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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Invasões bárbaras

¿Es un imperio
esa luz que se apaga
o una luciérnaga?

por Leandro Oliveira

Recebo pelo mailing da Filarmônica de Berlim - ainda a mais prestigiosa instituição sinfônica do universo - o link para o mini documentário abaixo:


É Lang Lang agitando as multidões. Dona Tania - que de música entende só por ouvir por aí - perguntou "são meninos pobres?". Eu dei um muxoxo: "não mami, são estudantes alemães".

Nascido em 1982, Lang é celebrado pelo New York Times como o “hottest artist on the classical music planet”. O adjetivo é adequado, ele é "hot" como o são Penelope Cruz e Johnny MArco do último filme de Sophia Coppola... E ao lado de Gustavo Dudamel e alguns outros, botam para quebrar o nada decadente mundinho clássico com as caras e bocas dos astros de rock. É uma necessidade: todas as jovens figuras atuais da tradição clássica cumprem o figurino - e a mais recentemente "trabalhada" pela mídia internacional é a eloqüente Alice Sara Ott, que pode ser apreciada no vídeo abaixo.


Como com Lang, o vídeo não dá ênfase à música alguma. No caso de Ott, parecem impressionantes mais seus dotes como desenhista que qualquer outro. Assim como Lang, ela fala mal mas fala - tartamudea algumas obviedades sobre os "Estudos Transcendentais" de Liszt. Ao mostrar sua caminhada e postura para foto de charmes inegáveis Alice parece, de fato, saída do catálogo de modelos da Ford. Tem 21 anos, e com tantos talentos será difícil negar-lhe o espaço: afinal, de passagem, ela ainda toca piano com bastante proficiência - e tal como Lang Lang, Dudamel e tutti quanti, cultiva as expressões faciais e gestual de mãos ao vento, como que regendo uma orquestra imaginária, necessários para "ficar bem" no vídeo.

Mas o que antigamente seria importante para concurso de Miss Paulínia, hoje é fundamental para subir aos palcos de concerto de todo mundo. Parece uma tendência irreversível: a música clássica se deixou fascinar pelo canto da sereia do show business e, com ele, os tons pastéis dos homens de marketing. Acontece o mesmo em toda parte, e na política isso chega a ser patético. Mas lidando com uma linguagem hermética que não é aquela do discurso público, hoje maestros, pianistas, cantores se vêem reféns de expedientes que não os dizem respeito. Outra: não lhes é mais necessário ter inteligência, disciplina e o cultivo permanente da imaginação musical, aquelas ferramentas que fizeram os grandes mestres das gerações de artistas clássicos do século XX; precisam - e o Lang Lang é apenas a referência mais vistosa - apetecer ao vídeo (o que é uma forma de beleza), parecer simpáticos e tagarelas (o que hoje é uma forma de carisma) e tocar bem rápido e forte (o que hoje é uma forma da musicalidade).

É o admirável mundo novo, e ele chegou a Berlim encantando multidões de jovens estudantes de música - de sete a setenta anos.

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