do primeiro episódio da série "Between Ourselves" da Rádio BBC (ah, como eu queria ser diretor da Rádio Cultura para finalmente trazer coisas interessantes ao dial...); neste episódio, um papo interessantíssimo com dois portadores da síndrome. Apresentação de Olívia O'Leary.

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(...) I am constantly amazed at the low culture IQ of very bright and talented young people who have achieved a great deal in other realms. When I was once called a "media Caruso" in the press, a 23-year-old with whom I worked asked what a Caruso was!

Another business associate asked me if Giuseppe Verdi was dead. He was a Harvard-educated professional who was an adept piano player.

It is easy to point to culprits: the lack of arts education in our public schools, the astonishing array of personal popular entertainment options that occupy the time of younger people, and the ticket prices for concerts, plays and operas that are so high they keep many young (and old) people from attending.

But whatever the cause (and we need to analyze these causes so we can find cures for the future), we have remedial work to do with the current group of high school graduates who simply do not consider attending our performances or visiting our art galleries as an option that is relevant to their lives. (...)


Michael Kaiser, manda-chuva do Kennedy Center, em mais um artigo formidável que sugiro ler ao lado deste, de Tom Jacobs, sobre o declínio da atividade do público omnívoro e highbrow.

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Tom Service faz um belíssimo "Amnésia Cultural" pelos quarenta anos de morte de Igor Stravinsky (último dia 6).

Igor Stravinsky died 40 years ago today. I find this astonishing – partly because Stravinsky seems to belong to another era: a century ago, he was conceiving and composing The Rite of Spring, and yet we are only separated by him by just over a generation, and yet his influence and his legacy still seems so contemporary.

Stravinsky is the only common influence that composers from Steve Reich to Thomas Adès, from Judith Weir to John Adams, from Elliott Carter to Louis Andriessen, can all agree on. Without Stravinsky, there would be no minimalism, not much neo-classicism, not enough rhythmic energy, and not nearly enough compositional freedom in the 20th and 21st centuries. Four decades on, the Stravinsky that's proved most popular with audiences, orchestras and concert halls is the colouristic brilliance of the three early ballets, Firebird, Petrushka, and the Rite.


Links imperdíveis. Na íntegra aqui

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Gabriel Ferreira postou no Facebook - e replico em homenagem ao amigo que vai aportar em POA: "os Dez Mandamentos do Chimarrão".

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Desdobramentos da crise da OSB? A orquestra saiu do palco quando o maestro Minczuk entrou para o concerto de abertura da Temporada. A narrativa do caso - cujo registro se espalhou como fenômeno no youtube - pode ser vista aqui.

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O blog do Márcio Leopoldo vai nos atualizar com as informações sobre o Fórum da Liberdade. Acompanhem e cobrem o moço.

Passages from Leonardo da Vinci's notebooks

selecionados por Fernanda Vaz

The knowledge of past times and of the places on the earth is both an ornament and nutriment to the human mind.

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Avoid studies of which the result dies with the worker.

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Learning acquired in youth arrests the evil of old age; and if you understand that old age has wisdom for its food, you will so conduct yourself in youth that your old age will not lack for nourishment.

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As a day well spent procures a happy sleep, so a life well employed procures a happy death.

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Just as food eaten without caring for it is turned into loathsome nourishment, so study without a taste for it spoils memory, by retaining nothing which it has taken in.

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Why does the eye see a thing more clearly in dreams than with the imagination being awake?


Retirado de O Aulos de Euterpe.

sábado, 9 de abril de 2011

As piadas e a sociedade

por Academic Minute

Dr. John Capps é professor associado de filosofia do "College of Liberal Arts" do "Rochester Institute of Technology". Sua área de pesquisa é epistemologia e filosofia da ciência. Ele é co-autor, com seu pai, Donald Capps, de You've Got to Be Kidding!: How Jokes Can Help You Think.

Para o posto original em sua versão de áudio, clique aqui.

Freqüentemente o que faz uma piada engraçada é que alguém faz algo que é completamente irracional, e quando tornamos consciente o que se passa, podemos tentar não fazer o mesmo erro. Na vida real, ninguém quer ser o motivo de uma piada.

