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(...) Houve uma tremenda desgraça, bela senhora. Um dia nós notamos que nos faltava uma palavra. Ninguém a havia roubado, nós tampouco a esquecemos. Ela simplesmente não estava mais lá. Mas sem essa palavra nós não podíamos continuar encenando, porque nada mais fazia qualquer sentido. Ela era a palavra através da qual tudo se relacionava com tudo. Compreende, bela senhora? Desde então estamos viajando para tentar reencontrá-la.
– A palavra através da qual tudo se relaciona com tudo? – perguntou a senhora espantada.
– Sim – disse o velho acenando sério –, na certa a senhora também já deve ter notado, bela senhora, que o mundo é composto somente de fragmentos, dos quais nenhum tem nada mais a ver com o outro. Ele tem sido assim desde que perdemos a palavra. E o pior de tudo é que os fragmentos continuam a se partir, restando deles cada vez menos partes que se relacionem com outras. Se não encontrarmos a palavra que relacione tudo com tudo, o mundo vai acabar um dia se pulverizando por completo. É por isso que estamos viajando para procurá-la. (...)
Michael Ende, do livro O espelho no espelho - Um labirinto.
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