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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Poema de Peter Goldsworthy

A Statistician to His Love

Men kill women in bedrooms, usually
by hand, or gun. Women kill men,
less often, in kitchens, with knives.
Don’t be alarmed, there is understanding
to be sucked from all such hard
and bony facts, or at least a sense
of symmetry. Drowned men — an
instance — float face down, women up.
But women, ignited, burn more fiercely.
The death camp pyres were therefore,
sensibly, women and children first,
an oily kind of kindling. The men
were stacked in rows on top. Yes,
there is always logic in this world.
And neatness. And the comfort
of fact. Did I mention that suicides
outnumber homicides? Recent figures
are reliable. So stay awhile yet
with me: the person to avoid, alone,
is mostly you yourself.


Visite o site de Peter Goldsworthy aqui.

Beethoven e Pinchas Zukerman

por Leandro Oliveira

Publiquei à ocasião de sua vinda ano passado um panegírico sobre Zukerman, o Pinchas. Acho que ainda vale a leitura já que esta semana retorna à frente da Osesp, solando e regendo Beethoven. Aqui como lá, uma enormidade. Cá estamos.

Colher de chá, uma prévia do gajo - com Mehta, o Zubin.


Na Sala São Paulo e na abertura do Festival de Campos do Jordão.

Pais e filhos e filhos e filhos...

por Leandro Oliveira

O Joel na Dicta chama atenção para algo assaz interessante. Olhe lá:

Se vivemos o início de uma implosão populacional no Ocidente, é porque, para muitos casais, ter filhos parece um sacrifício muito grande, algo que não vale a pena; ou uma responsabilidade à qual não se sentem preparados. Quem sabe um, no máximo dois, e só. Há quem, inspirado por ideais, digamos, conservadores, deplore essa situação, e exorte todos à prática do sacrifício: ter filhos é mesmo um fardo, mas é um dever que sejamos menos egoístas e aceitemos uma vida menos feliz para cumprir o “crescei e multiplicai-vos”.

Outro postura é a adotada por Bryan Caplan, professor de economia da George Mason University, exposta em seu livro "Selfish Reasons to Have More Kids": ter filhos é uma experiência muito gratificante, e os custos dela têm sido grosseiramente superestimados. Nossos cuidados com os filhos têm pouco ou nenhum efeito na pessoa que eles serão quando adultos, como indicam pesquisas feitas com filhos adotivos e gêmeos idênticos que cresceram separados. A genética fala mais alto que a formação. Portanto, pode relaxar, curtir e deixar vir os bebês.

Aqui, uma entrevista com Caplan feita pelo blog da revista "First Things". A tese é polêmica, e pode talvez desagradar à primeira vista, mas não posso deixar de notar que, de fato, as preocupações com o “jeito certo” de se cuidar de um filho chegam hoje à neurose: métodos educacionais, cursos extracurriculares, brinquedos educativos, cuidados alimentares, produtos para bebê (eu, como pai recente, sei por experiência própria a quantidade de produtos “essenciais” que nunca saíram da caixa). Talvez a tese de Caplan seja basicamente o senso comum de gerações passadas: cuide do bebê e da criança, mas sem exageros; ela vai crescer por conta própria; a responsabilidade não é tão opressiva quanto parece. E talvez isso torne a paternidade e a maternidade mais atraentes para muitos.


Com links no original, aqui.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mahler e a morte


por Leandro Oliveira

Após a releitura de trechos da biografia de Quirino Principe sobre Mahler (quase mil páginas!), é do psicanalista Dr. Stuart Feder o mais recente livro dos meus desejos. Chama-se Gustav Mahler - a Life in Crisis e, para muito além de dissecar o famoso encontro com Freud, revela parte intrincada das referências neuróticas de Mahler - e principalmente, como estas neuroses se traduzem em sua música. Deveria ter um pouco disso no Falando de Música desta semana, quando a Osesp apresenta a Quinta sinfonia do compositor... a ver.

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It was the crisis of 1901 when the composer believed he faced death that the theme of mourning made its most prominent appearance in his music. It was the very next summer that the composer began his Kindertotenlieder. It was characterized by well-known stylistic changes as seen in the Fifth Symphony of the time. Clearly the Wunderhorn years were over as Mahler wrote the last of the Wunderhorn songs and turned to Rückert texts. In Kindertotenlieder, only a shadow behind the deaths of children one finds the theme of the bereavement and mourning of the parents. Biographically, Mahler has revived his identification with his own parents and the multiple deaths of his siblings. This artistic and personal trend was accompanied by an astonishing change in Mahler’s actual life. Suddenly, the confirmed bachelor was ready for marriage and soon after he met Alma Schindler in the fall, marriage rapidly became a foregone conclusion. I believe the forty-one-year-old bachelor, frightened by the passage of time and his own mortality, sought the common immortality of man: the wish to have a family of his own. Thus the importance to him of marriage and the anticipated birth of his first child. Hence, all the more intense the loss that that destiny had in store.

Stuart Feder in "Mahler, Mourning and Consolation".

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Debussy tende il proprio linguaggio fin quasi a spezzarlo senza mai spezzarlo, assotigliandolo miracolosamente e rivelando la resistenza. Mahler lo infrange continuamente, ma sui frammenti accampa qualcosa di solido, e la costruzione galleggia. Motivi estetici e una morale ironica dettano forme e movimenti alla musica di Debussy: essa somiglia allo svanire evaporando, ma una sorgente la rigenera sempre. Malgrado questo, o proprio per questo, essa gira continuamente intorno al senso de distruzione e di morte, anche nei suoi luoghi più incantati. Intorno alla distruzione e alla morte gira anche la musica de Mahler, ma in modo diverso: tentando una formula, dirò che il tono generale di Mahler è la tarda maturità che si avvicina ai limiti della decomposizione senza mai toccarli. L'inferiorità di Mahler rispetto a Debussy ha un'origine prima: in Mahler il tema della morte è molto più esplicito. Manca a Mahler la vera ironia: c'è l'autoironia (che può, scivolando malamente, ribaltarsi in autocommiserazione) oppure il sarcasmo. Mahler non riesce ad essere ostile né freddo: lo guasta un nefasto "amore" per gli uomini, da cui Debussy è luminosamente immune.

Quirino Principe in "Mahler - La Musica tra Eros e Thanatos".

terça-feira, 21 de junho de 2011

Observatório Ocidentalismo


por Leandro Oliveira

How well do orchestras play? That's a question I raised, implicitly, by asking whether a new, young orchestra might surprise us with some edge-of-the-seat commitment. Playing better, in some crucial ways, than the big established orchestras.

Greg Sandow em mais um excelente artigo sobre... cultura (música clássica) e excelência. Para desdobrar nosso papo de ontem com o maestro Minczuk (que aliás devo falar mais tarde).

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Mesmo quando não concordo, gosto do Michael Kaiser.

Spending almost two weeks speaking with hundreds of arts leaders throughout England has given me a great opportunity to observe the role and importance of a Ministry of Culture.

While it may be ironic to praise the work of such a Ministry exactly at the time it is cutting grants dramatically, I do so nonetheless.


É que ele não sabe o que o ministério da cultura faz no BRasil... Mas olhem lá.

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A história de uma histeria intelectual é sempre relevante. Wall Street Journal e o novo livro de Wilhelm Reich, aluno de Freud relevante mais pelo impacto do que fala do que de fato pelo que fala...

This maddening, saddening account of Wilhelm Reich's crash-and-burn life leaves you yearning for a poet or philosopher who understands a fundamental truth: Nothing explains everything. (I recommend Shakespeare.)

Reich did not understand this truth. He was a disciple of Freud (who later excommunicated him). He was a world-famous psychoanalyst back when psychoanalysts could be world-famous, a crusader for sexual freedom back when that cause belonged to intellectuals, not Hugh Hefner or Lady Gaga. He was a prophet of salvation through perfection of the orgasm, sometimes referred to as the "apocalyptic orgasm."


Na íntegra aqui.

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O Vírgilio gostou... como eu gosto do site, publico a sua pergunta, que não deixa de ser interessante. Sobre o Dudamel do domingo:

Se na música popular, ganha pontos aquele cantor que interpreta a música de uma maneira toda peculiar e bem própria, porque na música, dita erudita, não haveria de ser o mesmo? Carregar aqui ou acolá faz parte dessa leitura e num mundo midiático como o nosso, faz sucesso quem sabe - com seu talento - empolgar a platéia e transformar uma audição clássica, num show. Sacrilégio? Estilo, isso sim. Virgilio.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Gorilla musicmaking


por Leandro Oliveira

Todos os que estavam ansiosos por uma oportunidade de puro deleite musical ontem à noite no concerto extra da temporada oficial da Sociedade Cultura Artística, devem ter saído decepcionados. Infelizmente, são raros os eventos deste ano que poderíamos, de antemão classificar como extraordinários; assim foram Keith Jarret, a Orquestra do Festival de Budapeste e Ivan Fischer, assim será a 8 de Mahler com a Osesp. Assim deveria ter sido a apresentação da Orquestra Símon Bolivar e seu regente das multidões, Gustavo Dudamel.

Ok, nada há a ser dito sobre a formação. Afinal são jovens com menos de trinta anos, todos empenhados verdadeiramente em trazer alguns momentos de música para seu público. E disso, sua energia, empenho e visceralidade, qualquer um poderá dizer nada. A bem da verdade, o engajamento da orquestra é algo por si só louvável, ainda mais conhecendo as tantas formações similares que conhecemos - quando os aspirantes a músicos rapidamente conhecem as benesses de se tornarem burocratas da música. Jamais seria uma acusação possível à Símon Bolivar. O problema da orquestra - e aqui falo por inferência, saindo do evento em particular e indo para o plano geral - é que ela não sabe muito bem o que fazer quando a música não está lá para os "Mambos" e "Malambos" da nossa vida.

E preciso dizer, embora lá venha bronca de muitos: tampouco o sabe o maestro Dudamel. Dudamel, digam o que digam, não soube construir com seu energético instrumento os distintos e elaborados timbres que Mahler exige; mas, muito antes disso, também não conseguiu equilibrar os naipes ou tornar orgânicos as tantas mudanças de clima da música. Sua orquestra toca sem nuances sonoras, sua gradação dinâmica vai do mezzo-forte ao fortíssimo mesmo em momentos de inspiração noturna. Sua transcendência é como a que busca alguém ao drogar-se, intoxicação de baixa sofisticação, o êxtase de um usuário de crack.

E aqui entra o verdadeiro crime da noite: a escolha do repertório. Não é que uma orquestra jovem não possa tocar Mahler - ouvi já algumas versões belíssimas pela formação do Festival de Campos do Jordão com Kurt Masur, a West-Eastern Divan Orchestra com Barenboim, ambas apresentando a Primeira Sinfonia do compositor. Ouvi uma orquestra jovem de Boston fazer uma das mais impressionantes leituras da Quinta que ouvi ao vivo.

Mas a Sétima é uma sinfonia de difícil digestão, talvez a menos palatável entre todas. A bem da verdade, com os elementos em cena ontem, duvido muito que tivéssemos uma versão satisfatória mesmo se nos fosse apresentado a Quarta. Mas certamente, os jovens aspirantes a músicos foram expostos cruamente, os pobres solistas vivendo seu pequeno pesadelo nas tantas oportunidade que a peça oferece.

Talvez a idéia seja fazer com que os jovens percam medo da Grande Música (ou de música grande, que no caso da Sétima de Mahler dá no mesmo), mas entre perder o medo das notas e realmente dominá-las, um abismo de distância que dificilmente se justifica em uma turnê internacional - mesmo que seja pela América Latina.

Dudamel é um sujeito muito carismático, ninguém há de negar. Sua regência é clara e comunicativa, como todos sabem; mas temo que aquilo que o faça apresentar a Sétima de Mahler não cumpra nenhum de seus objetivos declarados - trazer alegria às pessoas, fazer com que os jovens saiam de sua situação social ou coisa que o valha. Creio sinceramente que seja apenas vaidade; e todos nós que estivemos a frente de uma orquestra sabemos como podemos nos sentir poderosos comandando as forças necessárias para trazer à luz uma obra dessas. No caso, Dudamel não dominou nada além de si. Mahler não pode estar presente.