Todos provavelmente ouvimos aquela do advogado que defende um homem que assasinou seus pais, e o advogado pede clemência dizendo "meritíssimo, deixe-me lembrá-lo que este pobre rapaz é um orfão!" De fato, o que é irracional aqui é que o advogado está fazendo o que os filósofos chamam de "apelo à piedade" (appeal to pity, no original), sem que se coloque à luz que o motivo mesmo de sua orfandade é a responsabilidade pela qual ele está sendo acusado. E, de modo geral, precisamos estar cuidadosos para que não deixemos nossos sentimentos atrapalhem nossos pensamentos claros e nosso juízo do que é correto a ser feito. E esta piada é uma forma muito viva de lançar luz a este ponto.

Ainda, quando rimos de piadas mostramos que temos muito em comum, que concordamos sobre algumas coisas por serem simplesmente verdadeiras ou falsas, racionais ou não. Então, piadas podem ser importante referências sociais, que nos lembram de coisas que todos concordamos. Há uma que diz de uma mãe que acaba de ter seu filho, não pode dormir e vai ao médico dizer que está preocupada; ela teme não conseguir ouvir seu bebê caso ele caia do berço. Ela pergunta ao médico o que fazer e ele diz "ah, é fácil: tire o carpete!". Esta é uma piada engraçada porque todos sabemos que aquilo que o médico está dizendo é profundamente imoral e anti-profissional - e isto, por si só, mostra que concordamos com muitas coisas.

Então piadas dizem muito sobre nós: elas elevam nosso padrão de racionalidade e moralidade, e funcionam como uma espécie de "cola" social. Aristóteles disse que humanos são animais racionais, mas poderíamos também dizer que somos animais que fazem piada - e isto significaria quase a mesma coisa.


Retirado de Academic Minute Home.

Um poema de Yehuda Amichai

tradução de Pedro Gonzaga

Uma mulher precisa

Uma mulher precisa de cabelos curtos traz ordem
aos meus pensamentos e a minhas gavetas,
dispõem os sentimentos de lá para cá
como móveis em uma nova arrumação.
Uma mulher cujo corpo é acinturado e firmemente dividido
entre a parte de cima e de baixo,
com olhos capazes de preverem o tempo
feitos de vidro temperado.
Mesmo seus gritos de prazer seguem uma certa ordem,
um depois do outro:
pomba tímida, pomba selvagem
depois pavoa, pavoa ferida, pavoa, pavoa,
pomba selvagem, pomba tímida, pomba pomba
tordo, tordo, tordo.
Uma mulher precisa: sobre o tapete do quarto
seus sapatos sempre apontam para longe da cama.
(Os meus na direção dela.)


Retirado de PedroGonzaga.wordpress.com.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lady Gaga e Rilke

por Academic Minute

Dr. Jennifer Hoyer é professora de literatura alemã da University of Arkansas. Suas áreas de interesse incluem história e literatura judaica-alemã, poesia, percepções do século XX sobre a literatura Medieval e do início da Era Moderna, relações literárias entre Alemanha e Suécia, e a obra de Silke Hassler. Seu Ph.D. em Literatura Moderna Alemã foi realizado pela University of Minnesota.

Para o posto original em sua versão de áudio, clique aqui.

Como professora de literatura alemã eu fico entusiasmada em lembrar que Lady Gaga tem uma citação em alemão de Rainer Maria Rilke tatuada em seu braço. Lady Gaga diz freqüentemente que Rilke é uma inspiração, quase uma devoção. Leia seus "Sonetos para Orpheus" e você provavelmente ficará surpreso no tanto de Rilke que há nas coisas de Gaga. Gaga e Rilke têm interesses muito similares, e embora eles façam coisas muito diferentes com eles, ao fim e ao cabo chegam a mesma conclusão: "Gesang ist Dasein", o canto/a voz é o Ser. Os "Sonetos" terminam com uma declaração "Ich bin" (Eu sou), que Gaga reflete quando ela assevera que é ao mesmo tempo uma fantástica contadora de histórias e uma imagem no espelho: "I am telling you a lie, in a vicious effort that you will repeat my lie until it becomes true."

