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domingo, 31 de outubro de 2010

The lady in number 6


"I never hate. Hatred only brings hatred.(...)
Only in our old age do we truly understand the beauty of life."

Há coisas que não precisam de muita explicação exatamente por sua excelência - as coisas verdadeiramente extraordinárias que acontecem no mundo dispensam apresentações. Karen Worcman nos mostra um caso desses: a preciosidade de um depoimento de uma pianista de 107 anos, sobrevivente do holocausto. Imperdível. Necessário. Neste domingo de sol em Sampa, é uma mensagem de luz para um bom bimestre final a todos nós.

Por Karen Worcman

Acabo de chegar de viagem. Voltei decidida a escrever sobre a quantidade de iniciativas interessantes com as quais tive contato, de pólo a pólo, as inúmeras ideias que me cativaram no Canadá e em Ushuaia (a borda do mundo...) - todas em torno do meu assunto preferido: a "memória".

Mas então recebi um presente pela Internet. Meu primo, Jacob Herzog, enviou um vídeo com uma das coisas mais bonitas que vi ultimamente: o trailler de um documentário sobre Alice Herz-Sommer. Exímia pianista, ela é a mais “velha sobrevivente do holocausto”, completando 107 anos agora em novembro de 2010. O documentário é dirigido por Malcolm Clarke e chama-se "Alice Dancing under the Gallows" (página do Facebook).

Vivendo em Londres em um pequeno apartamento do sexto andar, Alice é conhecida pelos vizinhos e passantes como the lady in number 6. Sua história impressiona não só pela vivacidade supreendente em idade tão avançada, mas por ter sido deportada para Theresienstadt aos 39 anos, com seu filho - e tendo sobrevivido sem rancor ou traumas aparentes.

“Adoro as pessoas”, diz. "Adoro todas as pessoas. Adoro falar com as pessoas. Saber de suas vidas com outras pessoas...“ Alice me fez sentir, mais uma vez, o maravilhamento que me levou a fundar o Museu da Pessoa. E quando após tocar, comenta

Beethoven... ele é milagre. Sua música não é apenas melodia. É o que existe dentro... o que há dentro, o que a preenche. É intenso. Fenomenal!

me dá a noção de que por trás de cada pequena janela de um apartamento qualquer reside a possibilidade de conhecer um novo mundo. O mundo que cada um de nós guarda na própria alma e podemos generosamente mostrar aos outros com o depoimento de nossa história de vida.

We shall fight on the beaches

Por Leandro Oliveira

Trecho do segundo discurso feito por Winston Churchill na "House of Commons" durante o período da Batalha da França - a entrada para valer dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Ao lado de "Blood, toil, tears and sweat" de 10 de maio de 1940 e "This was their finest hour" de 18 de junho do mesmo ano, é conhecido como um dos mais influentes discursos públicos de todos os tempos. A conferir:


I have, myself, full confidence that if all do their duty, if nothing is neglected, and if the best arrangements are made, as they are being made, we shall prove ourselves once again able to defend our Island home, to ride out the storm of war, and to outlive the menace of tyranny, if necessary for years, if necessary alone.

At any rate, that is what we are going to try to do. That is the resolve of His Majesty's Government - every man of them. That is the will of Parliament and the nation. The British Empire and the French Republic, linked together in their cause and in their need, will defend to the death their native soil, aiding each other like good comrades to the utmost of their strength.

We shall go on to the end, we shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our Island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender, and even if, which I do not for a moment believe, this Island or a large part of it were subjugated and starving, then our Empire beyond the seas, armed and guarded by the British Fleet, would carry on the struggle, until, in God's good time, the New World, with all its power and might, steps forth to the rescue and the liberation of the old.

sábado, 30 de outubro de 2010

Monteiro Lobato e o politicamente correto


Parafraseando Augusto Nunes, de nossa "Era da Mediocridade" não escapa sequer o pai do Jeca Tatú... Recentemente é Monteiro Lobato, aquele do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que recebe censuras do politicamente correto. Fernanda Vaz, sempre altiva e educada, não se conteve e entrou na briga ao lado do pai da Narizinho.

Por Fernanda Vaz

Os que me conhecem minimamente sabem que não sou lá a pessoa mais dada a discutir atualidades, especialmente se estiverem de alguma forma relacionada a governos ou política. Digo isso sem temer críticas - a mim faz bem deixar de ler o "Times" para ler as "Eternities", como recomendava Henry David Thoreau, e assumo certo nível de alienação sem maiores conflitos de consciência.

Há certas coisas, entretanto, que nem a mais blasé das almas consegue ignorar. Uma delas é a proposta do Conselho Nacional de Educação de banir das escolas brasileiras o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. É redundante falar sobre a importância das obras de Monteiro Lobato para a literatura brasileira, sobre o valor de seus livros para a alfabetização, sobre o enriquecimento de linguagem que proporcionam (posso citar de memória pelo menos meia dúzia de palavras que lembro ter aprendido, na infância, lendo as Memórias da Emília) ou, last but not least, sobre o universo rico, imaginativo e estimulante que é o Sítio do Pica-Pau amarelo. "As Reinações de Narizinho" e "Os Serões de Dona Benta" foram parte importante da infância dos meus pais, da minha própria e de muitos brasileiros mais.

Pois bem, parece que agora uma tal de Secretaria de Alfabetização e Diversidade resolveu dizer que o livro só pode ser usado quando o professor tiver "a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil". Não sei você, leitor, mas a mim parece que essas pessoas acham que se um professor citar tia Nastácia se esquecendo dos reumatismos e "trepando feito uma macaca de carvão", as crianças vão automaticamente começar a zombar dos colegas negros. Essa, entretanto, não é nem de longe a questão principal - o autor comparou a personagem a uma "macaca de carvão". Suponhamos que fosse Dona Benta a trepar, digamos, em uma árvore, esquecendo-se de qualquer limitação física: imagino que a comparação seria mudada de "macaca de carvão" para "macaca de açúcar" ou "macaca de algodão", porque para mim é evidente que a palavra relacionada à cor da pele da personagem é "carvão", não "macaca". O animal só tem relação com o ato de subir em algo com agilidade.

Mas as pessoas do Conselho Nacional de Educação parecem não saber ler. Acho que os cérebros ali funcionam como computadores simples que têm armazenadas certas palavras-chave e fazem soar o 'alarme vermelho' sempre que as encontram, seja qual for o contexto. E vejam, não são algumas pessoas - o caráter racista da obra foi aprovado por unanimidade na Câmara de Educação Básica e no CNE. Lá, caros meus, se encontram dez, vinte, trinta, cinqüenta, sabe-se lá quantas pessoas que não sabem ler. Que, lendo Monteiro Lobato, não conseguem encontrar nada além de suposta desigualdade racial. O quão assustador é isso?

Uma acusação de racismo mais absurda ainda está no outro trecho citado pela matéria d'O Globo, onde se lê "não é à toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens". Esta é uma frase que não é nem passível de análise - posso revirá-la e lê-la quantas vezes for, que não consigo ver onde está o racismo. Tivesse Monteiro Lobato comparado os macacos faladores de besteiras aos homens negros, a crítica seria compreensível, mas ele só fala de homens. Os narradores do Discovery Channel que tomem cuidado, porque daqui a pouco a simples menção a um símio vai configurar racismo.

Diz o velho ditado que a maldade está em quem a vê, e esse é um clássico caso de racismo in the eyes of the beholder. Não vou nem falar da mentalidade simplista, politicamente correta e burrinha dos órgãos que decidem o que deve ser feito nas escolas, pois isso a essa altura do campeonato já deve ser bem óbvio. Só o que há para dizer é que talvez Monteiro Lobato estivesse mais certo do que nunca. Certos macacos e homens (brancos, negros, amarelos, azuis ou magenta com bolinhas verdes) são parecidíssimos mesmo - só dizem (e fazem) bobagem.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Villa-Lobos sem charuto

Por Leandro Oliveira

No youtube não canso de encontrar documentos extraordinários. Esta entrevista famosa, finalmente disponível para o grande público, é de Heitor Villa-Lobos falando sobre a música e o Brasil em 1951.

