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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um verso roubado de Huizinga

Por Pedro Gonzaga

quando o mundo era quinze anos mais jovem,
costumávamos pensar que chegaria a hora:
o sangue nas artérias não conta então as voltas que dá -
bom sangue
ingênuo sangue
todas as células que decidiram ser seiva
inutilmente.
desperdício é um conceito futuro
compensação para a seca
enquanto opera o fogo-baixo
do escárnio.
eu me pergunto: para que serve o estoicismo tomado de Marco Aurélio
para quê, meu deus, para quê?
do corpo toda a energia se perde ou se dissipa
não se pode querer numa quarta-feira de 2010
a vida que vibrava em meus pés na hora do recreio
prodigalidade inteira dos meus 8 anos
não há acumulação
não há reservas.
poderá o desejo reconhecer a si mesmo em 2025?
quinze anos se passam
e cá estão apenas os escombros do desejo
lenha calcinada, nó de pinho negro entre as cinzas claras.
quem poderia prevê-lo,
me diga,
ao crepitar das chamas
quando o mundo era quinze anos mais jovem?

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