O "Sonetos" de Rilke invoca "Ruhm," ou fama, o primeiro objetivo de um poeta clássico. Para Rilke o poeta é o imortalizador da morte, do belo, do sublime; todo o projeto de Gaga até o momento lida com fama, a moderna obsessão pela celebridade, e o que ela chama "A Fama", "este amor-próprio, esta auto-confiança". Lady Gaga imortaliza o ouvinte projetando seu próprio senso de fama sobre eles, na segurança de seu isolamento eletrônico. De suas performances a suas entrevistas com Larry King e Barbara Walters (os editores do discusso "Gaga-Stigmata") Gaga aparece como uma imagem de espelho estilizada, sem aprovações ou condenações, apenas confirmando através de sua mímica que criamos quem nós somos. E nós somos porque criamos. Gesang ist Dasein.

A afirmação de Rilke de ser através da arte inspira Lady Gaga. E se você está interessado na representação da fama e do ser que ela faz, leia o "Sonetos para Orpheus" de Rilke - preferencialmente no original alemão.


Retirado de Academic Minute Home.

Music and Emotion

As soon as the unexpected, or for that matter the suprising, is experienced, the listener attempts to fit it into the general system of beliefs relevant to the style of the work (...) three things may happen: (1) The mind may suspend judgment, so to speak, trusting that what follows will clarify the meaning of the unexpected consequent. (2) If no clarification takes place, the mind may reject the whole stimulus and irritation will set in. (3) The expected consequent may be seen as a purposeful blunder.

Whether the listener responds in the first or third manner will depend partly on the character of the piece, its mood or designative content. The third response might well be made to music whose character was comical or satirical. Beckmesser's music in Wagner's "Die Meistersinger" would probably elicit this type of interpretive understanding.


Leonard Meyer, "Emotion and Meaning in Music", p. 30 (1956).

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobrevivência e companhia


L'inferno dei viventi non è qualcosa che sarà; se ce n'è uno, è quello che è già qui, l'inferno che abitiamo tutti i giorni, che formiamo stando insieme. Due modi ci sono per non soffrirne. Il primo riesce facile a molti: accettare l'inferno e diventarne parte fino al punto di non vederlo più. Il secondo è rischioso ed esige attenzione e apprendimento continui: cercare e saper riconoscere chi e cosa, in mezzo all'inferno, non è inferno, e farlo durare, e dargli spazio.

O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de não vê-lo mais. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: buscar e saber reconhecer quem e o que, no meio ao inferno, não é inferno, e preservá-lo, e dar-lhe espaço.


Italo Calvino (As cidades invisíveis, 1972)

Ré sustenido, tom maior, sétima dominante... e eu com isso?

por Leandro Oliveira

Nos encontros do "Falando de Música" raramente é possível evitar temas difíceis. De série de Fibonacci a Karl Marx, de Metastasio a Entartete Musik nada de fato é selecionado pela sua acessibilidade, mas sempre pela relevância da informação para explicação do contexto de uma época ou obra.

A arte está na máxima: "não tornar fácil o que é difícil, mas tampouco tornar o difícil mais difícil do que já é". E por isso, é evitado ao mais das vezes a terminologia técnica, que definitivamente se faz de atalho aos iniciados, mas cria uma barreira indigesta aos amantes que nunca passaram das primeiras lições - ou sequer chegaram a elas. Algumas vezes, é verdade, os alunos pedem alguma coisa sobre esta própria terminologia - ou de contextos menos específicos da vida e obra de cada autor, como outro dia quando me perguntaram da influência do pensamento de Feuerbach em Richard Wagner e deste no II Reich (segundo mesmo, não terceiro).

Claro, o momento mais adequado nestes casos é o papo pós-aula, quando a sugestão de alguma bibliografia de apoio e um eventual encontro extra ajudam a destrinchar os meandros das tantas informações disponíveis e alcançar, enfim, a legitima apresentação do problema. Por isso, antes de seguir, achei legal colocar abaixo um vídeo de Andras Schiff, um pianista húngaro extraordinário, num trecho de uma de suas aulas onde fala (não em húngaro mas inglês, não se preocupem) sobre a trigésima segunda sonata de Beethoven, a monumental op.111. Legal conferir, volto depois.


O caso é que outro dia li no blog do Norman Lebrecht uma notícia interessante. Parece que em uma última oportunidade em Londres, Andras Schiff viu boa parte do público abandonar o teatro em uma de suas palestras. Lebrecht aponta que o excesso de terminologia técnica foi fatal para um público feito de pessoas curiosas, que em sua maioria era composta por profissionais liberais sem experiência musical formal anterior. O público não tem culpa: na correria do mundo de hoje, as informações precisam ser pertinentes, elucidativas - e se possível, também agradáveis. E ninguém pode achar agradável passar algumas horas com a impressão que não está entendendo nada... Fica a lição.