Às vezes lembra, se me perdoam o senso de humor, o Gilberto Gil. Está tudo aí: o tom salmódico, o papo quase esotérico, a exaltação das forças atávicas brasileiras como legitimadoras da "música do coração" que é aquela da produção nacional. Um discurso estético pleno de populismo e contradições, que se sustenta menos pela sua lógica ou inteligência e mais pelo seu carisma - ou melhor, o carisma de uma música que não está lá, mas que não podemos deixar de ouvir o tempo todo quando sabemos que é um discurso de Villa-Lobos.

Afinal, Villa fala como compõe. Só que quando faz música, as contradições se resolvem, a irreverência se justifica pois a produção poética se presta exatamente a isso: abrir portas para as possibilidades da realidade. E como diziam os romanos, a digito cognoscitur leo; e os dedos do Villa estão na sua música, não em seus projetos ou idéias políticas. A obra do Villa redime qualquer e todos os seus pecadilhos intelectuais.

Aos interessados em adquirir o original - um CD que conta ainda com o próprio compositor executando seus prelúdio e o choros nº1, além de outras peças para piano -, um possível caminho para compra aqui.


Esta semana, a Osesp apresenta o "Choros nº6" de Heitor Villa-Lobos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A fonologia e sua poética


Por Leandro Oliveira

Quase todos os sons de nossa fala são produzidos na expiração. A inspiração normalmente funciona para nós como um instante de silêncio, um momento de pausa na elocução. Línguas há, porém, como o hotentote, o zulo, o boximane e outros idiomas africanos, que apresentam uma série de consoantes articuladas na inspiração, os ruídos que se denominam CLIQUES. Em português praticamos alguns CLIQUES, mas sem valor fonético: o beijo, que é uma bilabial inspiratória (...).

In "Nova Gramática do Português Contemporâneo" (Celso Cunha e Lindley Cintra).

Em busca do roteiro perdido


Entre as características da arte de nosso tempo está o menosprezo pela narrativa. Que tal característica se desdobre no evidente distanciamento do público não é surpreendente: afinal poucos se dão ao luxo de passar suas horas vagas fazendo o esforço para tentar entender mensagens que, por vezes, nada querem contar. O fato estético é um encontro, mas o que fazemos quando uma das partes prefere o solipsismo?

Por Rodrigo de Lemos

Há uns 3 anos (talvez mais), Peter Greenway deu uma palestra em Porto Alegre falando sobre como o cinema deveria se concentrar nas imagens e deixar a narrativa para os romancistas. Mas aí lembrei de uma entrevista com um daqueles senhores divertidos do Nouveau Roman (Claude Simon, eu acho); para ele, o romancista devia se concentrar mais na descrição do que em contar histórias. Quem deveria então, para esse povo modernista/avant-garde, se dedicar à narrativa? Não poderiam ser os pintores; tenho dúvidas quanto à possibilidade de se contar uma história atirando tinta na tela com o pinto ou desenhando quadradinhos milimetricamente irrelevantes e perfeitos. O teatro, talvez; mas minhas dúvidas aumentaram ainda mais lembrando que teatro é rito, o que quer dizer uma horda de bichas semi-nuas atirando carne crua e leite materno no público. A poesia, mais difícil ainda; há modernistas que chegam a ter dela só uma definição negativa: exatamente o que não é narrativa.

Como só se conta uma história através de um meio (não existe narração no abstrato, sem a palavra escrita ou a imagem ou a encenação), e como cada arte, segundo o modernismo, devia se comprometer mais com o próprio meio do que com qualquer outro aspecto da obra, a presença de uma história não apenas é secundária como nociva para a criação do efeito estético mais elevado. Bobagem, claro. Levar as artes a esse nível de especialização (a pintura só deve investigar os meios da representação em duas dimensões; a poesia, os da “palavra” no sentido mais bobalhão do termo), além de criar uma tirania intelectual totalmente arbitrária, não deixa lugar para a narrativa. Como os modernistas esperam (ou esperavam) que se conte uma história se eles mesmos consideram todos os meios materiais disponíveis (palavra, imagem, encenação) muito acima da tarefa mesquinha de trazer à vida Fausto ou Tristão e Isolda ou Hamlet? Por transmissão telepática de cadeias de ações? Uma platéia conectada por sondas mentais aos atores enquanto eles transmitem o "Édipo Rei" por simples atividade psíquica?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

There is no such thing as public money

Por Leandro Oliveira

Capturado por nossos amigos inteligentes...


One of the great debates of our time is about how much of your money should be spent by the State and how much you should keep to spend on your family. Let us never forget this fundamental truth: the State has no source of money other than money which people earn themselves. If the State wishes to spend more it can do so only by borrowing your savings or by taxing you more. It is no good thinking that someone else will pay—that "someone else" is you. There is no such thing as public money; there is only taxpayers' money.

Prosperity will not come by inventing more and more lavish public expenditure programmes. You do not grow richer by ordering another cheque-book from the Bank. No nation ever grew more prosperous by taxing its citizens beyond their capacity to pay. We have a duty to make sure that every penny piece we raise in taxation is spent wisely and well. For it is our party which is dedicated to good housekeeping—indeed, I would not mind betting that if Mr. Gladstone were alive today he would reapply to join the Conservative Party.

Protecting the taxpayer's purse, protecting the public services — these are our two great tasks, and their demands have to be reconciled. How very pleasant it would be, how very popular it would be, to say "spend more on this, expand more on that." We all have our favourite causes — I know I do. But someone has to add up the figures. Every business has to do it, every housewife has to do it, every Government should do it, and this one will.

Ascensão e Queda da Música Clássica II

Por Leandro Oliveira


Retirado de Loop Mídia.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vamos reabilitar o capitalismo?


"Uma flor é uma flor é uma flor", mas nem sempre. No terreno da vida real - já poderiam dizer os gramáticos na Idade Média, e hoje asseveram os semioticistas - uma flor é um presente, um elemento de processos ecológicos, um símbolo aristocrático... Os nomes das coisas dizem de referências que estão para além delas; neste sentido, o termo "capitalismo" guarda realidades muito distantes daquelas do senso comum. Sentidos a serem reabilitados, como bem nos diz Joel Pinheiro da Fonseca.

Por Joel Pinheiro da Fonseca

Numa língua “perfeita” (digo idealizada, irrealizável, não necessariamente melhor), cada palavra teria um único significado. De cada palavra, sempre saberíamos exatamente ao que ela se refere. No mundo real, as palavras podem ter muitos significados, o que todo mundo sabe, mas acontece que há, também, palavras sem significado nenhum, e ainda palavras que já tiveram significados e não têm mais.

É o caso de “capitalismo”. Produto da mente tortuosa de algum pensador alemão (Marx não inventou o termo, apesar de tê-lo popularizado) - ou seja, nenhum dos autores em geral associados ao capitalismo, como Adam Smith, jamais o escreveu - “capitalismo” se referia supostamente a um certo sistema econômico. O problema é que esse sentido original já era sem sentido. Diferentemente do socialismo, que é algo imposto à sociedade, uma série de regras, proibições e intervenções governamentais para moldar a sociedade segundo uma certa concepção, o capitalismo nada mais é do que as pessoas vivendo e interagindo livremente; é a ausência de um sistema. Produzo algo, troco com outra pessoa, ofereço meu trabalho por um preço combinado mutuamente para um contratante, etc. Cada um é dono do que é seu e pode usá-lo livremente. Isso é capitalismo. O termo ainda tinha o mérito de ressaltar a importância do capital, isto é, da poupança, para o crescimento. Uma nação só prospera se tiver capital; e como forma capital? Poupando. Em todo caso, mesmo esse bom sentido, contido no próprio nome, acabou se perdendo.

