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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Os melhores de 2010 - I

por Érico Nogueira

É claro que é uma bobagem jornalística esse troço de eleger os melhores do ano. Sílvio Santos que o diga, com o seu um dia famoso, hoje esquecido, troféu imprensa... Mas é um troço divertido, e, a título de distração, gostoso de fazer. Vamos lá.

Na minha coluna de hoje no Terra Magazine, defendo, respectivamente na poesia e na prosa de ficção, que "O cânone acidental", de Marco Catalão, e "As almas que se quebram no chão", de Karleno Bocarro, sejam os melhores de 2010. Meus argumentos são fracos - como qualquer argumento do gênero, diria o chinês de Königsberg --, mas, mesmo assim, em vez de simplesmente dizer "os melhores são Fulano e Beltrano", decidi apresentá-los ao leitor.

Digo que são os melhores porque, seguindo as pegadas do tal chinês - mais um ensaio batido do mais que batido T. S. Eliot -, são livros que "chacoalham", digamos assim, a tradição que os precede, como uma estrela nova que, surgindo na constelação, muda o desenho que enxergamos... Aliado à descrição das suas características - estilo, enredo, etc. -, isso é tudo o que posso dizer sobre eles.

Há outros livros, claro. A modéstia me impede de me indicar a mim mesmo como um possível candidato ("Dois" foi publicado este ano...), então, ah, bem, -- temos Adélia Prado e João Ubaldo Ribeiro, respectivamente com "A duração do dia" e "O albatroz azul". Só li o último: é bom, sim, e João Ubaldo talvez seja o maior estilista vivo da língua, superior, a meu ver, ao próprio Staramago, recém-falecido.

Saindo do circuito 'professora de português', gostaria de notar que a recente produção de Ricardo Domeneck, mais um e outro poema novo de Dirceu Villa disponível na rede - e ainda os últimos poemas de José Rodrigo Rodriguez -, constituem as pérolas do ano: isoladas, de vez que não saíram em livro, mas ainda assim pérolas. E, finalmente, pra deixar o Brasil pra trás, eu citaria "As desaparições", do café-com-leite Alexei Bueno, aparecido em dezembro de 2009 -- que, convenhamos, é quase 2010...

Geoffrey Hill publicou alguns poemas novos neste ano, e prepara a edição dos seus complete poems. Durs Grünbein publicou "Aroma", o melhor lançamento que tenho lido, em matéria de poesia, desde que me tenho por gente. E Gonçalo M. Tavares acaba de lançar "Uma viagem à Índia", uma epopéia que, a despeito do estilo frouxo, não deixa, por isso, de ser uma epopéia - e, pois, um feito.

O melhor melhor mesmo, porém, foi aquele que, há dois mil anos, está lá, soberbo no alto do cânon, o insuperável, o inigualável, o inefável Virgílio: que me tem ensinado a fazer verso latino e português, e que me fez chorar, lendo em voz alta os divinos hexâmetros do canto IV da Eneida, quando a rainha de Cartago morre. São muitas emoções.

Agradeço a Deus, à minha mulher e à minha família, por este ano maravilhoso. E a vocês, meus queridos, pela paciência. Abraço a todos e um Feliz Natal.

Retirado de Ars Poetica.

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