Esta quarta-feira começo os encontros sobre música clássica no Clube Paulistano, aqui em São Paulo. O tema da primeira conferência: "O Que é Música Clássica?".

DAVID E JEAN-JACQUES


por Joel Pinheiro da Fonseca

Quando falamos no Iluminismo, é fácil esquecer que ele, assim como todos os outros movimentos, escolas e correntes filosóficos, foi formado por indivíduos, cada qual com o seu pensamento. Não pensavam todos da mesma forma. E nem sempre se davam bem.

Rousseau, exilado do continente, foi para a Grã-Bretanha, onde ficou hospedado sob os auspícios de David Hume. Acontece que o genebrês era um tanto selvagem, mas não era bom. Logo estava exigindo acomodação no interior e demandando que sua amante e seu cachorro fossem trazidos para morar com ele. Infelizmente para Rousseau, a sonhada pensão às custas da Coroa inglesa não veio, e ele passou a suspeitar que Hume fosse o responsável, o que resultou em inúmeras cartas difamatórias sobre seu anfitrião. Seis meses depois ele voltava para o continente, com um amigo a menos. Mais uma ilustração de como o moralismo exacerbado (seria Rousseau ele próprio a evidência de como a sociedade corrompe o espírito humano?) freqüentemente esconde os piores temperamentos.

Retirado de Dicta.com.br.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Observatório Ocidentalismo


por Leandro Oliveira

Detalhes novos da - já velha? - querela que surge na Orquestra Sinfônica Brasileira. Com a demissão de metade da orquestra, e a justificativa de que não participaram das audições de avaliação, a direção da orquestra decidiu pelo litígio incontornável. Escolha desagradável, controversa e aparentemente pouco inteligente. Nisso todos concordam: maestro Neschling faz uma aposta para que ao menos os "meios justifiquem os fins", Antonio Meneses assevera uma esperança no retorno das drásticas decisões tomadas, Cristina Ortiz e Roberto Tibiriçá cancelam a participação nos concertos da presente temporada.

Após a declaração da federação de músicos americanos de que a presença de Roberto Minczuk - o mentor de toda esta confusão - não seria bem-vindo aos palcos dos EUA enquanto mantivesse sua posição, só me resta imaginar que Minczuk deve saber o que está fazendo, vendo aquilo que mais nenhum de nós consegue ver.

Isolado como está, em tendo razão, para além de maestro deverá ser antes um profeta. Pelo jeito é o que aposta o Conselho da instituição.

Notícia de última hora (14h40): Nelson Freire é mais um que acaba de cancelar sua participação na Temporada 2011...

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Cinema? Duas dicas: o Mubi.com, uma espécie de distribuidora online; não assinei mas ouvi falar muito bem. E para quem está em Paris, a exposição Stanley Kubrick na Cinémathèque Française com documentos sobre o trabalho preparatório, a apresentação integral dos filmes, mesas redondas e conferências sobre o autor.

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Palavras de realismo sobre o futuro da literatura no novo livro de Marjorie Garber. Nos conta Jessa Crispin:

When literature makes the headlines these days, it seems to be only bad news: books being declared "obscene" and removed from school library shelves, one expert after another telling us the rise of comic books and novels written in the language of the text message is destroying the English language, studies proving that no one reads anymore anyway... You'd think our literary culture is at a crisis point, and from here our nation will descend into illiteracy and intellectual decrepitude.

Marjorie Garber claims in "The Use and Abuse of Literature" that none of these conversations have anything to do with today's society; since the invention of written language we've been fighting over who was using it correctly and who was ruining it for the rest of us.


Na íntegra aqui.

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Amigos do Facebook: Eduardo Pohlmann sugeriu o link abaixo

Ronald Dworkin is wondering about what his friend Alfred Brendel does when he plays the piano. "Why does he play that way? When he plays a great sonata, for example, he must think his interpretation is better than other interpretations or he wouldn't play it that way, mustn't he?"

Dworkin é um dos mais importantes pensadores de filosofia moral na atualidade. Para ler a íntegra do artigo de Stuart Jeffries, sobre o recente livro do pensador, clique aqui.

