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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pergunte ao Julio Lemos


Por Julio Lemos

Poderia expor a sua opinião a respeito do sucesso que vem obtendo os livros de auto-ajuda? Não há nada que se possa salvar nos escritos de, v.g., