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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O norte da cerveja

Crônicas de viagem e as andanças pelo norte da Europa de Érico Nogueira.

por Érico Nogueira

Estive ausente por vários dias. Tratava-se da última viagem desta minha temporada européia, desta feita para Estocolmo, Copenhague, Amsterdã revisited e Londres, - em que, avariado da esbórnia, encontrei o meu caro Dirceu Villa, sempre um gentleman, cujo ouvido fiz de pinico. Sorry, Mr. Villa: that's the way the world ends.

Estocolmo é do outro mundo; Copenhague é fenomenal; Amsterdã não precisa de comentários; e Londres é a matriz da junk food. Mas calma lá.

A Suécia, pra mim, eram as cenas e enredos do Bergman e do Strindberg. Mas ela é muito mais: é frio pacacete, sem dúvida, mas o frio é adoçado, é mitigado, é derretido, em suma, pela afabilidade do povo - e pelo gosto da cerveja e do snapps, consumidos à larga pelos suecos, sim, e também pelos turistas com American Express. Obrigado Corvão.

Na cervejaria "Falcon", regados à cerveja homônima, topamos com um sessentão norte-americano radicado em Estocolmo, que lá ia "fazer um som". Meu irmão gritou logo "Neil Young!", e eu continuei "Tell me why!"; fomos atendidos; e lá nos deixamos estar (e deixamos nossas calças), pedindo e recebendo "Creedence!", "Grateful dead!", "Johnny Cash!", "Bob Dylan!"... Foi incrível.

Acordamos às seis da matina, fazia uns menos quinze, - mas lá fomos nós pra estação de trem, rumo a Copenhague. O bom da ressaca é que o radiador ferve.

Chegando ao reino da Dinamarca, um passeio daqui, uma água dali, um repouso de uma horinha: e dá-lhe cervejaria "Apollo", em que o néctar da casa foi acompahado de uma costela no bafo simplesmente sublime; ficamos sem palavras. No dia seguinte, depois de conhecer o cais, o palácio real e tudo o que havia pra conhecer, a dobradinha foi a lendária "Carlsberg" com Frikadeller, ou almôndegas de peixe, no almoço - outro prato típico -, e estas bombas da "Vesterbro Bryghus" no jantar, antes do avião para Amsterdã:


Minha cara diz tudo: uma paulada. "A Dinamarca é para os fortes", pensei. E fomos rever Amsterdã.

Quem diz Amsterdã, diz "Café Hoppe", que tem servido cerveja e bitterballen desde 1670, e diz também "Amstel", uma das melhores cervejas que pode haver, para o paladar brasileiro: leve, sem ser aguada, e muito saborosa, sem ser enjoativa. Em suma: um primor.

Entre outras coisas, revi o parque Vondel, achei uma edição de 1928 das "Werken" de Karel van de Woestijne, e visitei o Museu Van Gogh. Amsterdã é uma das cidades do meu coração. Eu ainda vou traduzir o "Lucifer" de Joost van den Vondel, podem anotar.

London, London.

Não sei se foi o muito de cerveja e de quitutes deliciosos que experimentáramos, mas o fato é que Londres, e a sabidamente oleosa e sem graça culinária inglesa, não nos pegou. A cidade é suntuosa, evidentemente. Mas, se é que dois dias por lá são o suficiente para fundamentar um juízo justo, supeito que o "algo mais" do Reino Unido esteja no campo, em Oxford, Cambridge, a Escócia e a Irlanda. No pé em que as coisas estão, porém, pode ser que o errado seja eu, que dirijo pela direita.

De volta a Roma, Adriana e eu ficamos meio tristes: agora é arrumar as malas e voltar para o Brasil. Foi um ano maravilhoso, aqui na velha Europa.

Retirado de Ars Poetica.

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