Saiba mais

domingo, 26 de dezembro de 2010

I will never give in

por Leandro Oliveira

Estou no Rio e, como sempre quando na cidade, é momento de rever amigos, reavaliar referências, cultivar nostalgias.

Ontem ao jantar, comentávamos todos sobre as novidades nada felizes do mercado recente - e entre os tantos "causos" típicos da mesquinharia de nosso meio musical, o mais triste deles, a controversa saída do maestro Tibiriçá do projeto de Heliópolis.

Logo depois, como que ironicamente, pudemos rever algumas horas de gravações extraordinárias - o que afinal é nosso passatempo predileto quando estou na Babilônia Maravilhosa. Retomamos um dos grandes cavalheiros do piano do século XX, o mestre Arthur Rubinstein.

Pouco a pouco, conforme subia o nível etílico e com ele minha melancolia, me dei conta de nossa miséria, exatamente ao entender uma época não tão distante onde a música era espaço para pessoas menos boçais e mais generosas. Para muito além de um dos mais inspiradores artistas do piano, maestro Rubinstein era (palavra old fashion) um gentleman. À luz das peripécias indecorosas dos nossos artistas - quase todos gênios do marketing ou mestres da política -, Arthur Rubinstein talvez nunca tenha sido tão jovem. E sua juventude é sua "precisão": quando buscamos nos palcos algo a admirar, seguimos sempre ao encontro daquilo que Rubinstein e tantos outros do passado preservavam cuidadosamente: a força "espiritual" da absoluta integridade artística, integridade que talvez tenha sido ilustrada nos conhecidos versos de Ricardo Reis:

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Talvez não possa explicar melhor o que comentamos ontem, então sugiro esta entrevista que ilustra inequivocamente um pouco daquilo tudo. É o próprio Rubinstein, aos 90 anos, falando de sua arte. Vocês infelizmente não poderão comungar do vinho, a noite de luar, a piscina e o calor vexatório de ontem à noite, mas mesmo assim, acho que gostarão deste testemunho incomparável.

PS: Melhor: tenho certeza que gostarão. Nos dias de hoje, é fácil sentir "vergonha alheia"; este vídeo me dá a sensação contrária, de "orgulho alheio". Dê a si este presente e assista. Veja como podemos ser nobres.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...