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Reverberando a provocação de Ieda ontem, sugiro o artigo de Erik Silk para o Wall Street Journal e seu link para o site The Art of Videogames.

Une grande aventure vers la lumière


por Juliana Perez

Hans Scholl tinha 24 anos quando condenado à morte na manhã do dia 22 de fevereiro de 1943. Foi executado na tarde do mesmo dia. Suas palavras diante da guilhotina foram: “viva a Alemanha, viva a liberdade”.

Não significa escapismo falar em liberdade interior quando a exterior falta. Pois foi pela liberdade civil que os irmãos Scholl e os demais integrantes de "A Rosa Branca" entregaram a vida - a liberdade interior eles já possuíam. Três cartas.

Em serviço militar em Stetten, a sua irmã Inge, em 27 de junho de 1938:

No bolso interno do casaco levo um botão de rosa. Preciso desta pequena planta porque ela é “o outro lado”: muito distante dessa vida de soldado, e no entanto não contraditório a ela. É preciso sempre carregar consigo um pequeno segredo, sobretudo com os camaradas que tenho aqui.

A Rose Nägele, em 28 de outubro de 1941, meses antes de começar a escrever os panfletos:

Encontro-me em uma crise espiritual, a mais importante da minha vida, e é compreensível que eu a leve a sério e não me console com paliativos burgueses. Por sorte tampouco preciso de algum. Encontro-me em um estado de alma ao qual não pode vir nenhuma ajuda de fora, pois eu, no meu interior mais profundo, já o superei, reconheci e estou feliz. Que paradoxo! Minha cabeça dói, embora eu esteja feliz. É a felicidade do vencedor que já antecipa o final da luta.

Esta guerra é (como todas as guerras significativas), na sua verdadeira essência, uma guerra espiritual; às vezes parece que o meu pequeno cérebro é o campo de batalha de todas essas lutas. Não posso ficar de fora, pois de fora não há felicidade, pois sem verdade não há felicidade – e esta guerra é, no fundo, uma guerra pela verdade. Todos os tronos impostores devem cair – isto é o mais doloroso –, para que o que é autêntico apareça sem falsificações. Eu não estou falando do ponto de vista político, mas pessoal, espiritual. Fui obrigado a fazer uma escolha.


A Rose Nägele, em 16 de fevereiro de 1943, dois dias antes de sua prisão na Universidade de Munique:

Hoje eu devo ser como eu sou. Estou interior e exteriormente distante de você, mas nunca, não sou um estranho. Meu respeito pelo seu coração puro nunca foi tão grande como nesses dias, em que a vida se tornou um risco constante. Mas por eu ter escolhido o perigo, preciso ser livre e não ter vínculos, e ir para onde eu quero ir. Já andei por muitos caminhos errados, e eu sei, abrem-se abismos, a noite mais profunda envolve meu coração – mas eu mergulho nela. Como são grandes as palavras de Claudel: La vie, c’est une grande aventure vers la lumière.

Post scriptum: Os trechos de cartas foram retirados do livro Hans Scholl und Sophie Scholl. Briefe und Aufzeichnungen. Hrgs. Inge Jens. Frankfurt a. M.: Fischer, 2005. (pags. 23; 29; 85 e 143, respectivamente). Não há tradução do livro para o português.

Méritos bretões


por Joel Pinheiro da Fonseca

Uma rápida curiosidade histórica. Sempre pensamos nos romanos como os grandes construtores de estradas no mundo antigo. Acontece que foi descoberto que parte das estradas originais da Inglaterra, outrora atribuídas aos romanos, eram na verdade anteriores à chegada do império.

Retirado de Dicta.com.br.

sábado, 2 de abril de 2011

And the winner is...

por Leandro Oliveira

Após Pierre Boulez e Oscar Peterson, o Glenn Gould Prize vai para o cantor e poeta... Leonard Cohen. Dizem eles:

Leonard Cohen is one of the most covered artists alive today, influencing generations of songwriters, and his music has earned the accolades of other artists in tribute albums in France, Norway, Canada, Spain, the Czech Republic, South Africa, and the United States. “Hallelujah”, one of Cohen’s best-known and best-loved songs has been covered by over 150 artists including Willie Nelson and Bono. Numerous documentaries, awards, and tribute albums acknowledge the far-reaching contribution Cohen has made to music. He continues to refine and deepen his art, and as a musician he is constantly exploring new territory.