Acontece que associou-se “capitalismo” a outra coisa: uma certa relação entre governos e grandes empresas, a concessão de monopólios, governos preocupado em aumentar o PIB, em controlar a taxa de juros e a inflação. Como o mesmo termo era usado tanto para um conjunto de valores e idéias acerca da sociedade quanto para designar o dono de uma empresa, as duas coisas acabaram se confundindo. Assim, se um grande empresário (um grande capitalista) entra em conluio com o governo, então o capitalismo, enquanto idéias e valores, deve ter algo a ver com isso; o que é obviamente falso. Hoje em dia, “capitalismo” não tem propriamente um significado, um objeto que seja designado pelo termo. É antes um produtor de reações no ouvinte: alguns detestam, outros adoram, mas ninguém sabe bem do que se está falando.

Dom Quixote - Um Romance do Século XXI (2)

Depois de comentar algumas referência biográficas importantes para a compreensão da obra de Cervantes na parte I, Nivaldo Cordeiro comenta mais precisamente da distinção do Dom Quixote como uma obra de arte que está para além da literatura, mas algo cuja atualidade segue importante para outros campos da modernidade.

Por Nivaldo Cordeiro


Retirado de Loop Mídia

domingo, 24 de outubro de 2010

Papo de Facebook. Ou: Como meus amigos são inteligentes! (2)

Capturado no Facebook da Jussara Almeida, amiga dileta do site:

Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso, não conhece a natureza humana.

Mikhail Bakunin, anarquista russo, 1814-1876

sábado, 23 de outubro de 2010

Para os amigos escapistas, um hino ao poder da literatura


Traduzido por Pedro Gonzaga

Da Torre - Quevedo

Retirado na paz destes desertos,
com poucos, porém doutos livros juntos,
vivo em conversação com os defuntos,
e escuto com meus olhos aos mortos.

Se nem sempre entendidos, sempre abertos,
ou emendam, ou fecundam meus assuntos;
e em músicos calados contrapontos
ao sonho da vida falam despertos.

As grandes almas, que a morte ausenta,
de injúrias dos anos vingadoras,
livra, ó grande dom Joseph!, douta a imprensa.

Em fuga irrevogável foge a hora;
mas aquela o melhor cálculo conta
que na lição e estudos nos melhora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ioanna Tsatsu - "Tu amargura"



Érico Nogueira por voltas com poesia neo-helênica no seu blog Ars Poetica, cujo epíteto deveria ser "o necessário". Como ele ressalva, os textos são traduzidos pelo poeta espanhol Mario Domínguez Parra. Érico tem o bom tom de introduzir o poeta da vez; após a nota biobibliográfica onde esclarece Ioanna Tsatsu, segue o poema "Tu amargura".

Por Érico Nogueira

Ioanna Tsatsu nació en Atenas en 1909. Su familia tiene una profunda relación con las letras. Su padre, Stelios Seferiadis, fue poeta y traductor de Lord Byron al griego moderno. Su hermano Yorgos Seferis, uno de los grandes poetas griegos. Su otro hermano, Ánguelos Seferiadis, fue poeta también, aunque oculto. El único libro de Tsatsu en español es "Diario de la invasión" (tr. Alicia Villar Lecumberri, Madrid, Ediciones Clásicas, 1991), crónica de los cuatro años de la invasión nazi de Grecia y de las penalidades que sufrieron ella y su entorno, que permanecieron en Grecia mientras que Yorgos Seferis formaba parte del gobierno griego en el exilio.

La obra poética de Tsatsu es amplia e importante, y está impregnada tanto de los ecos de la Grecia Clásica como de una profunda religiosidad proveniente del Cristianismo Ortodoxo. Escribió libros en prosa, como el mencionado diario. Otro libro del mismo género, La poesía y el Hades, diario que comprende los años 70 y 80, surge a partir de la amistad de Tsatsu con el poeta católico francés Pierre Emmanuel. Es necesario también mencionar un libro capital en el campo de la biografía, Mi hermano Yorgos Seferis, que mereció el Premio Nacional de Biografía en Grecia, en 1974, año en el que cayó la dictadura de los coroneles contra la que se manifestó Seferis desde el golpe de estado de 1967.

Esta biografía cuenta los primeros cuarenta y cinco años de la vida del poeta. Escribió también cuentos y un libro autobiográfico, Kydathineon 9 (dirección de la casa familiar en el centro de Atenas). Tsatsu escribió en este libro: «Para mí, de niña, Atenas significaba lo que estaba alrededor de la Acrópolis». Por esta casa pasó buena parte de la sociedad literaria y política del país, puesto que Tsatsu era esposa del dramaturgo, filósofo, ensayista y político Konstantinos Tsatsos, que llegó a ser Ministro de Educación y posteriormente Presidente de la República. Este libro incluye la crónica biográfica, el diario y el género epistolar. Tsatsu murió en 2000.


TU AMARGURA

No se me va el sabor
de tu amargura,
así no obstante cruzo
la corteza de la tierra

sangré el mundo
y mi corazón
recogí todo lo valioso
la salvaje pena del aire
ríos del cataclismo de mi nostalgia

lo dejé sobre tus rodillas;

me miraste con insistencia
avanzaste hacia tu vida.

(Tradução de Mario Domínguez Parra.)

Retirado de Ars Poetica.

Nasce uma estrela!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Questões ordinárias



Por Leandro Oliveira

Existem questões relevantes mas, mesmo assim, inoportunas. O contrário talvez não resista a análise. Uma das críticas aos usos recentes da questão do aborto é exatamente sua oportunidade: para os mais sensíveis, mesclar problema tão complexo ao calor publicitário de uma eleição é nivelar em termos duvidosos assunto de alta complexidade; para outros, por assim dizer "formalistas" (de conveniência ou não), é abrir precedentes perigosos para uma espécie de promiscuidade administrativa, ao levar um tema da Igreja à questão de Estado.

A necessidade da questão, no entanto, é incontestável. Afinal, a decisão do aborto é, muito mais que tecnicalidade jurídica, sectarismo religioso ou convenção sociológica, algo que se desdobra em uma série de dilemas morais e filosóficos sobre a própria definição da natureza humana. É possível concordar ou discordar sobre a conveniência ou mesmo a prudência da discussão nos termos em que se coloca na campanha eleitoral - mas decididamente é impossível negar sua legitimidade no debate público.

Neste sentido a Folha de São Paulo saiu na frente. Três de seus colunistas - Luiz Felipe Pondé, Antonio Cícero e João Pereira Coutinho, em ordem cronológica - levantaram ao longo da última semana em suas respectivas colunas, argumentos a favor e contra o assunto. Além da Folha, o Diário do Comércio posicionou-se de forma não menos que brilhante com um texto que ouso dizer fundamental do professor Olavo de Carvalho.

Ao final da leitura dos quatro, nos enriquecemos todos. O que mostra ser a discussão sobre a descriminalização do aborto, talvez, assunto delicado para fins eleitoreiros, mas absolutamente decisivo para compreendermos nosso lugar no mundo. E se for apenas para isso, é necessário asseverar, toda a polêmica parece valer a pena. Vamos aos textos: boa leitura!

Por Luíz Felipe Pondé

Sou contra o aborto. Não preciso de religião para viver, não acredito em Papai Noel, sou da elite intelectual, sou PhD, pós-doc., falo línguas estrangeiras, escrevo livros “cabeça” e não tenho medo de cara feia.

Prefiro pensar que a vida pertence a Deus. Já vejo a baba escorrer pelo canto da boca do “habitué” de jantares inteligentes, mas detenha seu “apetite” porque não sou uma presa fácil. Lembre-se: não sou um beato bobo e o niilismo é meu irmão gêmeo. Temo que você seja mais beato do que eu. Mas não se deve discutir teologia em jantares inteligentes, seria como jogar pérolas aos porcos.

Esse mesmo “habitué” que grita a favor do aborto chora por foquinhas fofinhas, estranha inversão...


Na íntegra aqui.

***

Por Antonio Cícero

Se não me engano, algum tempo atrás Lula previu que, nas eleições deste ano, todos os candidatos à Presidência seriam de esquerda. De fato, os três mais votados candidatos do primeiro turno, logo, os dois do segundo, são considerados de esquerda.

Serão mesmo? Pensaria o contrário quem, sem nada saber dos candidatos, visse as fotos diárias que a imprensa publica de cada um deles a assistir à missa; ou suas confraternizações com pastores e políticos evangélicos; ou lesse suas declarações de fé; ou as promessas de obediência que fazem a líderes religiosos; ou suas renegações da proposta da descriminalização do aborto...

Dois dias atrás, afirmando que uma eleição é o pior momento para debater qualquer questão que seja, Contardo Calligaris postergou uma discussão sobre o aborto. Acho que ele estava certo. Contudo, tendo lido inúmeros ataques à tese de que o aborto deve ser descriminalizado, mas nenhum argumento a favor dela, resolvi lembrar alguns. (...)


Na íntegra aqui.

***

Por João Pereira Coutinho

O ABORTO regressou. Tudo por causa das eleições presidenciais, que trouxeram o tema para cima da mesa com seus cortejos de oportunismo e ignorância.

Concordo com Contardo Calligaris: não se discutem esses temas no calor demagógico de uma eleição.

Por outro lado, se não fosse a eleição, não seria possível ler o importante texto que o meu amigo Antonio Cicero escreveu nesta Folha sábado passado ("A questão do aborto", Ilustrada, 16/10).

Ponto prévio: sou contra a descriminalização do aborto, excetuando casos de perigo para a saúde física ou psíquica da mãe. Não por motivos religiosos, contrariamente ao que Cicero imagina, mas por motivos éticos e políticos, que apresentarei no final. (...)


Na íntegra, para assinantes, aqui. Para não assinantes, aqui.

***

Por Olavo de Carvalho

O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. (...)


Na íntegra aqui.

Dom Quixote - Um Romance do Século XXI (1)

Dom Quixote de La Mancha, protagonista da obra-prima homônima de Miguel de Cervantes, é um personagem cuja atualidade e fascínio segue incontestável. Ponto de transformação da literatura ocidental, o texto e seu simbolismo são discutidos neste especial do site Loop Mídia.

Por Nivaldo Cordeiro


Retirado de Loop Mídia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Jogos da Música - Apreciação Musical



Por Leandro Oliveira

A última edição de 2010 do curso "Jogos da Música" começa agora no dia 3 de novembro. Por conta da agenda e do Natal, desta vez serão apenas seis semanas - e terminaremos os encontros ligeiramente mais tarde para compensar. Seis quartas-feiras muito divertidas para quem quer saber tudo sobre música mas tem medo de perguntar...

Como sempre vagas limitadíssimas pois minha casa é, por assim dizer, "aconchegante". E claro, com vinhos, queijos e tudo o mais que, eu sei, merecemos.

Mais informações, aqui.

Por favor, ajudem a espalhar (embora as vagas acabem muito cedo, é sempre bom).

PS: Ah, aos amigos de fora do estado: é aqui na Vila Madalena, em São Paulo. A edição do Rio de Janeiro só em janeiro ou fevereiro.... ou Deus sabe quando!

Um gigante e uma biografia gigantesca


Dostoiévski em breve se tornará o escritor mais citado no Ocidentalismo.org. Oba! A discussão de sua obra está permeada pela compreensão dos elementos biográficos com os quais precisou lidar - e neste sentido, a publicação monumental de Joseph Franck sobre sua vida é decisiva. Renato Moraes faz sua resenha sobre o livro.

Por Renato Moraes

Para minha satisfação, e em parte tristeza, terminei o último dos cinco volumes da biografia de Dostoiévski, escrita por Joseph Frank, que foi professor de Literatura nas universidades de Princeton e Stanford. A tristeza é aquela de quando terminamos um livro excelente, em cuja companhia permanecemos meses: começa a bater a saudade, e sabemos que nunca mais leremos aquela obra pela primeira vez.

Todos os volumes da biografia, editada no Brasil pela Edusp, somam mais de 3.000 páginas. Nem acredito que os enfrentei! No entanto, posso assegurar, sem medo de exagerar, que foi uma das melhores coisas que li na vida. Cada volume apresenta trechos antológicos, e não consigo destacar um em relação aos outros: tudo é muito interessante.

A biografia transita por três níveis: a vida propriamente dita de Dostoiévski, que é o fio que unifica tudo; a análise da sua obra literária; e o ambiente cultural e político daqueles anos na Rússia. Joseph Frank é habilidoso ao entretecer os assuntos, mantendo sempre o ritmo e chamando a atenção do leitor; parece até um romance do biografado.

Por sinal, a vida de Dostoiévski é impressionante. Sua formação intelectual, os flertes revolucionários da juventude, o tempo de prisão, os anos no exército, o retorno à vida cultural e a confecção das suas obras-primas, as disputas ideológicas nas quais se envolveu, a profunda humanidade da sua vida familiar, sua consagração pública nos últimos anos... Os vários eventos são contados com profundidade e agilidade, e o biógrafo chega às motivações religiosas e morais do biografado, que dão o sentido último de sua existência.

sábado, 16 de outubro de 2010

Wilson Simonal

Por Leandro Oliveira

Sábado de sol... Então para relaxar, o mestre Wilson Simonal em dois momentos: com a extraordinária Sarah Vaughan, e no documentário fundamental de Cláudio Manoel.


Do release oficial de "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei":

Como é que pode o Rei do Suingue ser condenado ao ostracismo por falta de jogo de cintura?! Pois é... esse é o paradoxo que marcou a vida de um dos maiores artistas da música brasileira: Wilson Simonal. "Alegria, Alegria" era o bordão desse cantor negro que orquestrava platéias gigantescas. O dom que ele tinha em dominar as massas, lhe faltou na hora de lidar com o sucesso. Simonal era subversivo e carismático ao mesmo tempo, sendo mal interpretado numa época em que tudo era analisado com radicalismo: ou você era da Direita Perversa ou da Esquerda Intolerante. No meio desse tiroteio de ideologias, Simonal foi vítima das duas correntes. O precursor da musica POP Brasileira, intérprete da "Pilantragem" (estilo de musica debochado e malandro da época), perdeu o rebolado quando não teve habilidade em lidar com o suposto roubo de seu contador. O menino negro e pobre, filho de empregada doméstica, que alcançou o sucesso graças ao seu talento, viu tudo desmoronar... julgado e renegado pelos seus colegas de trabalho e pela mídia, num boicote que durou mais de duas décadas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Gödel para iniciantes, parte II


Por Julio Lemos

Retomo o tema dando a solução -- que parece ter deixado muita gente sem dormir -- para o exercício sugerido no final da parte I.

A solução não é difícil; mas não é assim tão trivial. Se eu tivesse deixado mais explícita a dica segundo a qual o melhor é procurar por uma sentença que responde com a sua própria impossibilidade (ou licitude) de impressão -- uma que fosse verdadeira sse não fosse passível de impressão pelo computador --, talvez alguém tivesse acertado.

A sentença, então, seria esta:

~PN (~PN),

que pode ser lida assim: não se pode imprimir a norma segundo a qual essa mesma norma não é 'imprimível'. Ou seja: essa sentença é verdadeira sse (se, e somente se) a norma segundo a qual ~PN não é imprimível. Mas a norma de ~PN é a própria sentença ~PN (~PN). Isso significa, se raciocinamos sobre o caso (um cálculo puramente mecânico e finito), que ou a sentença é verdadeira e não imprimível, ou é imprimível e portanto falsa (não verdadeira). Mas essa última alternativa viola a norma segundo a qual o computador não imprime sentenças falsas.

Logo, a sentença é verdadeira, mas o computador não a pode imprimir.

Um problema semelhante exige, e permite, a apresentação ao leitor da noção de "números de Gödel" (Gödel numbers).

Suponha agora que a máquina pode imprimir os seguintes símbolos:

~ P N 1 0

A cada expressão (as mencionadas no outro problema, na Parte I) assinalamos então um número de Gödel correspondente, atribuindo-os aos símbolos apresentados acima conforme a tabela:

~ = 10
P = 100
N = 1000
1 = 10000
0 = 100000

Então tomamos uma expressão, por exemplo ~PNN, e substituímos cada símbolo pelo número correspondente: no caso, 1010010001000. Eis o número de Gödel da expressão ~PNN.

Definimos então a norma da expressão como essa expressão seguida do número de Gödel correspondente a ela. Por exemplo: a norma de ~PNN é a expressão ~PNN1010010001000.

Um sentença será então (repare que sentenças são expressões que seguem um padrão aceitável pelo computador) uma fórmula de acordo com o padrão: PX, ~PX, PNX ou ~PNX, onde X é um número. Então dizemos que PX é verdadeiro sse X é o número de Gödel correspondente a uma expressão imprimível. Assim, dizemos que PNX é verdadeiro sse X é o número de uma expressão cuja norma é imprimível. Por exemplo: ~PX é verdadeira se PX é falso, ou seja, se X não é um número de Gödel de uma expressão imprimível, e ~PNX é verdadeira se PNX é falsa.

Suponha, novamente, que o computador não imprime sentenças falsas.

Seguindo as regras desse sistema, o leitor poderia citar uma sentença verdadeira que o computador não pudesse imprimir?

Dou a resposta mais adiante.

Isso é apenas um aperitivo para a verdadeira prova de Gödel. Se alguém insistir, posso escrever sobre uma prova abstrata e bastante próxima da solução do matemático e físico austríaco.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

To wear or not to wear, that's the question


De fora as gafes mais bizarras - como vestir sapatos de pés trocados - estamos sempre, homens e mulheres, tentando nos vestir adequadamente. O adequado não é o mais caro: é o decoroso. Existe um decoro que não o parlamentar, evidentemente, e aquele do bem vestir é pouco levado em conta hoje em dia. Maria Celina ajuda a entender a questão.

Por Maria Celina Godilho

Fui a um Tribunal há uns dias e fui barrada por não estar vestindo blazer, embora estivesse com roupas decentes. Eles estão corretos?

Para qualquer profissão, há um código de vestimenta, ou pelo menos regras do que NÃO usar no ambiente de trabalho. Por exemplo, decotes enormes, muito brilho, sandálias abertas ou roupas muito justas são proibidos. E isso para qualquer profissão mesmo, não apenas para aquelas mais formais, como as jurídicas.

No entanto, o que eu vejo (apoiada por outras pessoas de bom senso que vêem o mesmo) nos tribunais é a completa subversão dessa regra de bom senso de moda e estilo. Homens que usam o terno bem desalinhado, a gravata descombinante e outras bizarrices. Mas eles são mais fáceis de consertar - basta mudar um detalhe aqui ou ali e pronto, já ficam mais arrumadinhos.

As mulheres, no entanto, ou pensam que vão imediatamente do trabalho ao happy hour, ou pensam que já estão no evento; usam roupas de alças, decotes constrangedores, muita maquiagem (ou nenhuma), saltos-agulha (nem parece que precisam carregar bolsa pesada + processo e ainda se equilibrar em salto bem alto).

Brincando com relógios


Sobre a essência do tempo, o Ocidente tem poucas certezas e muitas dúvidas. A estas tantas, Leonardo traz algumas outras, retiradas diretamente de suas traduções vedantinas.

Por Leonardo Valverde

Duvido que alguém tenha passado ileso de um único aniversário. Ou que no caminhar do dia nunca tenha se perguntado “para onde foi o meu bendito tempo?”. Quase todos que pensaram sobre a vida, pensaram sobre o tempo. Ele é invisível, não tem cheiro e sequer dá “bom dia”, está por aí, sorrateiro, taciturno, e ninguém consegue segurá-lo.

Eu já pensei sobre o tempo. Você também já pensou sobre ele.

Mas o que o vedānta nos diz sobre ele? Na bhagavad gītā (10.33), Kṛṣṇa diz que:

अहम् एवाक्षयः कालो

aham evākṣayaḥ kālo

Eu, sozinho, sou o tempo infinito.

Aqui, Kṛṣṇa não diz que ele é o tempo simplesmente, mas que é o infinito (ākṣaya).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A mão do diabo?


Por Leandro Oliveira

Esta semana a Osesp apresenta a suíte "Vila Rica" de Camargo Guarnieri. Feita a partir de referências da trilha para o filme "Rebelião de Vila Rica", a obra é de 1959 e desdobramento da polêmica "Carta Aberta ao Músicos", de 1950. Ali, o compositor paulista condenava o "formalismo" na música clássica brasileira - e por "formalismo" entenda-se principalmente o método dodecafônico (introduzido no Brasil anos antes pelo exilado alemão Hans-Joachim Koellreutter), mas também experimentalismos que negassem a "identidade nacional".

A Carta reverberava a sua maneira o politburo e a "Doutrina Zhdanov", que inaugurará a segunda fase do realismo socialista e, em 1948, começara sanções públicas severas à artistas da então União Soviética - censurando compositores como Prokofiev e Shostakovich ou mesmo entusiastas do regime como Aaram Khachaturian. Em abril do mesmo ano, o Congresso da União de Compositores Soviéticos coloca os termos para a produção da música "progressista": os nacionalismos regionais como a base do que mais claramente servia a expressão do "proletariado".

André Egg faz um excelente artigo a respeito. Realiza algumas distinções entre os tantos "nacionalismos" no Brasil do pós-guerra e, principalmente, comenta a referência ainda mais específica sobre este assunto, a tese de doutorado do professor Luís Antônio Giani "As Trombetas anunciam o paraíso - recepção do realismo socialista na música brasileira. 1945 - 1958".

O tema é interessante, mais do que tudo por apontar as raízes que estarão na briga cultural que culminará no golpe de 1964. Ops, mas isso é outra história...

Dois poemas de Konstantínos Kavafís



Traduzido por Pedro Gonzaga

Recorda, corpo

Recorda, corpo, não somente o quanto foste amado,
não somente os leitos em que estiveste,
mas também aqueles desejos por ti
que em outros olhos viste brilhar
e que tremeram em outras vozes – e que o destino
humilhou.
Agora que todos eles são coisa do passado
quase parece que satisfizeste
aqueles desejos – como ardiam,
recorda, nos olhos que te contemplavam;
como tremiam por ti, nas vozes, recorda, corpo.


Velas

Os dias futuros se erguem diante de nós
como uma fileira de velas acesas -
douradas, vivazes, cálidas velas.

Os dias do passado ficaram tão para trás,
fúnebre fileira consumida
onde as mais próximas ainda fumam,
velas frias, retorcidas e desfeitas.

Não quero vê-las; seu aspecto me aflige,
me aflige recordar sua luz primeira.
Vejo diante de mim as velas acesas.

Não quero me voltar, e estremecer ao contemplar
que rapidamente aumenta a fileira sombria,
que rapidamente cresce com suas velas já consumidas.

Retirado de pedrogonzaga.wordpress.

Ascensão e Queda da Música Clássica I

Por Leandro Oliveira



Retirado de Loop Mídia.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Educação Estética no Brasil

Por Eduardo Wolf



Retirado de Loop Mídia

Gödel para iniciantes, parte I


por Julio Lemos

Talvez alguns dos leitores tenham ouvido falar -- talvez com horror -- do famoso teorema da incompletude de Kurt Gödel, publicado em seu artigo "Über formal unentscheidbare Sätze der Principia Mathematica und verwandter Systeme I" em 1931. A prova é longa e difícil: é necessário que o leitor domine dezenas e dezenas de definições apenas para começar a trabalhar com ela. 