Lançamento Dicta


por Leandro Oliveira

Hoje é o dia do lançamento da Dicta 7. Para marcar o evento, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional às 19h30, aqui em São Paulo, a turma da Dicta bate um papo com o maestro Roberto Minczuk. No site o texto que segue.

Sete é um número cabalístico. Para os antigos indicava a totalidade, pois era a soma do “mundo” (os quatro ventos, os quatro cantos da terra, os quatro elementos) e da “divindade” (o três, primeiro primo ímpar, representava uma plenitude indivisível). Hoje continua a ter uma multidão de ressonâncias simbólicas, das sete cidades do Piauí aos sete samurais de Kurosawa. E, nessa veia, costumamos ver nos sete anos a chegada da “idade da razão”.

Com este sétimo número a Dicta entra – esperamos – numa certa idade da razão. Nesses quatro anos, deixou de ser a aposta mais ou menos aloucada de um grupo de amigos que gostavam de discussões filosóficas regadas a café para se transformar num empreendimento editorial sólido. Para marcar este passo, como o leitor pode ver, a revista renovou-se na aparência, mas sem mexer uma vírgula no conteúdo: textos de fundo que ajudem a pensar. Todas as mudanças tiveram como meta melhorar a clareza comunicativa de algumas partes – especialmente do índice e da seção de resenhas – e dar mais viveza e agilidade gráfica aos textos. (...)


Para saber mais clique aqui.

domingo, 19 de junho de 2011

Leandro I, do Rio de Janeiro


por Leandro Oliveira

Após um mês de falsas investidas retorno à labuta deste site. Os poucos leitores não perderam muita coisa, todas proferidas aos melhores, íntimos amigos. Talvez algumas diatribes sobre a insolência de nosso meio musical. E o mau-humor típico de épocas doutorais. E a inspiração tosca dos casos de amor.

São meus pequenos demônios: a música, o trabalho e o amor. Àqueles que me imaginavam juntar duas coisas em uma - afinal não sou músico von Beruf? - respondo que, assim como trabalho com música, amo meu trabalho e só faço música por amor. Ou seja, a distinção é mera convenção: todos minhas tentações se completam para fazer caso a mim mesmo, este que vos escreve. O Demônio é legião, mas é um, nesta pseudo-teologia leandrina que vos permito ensinar.

Mas evito a digressão: quero dizer antes que se estes são os percursos últimos de minhas tentações, sou, Deo gratia, muito mais que isso. E então, retorno ao site.

Retorna com outra forma. A idéia de profissionalizar a coisa toda me exauriu. E assim passo a lidar com este espaço da forma mais trivial possível: como meu hobby pessoal. Então, embora me comprometa com sua regularidade e a qualidade dos textos, não vou mais realizar investimentos, encotnrar e cobrar colaboradores, contratar equipes ou buscar sarna para me coçar. Os blogs convidados seguirão convidados, em bases menos oficiais - farei a menção ao post e o link para a página original. Os colaboradores funcionarão assim: alguém quer mandar um texto manda, se eu gostar publico. Se não gostar não publico. Se Louis XIV pôde dizer "o Estado sou eu!", isso sem ter água devidamente quente para banho, vaso sanitário ou anestesia na dor de dente, eu posso dizer, do alto do conforto de meu lar - cujo sol matinal e as companhias eventuais, asseguro, o fazem muito mais interessante que Versailles - o que segue: "O Ocidentalismo sou eu!".

Tal como posta, a frase não passa por um exame de boa correção, com a elisão natural e musical dos "os" do início de frase que a fazem, antes de tudo uma esquisitice. É a última flor estranhando meus barroquismos. Então vamos nessa, como no original, carioca pedante que sou:

- L'Occidentalism c'est moi!

E que sejam todos, mais uma vez e de uma vez por todas, muito bem vindos.
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