The Glenn Gould Foundation honours Glenn Gould’s spirit and legacy by celebrating brilliance, promoting creativity and transforming lives through the power of music and the arts with the Foundation’s signature activities, including The Glenn Gould Prize. Past laureates include Dr. José Antonio Abreu (2008), founder of El Sistema, Venezuela’s free music education program for children and youth, Pierre Boulez (2002), Oscar Peterson (1993) and Yo-Yo Ma (1999). For more information on the foundation, prize and jurors visit www.glenngould.ca.


Com exceção da desnecessidade de citar o Bono, eu adorei, é claro. Sou fã do Leonard Cohen e queria ter escrito a canção abaixo (em tempos de paixão, uma declaração de amor, pois não):


If you want a lover I'll do anything you ask me to
And if you want another kind of love I'll wear this old mask for you
If you want a partner take my hand or
If you want to strike me down in anger
Here I stand: I'm your man.

If you want a boxer I will step into the ring for you
And if you want a doctor I'll examine every inch of you
If you want a driver, climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can: I'm your man.

But the moon's too bright,
The chain's too tight,
The beast just won't go to sleep...
I've been runnin' through these promises to you
That I made and I could not keep.
Ah, but a man never got a woman back - not by beggin' on his knees -
Or I'd crawl to you baby and I'd fall at your feet,
And I'd howl at your beauty like a dog in heat,
And I'd claw at your heart and I'd tear at your sheet,
I'd say please: I'm your man!

And if you wanna sleep for a minute on the road I will steer for you
And if you want to work the street alone I'll disappear for you
If you want a father for your child
Or only wanna walk with me another mile across the burning sand:
I'm your man.

Filosofia e Polvos

por Academic Minute

Dr. Peter Godfrey-Smith é professor de filosofia da Harvard University e suas áreas de interesse e pesquisa incluem a filosofia da ciência e a filosofia da mente. Ele é autor de "Complexity and the Function of Mind in Nature" e "Theory and Reality: An Introduction to the Philosophy of Science".

Para o posto original em sua versão de áudio, clique aqui.

Em que polvos interessam à Filosofia? Interessam à parte que se preocupa com a mente. Para entender porque, demos um passo atrás e pensemos sobre as conexões evolutivas entre todos os seres vivos.

Biólogos imaginam tais relações a partir de uma "árvore da vida". Trata-se de uma enorme estrutura em forma de árvore onde cada espécie é relacionada aos parentes próximos e conectadas a outras mais distantes. Os vertebrados formam um ramo da árvore, e ali é onde encontramos praticamente todos os animais de cérebros grandes e complexos. Entre estes estamos nós, outros mamíferos e pássaros - em termos evolutivos, somos primos.

Na enorme área da árvore que contém outros animais, invertebrados, há apenas um ramo onde podemos encontrar cérebros desenvolvidos. Nele estão os cefalópodes - polvos, sépias e lulas.

Os sistemas nervosos foram desenvolvidos separadamente nestes dois ramos e em nenhum outro. Polvos são um experimento distinto na evolução da mente: encontrar um é como encontrar um ser extra-terrestre.

Pois o que tal experimento produziu? Aqui está uma coisa: o sistema nervoso de um polvo é menos centralizado que o nosso. Na verdade, mais da metade dos neurônios do animal não está no cérebro central do bicho, mas nos seus oito tentáculos. É como se cada braço tivesse um cérebro para si. Ou talvez em um polvo haja inteligência sem um self unificado.


Retirado de Academic Minute Home.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Academic Minute


por Leandro Oliveira

Acabamos de celebrar nossa primeira parceria internacional: o intercâmbio com o material do site Academic Minute.

Uma iniciativa da "WAMC Northeast Public Radio", o projeto traz professores de importantes instituições americanas desenvolvendo tópicos sérios ou descontraídos, sempre dando aos ouvintes informações sobre o que há de mais novo e excitante na academia - a ordem do dia da pesquisa científica ou a explicação de jogos de tabuleiro e seus desdobramentos na teoria dos jogos.

O projeto original é da professora Dr. Lynn Pasquerella, e seus colaboradores, professores da Duke University, University of Notre Dame e a Columbia University.

O público de Ocidentalismo.org poderá ter tais materiais traduzidos em português - ao lado de alguns convidados da academia brasileira a fazer seus vôos intelectuais e explorações.
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