Mas Raymond Smullyan dá uma idéia da prova de Gödel que me pareceu, até agora, a mais acessível.

Basicamente, o ponto é que um sistema formal pode decidir sobre muitas coisas... exceto sobre certas afirmações sobre ele mesmo. E se pudéssemos traduzir, em uma sentença lógica, a idéia de que ela mesma não pode ser provada, como que a dizer "eu sou indemonstrável"? Essa é a intuição de Gödel, que lembra antigos paradoxos.

Pense num computador ligado a uma impressora. Ele pode imprimir os seguintes desenhos, no total de cinco:

~ P N (  )

Podemos formar, com esses símbolos (mas nunca com 0 símbolos), uma expressão. Agora prestem atenção nas seguintes definições.

Uma expressão X é imprimível (a palavra não existe no português, mas vocês entenderam, não?) pelo computador caso possa ser impressa.

Chamaremos norma da expressão X uma expressão do tipo X(X). Por exemplo: P(P).

Pensando em X como qualquer expressão, temos uma sentença caso ela tenha uma das seguintes formas: (a) P(X); (b) PN(X); (c) ~P(X); (d) ~PN(X).

Agora vamos assumir que P significa "imprimível", N "norma de" e ~ "não". E definimos que P(X) é verdadeiro sse (se e somente se) X pode ser impresso. Por conseguinte, ~P(X) será verdadeiro sse X não é imprimível. O mesmo, mutatis mudandis, no que diz respeito a PN(X) e ~PN(X).

O leitor deve ter adiantado que nosso computador revela informações sobre seu próprio funcionamento: ela imprime sentenças que dizem o que ela pode e o que não pode imprimir...

Se o computador imprimir P(X), saberemos que X é imprimível. É o que diz a sentença. Se imprimir PN(X), saberemos que N(X) é imprimível (portanto verdadeira).

Mas com isso podemos dizer que o computador pode imprimir todas as sentenças verdadeiras? Só sabemos que ele não imprime sentenças falsas.

A resposta é não. Exercício para o leitor: saberá ele dar um exemplo de uma sentença certamente verdadeira, mas que o computador não possa imprimir?

A solução dá uma boa idéia sobre a prova de Gödel. Os que não souberem, que aguardem o próximo post!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

...like a bridge over troubled watters...


Por Eduardo Wolf

Imagine a seguinte situação: você está em uma dieta de emagrecimento (as razões para isso podem ser variadas) e, dadas essas circunstâncias, você sabe que não deve comer certas coisas – digamos, doces, por exemplo. E eis que de repente você se depara com aquela extraordinária torta, com aquele chocolate suíço magnífico – insira aqui o doce de sua preferência, leitor. Você nunca fraquejou em uma situação como essa? Claro, os exemplos poderiam ser de outra ordem. Por exemplo, imagine que você, mesmo sabendo que não deve consumir bebidas alcoólicas, pois está dirigindo, acabe, mesmo assim, fazendo isso. O vinho era bom – e não precisa ser um Alma Viva – e você, hélas, fraquejou. Mas afinal, porque isso acontece? Como podemos explicar satisfatoriamente esse fenômeno que, salvo engano meu, é tão comum entre nós?

Antes de responder a essa questão, vejamos ainda um outro caminho: imagine que você comece a se perguntar sobre o que faz com que você precise obedecer aquela lei que diz que você não deve ingerir bebidas alcoólicas e dirigir. Você pode responder que, ora bem, trata-se de uma convenção: é a legislação vigente, e é assim que funciona a vida em sociedade. Mas por que respeitamos as leis convencionadas? E por que essas leis, e não outras? Você poderia ir ainda mais longe e se perguntar por algo que extrapola qualquer sentido de convenção no que diz respeito ao nosso comportamento. Por que, por exemplo, nos sentimos chocados com a idéia de torturar crianças (no meu caso e no de muitos, bastaria o “torturar”, mas forço o exemplo com fins didáticos)? Não é preciso que esteja escrito em nenhum lugar que isso é algo ruim para que pensemos que, de fato, é (salvo, é claro, casos patológicos) algo ruim. Mas de onde vem essa nossa compreensão das coisas boas e más que fazemos ou que não devemos fazer?

Se você acha que nenhuma dessas questões faz sentido, aconselho que pare de ler por aqui (embora duvide que quem pense assim tenha chegado até aqui). Agora, se você reconhece que essas questões ao menos fazem sentido, peço que estique um pouco mais a corda do raciocínio e me acompanhe.

Astrologia e seus mistérios


Isaac Newton, inegavelmente um dos pais da física moderna, era dado aos segredos da alquimia. Com um precedente desses, podemos tranqüilamente reverberar a máxima do príncipe da Dinamarca "there are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy." Joel Pinheiro da Fonseca mostra fontes que tornam verdadeiramente intrigante a arte da Astrologia.

Por Joel Pinheiro da Fonseca

O argumento mais forte pare se dar crédito à astrologia, na minha opinião, é sua universalidade histórica e cultural. Todas as culturas (ou quase todas), em todas as épocas, viram alguma relação entre a os astros e a vida humana. O que tornaria esse argumento ainda mais forte é mostrar que as diferentes tradições, as diferente astrologias (babilônica, chinesa, ptolomaica, asteca), concordam entre si, ou ao menos se complementam. Fora esse fato, que levou, aqui no Ocidente, ao desenvolvimento de todo um sofisticado sistema de análise, sobra a evidência pessoal de quem já teve consultas reveladoras com astrólogos (seja para descrição do caráter, seja para previsão de tendências futuras na vida da pessoa). Mas esse tipo de evidência funciona só para quem teve a experiência. Para quem ouve o relato, ficam muitas incertezas (o quanto foi revelação real e o quanto sugestão?); quanto mais longe se é da pessoa, menor é a força da experiência pessoal dela.

Experiências pessoais existem para absolutamente todos os tipos de crença: astrologia, leitura de mãos (um homem que conheço foi a um astrólogo, e muito tempo depois a uma leitora de mãos, e recebeu a mesma descrição de seu caráter, em termos nada banais, de ambos), espiritismo, pentecostalismo, candomblé, catolicismo, simpatias mil, etc. No fim das contas, nenhum deles pode ter poder decisivo para um ouvinte. Em primeiro porque nunca se tem certeza que, de fato, algo extraordinário aconteceu. Em segundo porque, mesmo que se aceite o evento extraordinário, não se sabe se a interpretação dada por quem a vivenciou é correta (isso vale tanto para o ouvinte quanto para o sujeito). Será que a força benevolente que o fez se sentir em casa no terreiro de umbanda não era um demônio querendo arrastar sua alma para o inferno?

domingo, 10 de outubro de 2010

Especial Poa Em Cena IV - Ute Lemper


It was a wrong number that started it, the telephone ringing three times in the dead of night, and the voice on the other end asking for someone he was not...

Por Leandro Oliveira

"Hi Leonardo, here is Ute". Agruras nada típicas de um professor de história da cultura, ser interrompido no meio de divagações sobre Tocqueville por um número cheio de zeros (chamada internacional) ao celular - e ter o próprio nome confundido em uma língua que não a sua. Não, não sou Leonardo, senhora Lemper, mas Leandro, por favor. Como está, fez boa viagem?

A diva que deveria acompanhar pelos próximos dias me ligava do aeroporto pois o motorista havia atrasado. Fui por três anos diretor artístico da série de concerto internacionais da TUCCA, uma organização que cuida de crianças carentes com câncer e tem como estratégia para levantar recursos a programação de cinco concertos anuais na Sala São Paulo, concertos cuja renda é revertida para as atividades que promove. Ela trouxe Brad Mehldau há poucos dias. Naquele ano, Ute abriria nossas atividades ao lado da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal e o maestro Rodrigo de Carvalho.

Minha vida entre estrelas não começava ali. Na verdade, tratava-se de uma espécie de rotina do grand monde que eu habitara não sem muita timidez desde os 16 anos, quando começara a estudar piano a sério e pude conviver - por forças das circunstâncias bastante particulares, não do meu talento - com Nelson Freire, Antonio Meneses, Ricardo Castro, Jocy de Oliveira ou John Neschling (para ficar entre os brasileiros) e desde então assumir com certa naturalidade a mania carioca de chamar os mais próximos entre eles pelo diminutivo (Nelsinho, Ricardinho, Johnny etc...).

Ute nunca foi "Utinha", mas o "Senhora Lemper" caiu na segunda ligação. O motorista havia chegado - um anjo da guarda, por nome Marcelo. Ficamos juntos toda a semana. O ponto máximo de nossa intimidade foi a recepção para patrocinadores após o concerto, quando ela ao pé de meu ouvido pediu para ficar próximo, já que estava pouco à vontade entre tanta gente estranha falando uma língua esquisita.

Ute Lemper pouco à vontade?


Lembrei disso pois Ute esteve há pouco tempo no "Porto Alegre Em Cena". No show apresentou alguns de seus belíssimos cavalos de batalha como o "Die Moritat von Meckie Messer" (em versão particularíssima aqui) de Kurt Weil, e sua sempre emocionante "Ne me quittes pas" - que, aliás, não à toa foram as últimas palavras que falei para ela no aeroporto ano passado... Seus partners, sempre afinadíssimos, foram o pianista Vana (ou Werner Gierig para os não íntimos) e o bandoneonista Tito Castro (este último não esteve conosco no show em São Paulo).

Quem foi não esquecerá. Todos do Ocidentalismo.org que foram ficaram catatônicos e por isso, não conseguiram escrever. Eu não fui, então esta crônica a la Forrest Gump. Sei que dali ela partiu para o Rio e meus amigos que puderam assisti-la na Cidade Maravilhosa largaram a família ou embriagaram-se completamente pelo resto da vida. Poucos acreditam que eu tenha sobrevivido tendo tido sua voz sussurrante à minha direita.

sábado, 9 de outubro de 2010

Há muito por vir


E tudo isso, que é tanto,
é pouco para o que eu quero...

(Álvaro de Campos)

Estamos fechando dois meses de atividade semi-clandestina do Ocidentalismo.org, com divulgação apenas entre amigos. Surpresas muitas – para nós e para nossos leitores. Para nós porque encontramos uma recepção magnífica daqueles a quem chamamos para participar de tal empreitada, sejam os colaboradores, sejam os blogs convidados; porque ao longo desses dois meses, os novos nomes que conseguimos trazer para o projeto confirmaram a nossa intuição de que era preciso unir as boas iniciativas em cultura e pensamento na rede; porque o número de acessos foi muito superior ao que esperávamos; porque o retorno que os leitores têm dado vem sendo um grande incentivo para todos nós.

Para os leitores, reservamos nossas melhores surpresas. Incorporamos nosso querido amigo Julio Lemos como editor – estamos preparando nosso Art of the Trio, agora. Nossos colaboradores têm se esmerado em produzir textos a um só tempo agradáveis e bem informados, prazerosos e provocadores. Passamos a publicar os textos do célebre Pedro Sette-Câmara, escritor, tradutor e web-agitador de longa data; do poeta e tradutor Érico Nogueira, e do seu colega Dirceu Vila; do professor, tradutor e blogueiro blasé Rodrigo de Lemos, do jovem crítico de cinema e aprendiz dos mistérios da filosofia Willian Silveira. Eduardo Augusto Pohlmann passa a fazer as vezes de homem das leis e de idéias, devassando os problemas da filosofia e do direito – e da filosofia do direito. Joel Pinheiro da Fonseca faz o mesmo com a economia e a filosofia. André de Godoy, além do gentil serviço de revisor sempre alerta, contribui com análises que vão do jazz ao niilismo do cinema noir - com coisas surpreendentes no meio. Nossas forças femininas, que já contavam com Talyta Carvalho, Paola Secchin, Fernanda Vaz e Karen Worcman, contam agora com os textos de Maria Celina Gordilo - nossa infiltrada em Brasília para outros assuntos que os não-contabilizados.

As novidades não ficam por aqui, claro. A partir do dia 12, o Ocidentalismo.org passa atuar em conjunto com o site loopmidia.com, um dos projetos mais bacanas na rede dos últimos tempos, com vídeos sobre literatura, artes, teatro, política e filosofia. Em parceria com o loopmidia.com, o Ocidentalismo inicia uma série de entrevistas com uma gama variada de pessoas que tenham coisas interessantes a dizer: escritores, poetas, filósofos, jornalistas – gente com conteúdo de verdade. Aos poucos, mais e mais novidades serão apresentadas aos nossos leitores nesse combate sem fim ao "fascismo da vulgaridade", como disse George Steiner falando dessa nossa época em que ter critérios é sinônimo de autoritarismo e em que qualquer invencionice juvenil é tratada como se tivesse a dimensão de um diálogo platônico.

Muita coisa boa, enfim! Mas esse “muito” ainda é pouco perto do que queremos, como diz nossa epígrafe pessoana. Há muito mais por vir.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ambientalismo e outros "ismos"

Por Leandro Oliveira

Václav Klaus pelo Hoover Institution discorrendo em uma entrevista extraordinária sobre as relações entre "ambientalismo e comunismo".


Para ouvir a entrevista na íntegra - imperdível -, clique aqui.

***

Harvey Mansfield, professor de ciências políticas em Harvard, defende de forma a meu ver brilhante uma sua colocação controversa: conservadores são mais tolerantes que liberais (american way, por favor).


Para íntegra, clique aqui. Para a entrevista de Mansfield à "The Harvard Review of Philosophy", aqui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Admirável Mundo Novo

Por Leandro Oliveira

"Amusing Ourselves to Death" é um livro do teórico da comunicação Neil Postmam - que teria inspirado, entre outros, o disco do Rogers Waters ("Amused to Death"). Em sua introdução, uma exploração notável:

Nós mantínhamos os olhos em 1984. Quando o ano veio e a profecia não se concretizou, americanos inteligentes cantaram cheios de orgulho sobre si mesmos. As raízes da democracia liberal vencera. Em alguns lugares o terror acontecera mas entre nós, ao menos, não houve a visita do pesadelo orwelliano.

Mas esquecemos que ao lado da visão pessimista de Orwell havia outra - um pouco mais velha um pouco menos conhecida, igualmente terrivel: "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley. Ao contrário da crença comum entre as pessoas educadas, Huxley e Orwell não professavam a mesma coisa. Orwell previa que nós seríamos obliterados por uma opressão imposta e externa. Mas na visão de Huxley, nenhum Big Brother é necessário para tirar das pessoas sua autonomia, maturidade e história. Como ele via, as pessoas iriam amar sua opressão, adorar as tecnologias que retirariam delas suas capacidades de pensar.

Orwell temia aqueles que queimam livros. Huxley temia que não houvesse mais motivos para banir livros, pois não haveria ninguém que os quisesse ler. Orwell temia aqueles que desejavam nos negar informação. Huxley temia que tivéssemos tanta informação que estaríamos reduzidos à passividade e egoísmo. Orwell temia que a verdade nos fosse afastada. Huxley temia que a verdade fosse jogada em um mar de irrelevância. Orwell temia que nos tornássemos uma cultura cativa. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura trivial, preocupados com bobagens (feelies, the orgy porgy, and the centrifugal bumblepuppy, no original). Como Huxley aponta, no seu Brave New World Revisited, os libertários e racionalistas que sempre estiveram atentos a opor-se à tirania, "falharam em levar em consideração o apetite monstruoso do Homem por distrações". Em "1984", Huxley comenta, pessoas são controladas pela dor. Em "Admirável Mundo Novo" elas são controladas pelo prazer. Em resumo, Orwell temia que aquilo que odiamos nos arruinaria. Huxley temia que aquilo que amamos fosse nossa ruína.

Nobel de Literatura - Mario Vargas Llosa

No blog do Sérgio Rodrigues:

O escritor peruano Mario Vargas Llosa, anunciado agora há pouco pela Academia Sueca como vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010, é um dos nomes mais incontestáveis a receber a honraria em muitos anos. Um dos mais destacados representantes da geração do chamado “boom latino-americano” dos anos 1960-70, Vargas Llosa, 74 anos, nasceu em Arequipa e mora hoje em Nova York, onde leciona na Universidade de Princeton. É autor de diversos romances que combinam sucesso de público com o respeito da crítica, como “A cidade e os cachorros”, “Conversa na catedral”, “A guerra do fim do mundo” (sobre Canudos), “Tia Julia e o escrevinhador” e “Pantaleão e as visitadoras”. Seu próximo romance, “O sonho do celta”, será lançado em breve. A obra de Vargas Llosa vem sendo relançada no Brasil pela Alfaguara e uma coletânea de artigos e ensaios acaba de sair aqui, “Sabres e utopias”, pela editora Objetiva, do mesmo grupo. (...)

Para ler a íntegra, clique aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Poema em linha torta e três amigos


Por Pedro Gonzaga

Poema em linha torta

De todos os lados armam-se de teorias
futuristas cansados
tecnologias que cantam
com a ingenuidade
forjada dos pilantras
ou com a estupidez assanhada
dos paspalhos.

Debatem o fim da lira por todos os lados
locupletam-se com artigos
em revistas indexadas
descolam um pouco de sexo
entre o furor inerme das
comunicações de 20 minutos
tempo mais que suficiente
para os que esqueceram
Garcilaso.

Anunciam eufóricos a descoberta
da interatividade
tão antiga
vejam só
quanto o bom Homero.

Alfabetizam-se com histórias
em quadrinhos
rebatizadas com novos
e lustrosos
nomes importados:
romances gráficos
orientais mangás,
alegam ser capazes de ler na tela
300 páginas,
mas não vencem uma quadra
de Quevedo.

Estão por toda a parte
e vão vencendo,
falam mais alto
amasiam-se
lubrificam-se à voz procaz
dos suplementos literários.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Diário de Bordo 4 - Bruges


Última parada, Bruges. Érico Nogueira nos leva a Veneza do norte, pequena pedra preciosa da europa.

Por Érico Nogueira

Bruges é um presépio de pedra incrustado em Flandres. No centro da cidadezinha, onde as lojas de chocolate & quinquilharias se acumulam -- e os turistas se apinham --, parece fake, como o centro de Campos do Jordão. Mas, ainda como Campos do Jordão, tem recantos impagáveis: os monastérios; certas igrejas recônditas, a quinze minutos a pé do centro de mentira; e as livrarias, claro, que são em número exorbitante numa cidade tão pequena.

E são-no pelo seguinte: em Bruges nasceu o maior poeta flamengo dos tempos modernos, o padre Guido Gezelle (1830-1899). Qual não foi então a nossa fortuna quando, depois de igrejas e monastérios e moinhos, demos com um professor e seus alunos adolescentes, para os quais explicava -- em flamengo, sim, como não? -- a vida e a obra de Gezelle. Pedi-lhe permissão para me juntar ao grupo; a aula estava no final: o professor pediu que aguardássemos um pouco.

Dispensando os seus alunos, ele nos falou um pouco, dessa vez em inglês, sobre a relação especial de Flandres -- i.e., a Bélgica de língua neerlandesa -- com os seus poetas; que muitos deles ou foram padres, ou latinistas e filelenos, ou ambos; e que eu, se queria mesmo, como lhe dizia, aprender neerlandês para ler o que se escrevera na língua, devia procurar, além da poesia de Gezelle, a do latinista, fileleno e também padre Anton van Wilderode (1918-1998), geralmente considerado o maior poeta flamengo do pós-guerra.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mahler - Sinfonia nº3

Por Leandro Oliveira

Rorbert Hirschfield comentava em 1909, por ocasião de uma execução da Terceira Sinfonia:

Os grandes sinfonistas sentem e revelam a grandiosidade, a força, a nobreza e integridade – não as características negativas – de seu tempo. No entanto, quão frívola, infantil e sem força nossa época aparece através das sinfonias de Mahler.

Há uma evidente expectativa no texto de Hirschfield, que é a expectativa de um compromisso. Para ele, o artista deve antes de tudo preservar em sua obra um certo "senso de responsabilidade" - é como o porta-voz de seu tempo e sua mensagem, uma “garrafa ao mar” para as próximas gerações, um gesto individual que resume uma cultura. A incorporação da sonoridade do dia a dia, “frívola, infantil e sem força”, cria então um objeto irresponsável, descomprometido com a percepção das próximas gerações em relação àquilo que expressa, daquilo que acusa e simboliza.


A Osesp executa esta semana na Sala São Paulo e no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (domingo), a Sinfonia nª3 de Gustav Mahler - como solista, Natalie Stutzman.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amnésia Cultural - Tony Curtis


Por Maria Celina Gordilho

Eu tinha preparado um post para hoje - e daí leio sobre a morte de Tony Curtis, aos 85 anos.

Não vou descrever a biografia dele aqui - a France Presse já se encarregou do métier, e os jornais brasileiros, de traduzi-lo. Contarei apenas uma lenda - será fato? - narrada pelo guia de viagem pela Hungria e lembrada hoje por papá.

Durante a guerra (a 2ª, né), Tony Curtis levou sua namorada, Liz Taylor (entre um marido e outro), então astros de Hollywood, para Budapeste, capital do país de onde seus pais vieram. Na época, havia toque de recolher, e a cidade ficava às escuras, pois havia o temor de que podiam ser atacadas à noite, pois a luz as tornaria alvos iluminados e fáceis.

Tony e Liz saíram para jantar, depois esticaram a noite em um bar, esticaram em outro, e passaram do toque de recolher. Voltaram ao hotel Hilton, que ficava em frente à ponte Elizabeth (Erzsébet híd), totalmente às escuras. Oras, Tony não podia levar a namorada para conhecer sua cidade by night, naquele clima romântico, se a cidade não tivesse luzes. Tony ligou para o prefeito de Budapeste e lhe pediu para que acendesse pelo menos as luzes de Erzsébet híd. O prefeito, talvez um romântico, concedeu o pedido, e a ponte ficou toda iluminada. A noite romântica foi salva (até hoje, Budapeste tem uma iluminação noturna linda e romântica).

A partir de então, quando viram que as luzes em quase nada interferiam com a guerra, Budapeste (ou outras cidades europeias, a exemplo de Budapeste - essa parte da lenda é meio envolta em brumas) reacendeu suas luzes à noite. A população ficou tão agradecida que deu à ponte o nome de Elizabeth, em homenagem à Taylor e Tony (essa parte da história é lenda - a ponte foi nomeada, na verdade, em homenagem à rainha Elizabeth, esposa de Francisco José I, assassinado em Genebra em 1898).

Deixo aqui minha homenagem ao querido ator Tony Curtis,que me diverte toda vez que assisto "Quanto Mais Quente Melhor".

Karl Kraus em São Paulo

Quebra-cabeças de Martin Gardner 2


Escreva o alfabeto começando com a letra J.

Apague todas as letras que preservam simetrias laterais (como a letra A).

Conte as letras em cada um dos cinco grupos.


***

Escolha um número qualquer


Retire esse número (no caso o sete, por exemplo) e os números situados na linha vertical e na linha horizontal que passam pelo número que escolheu.

Escolha um número qualquer dos que ficaram e retire esse número e os números situados na linha vertical e na linha horizontal que passam por ele.

Escolha um terceiro número e retire-o bem como os da linha vertical e da linha horizontal onde esse número se encontra.

Realize a adição agora dos três números que selecionou ao único que resta. O resultado é sempre 34. Alguém saberia explicar?
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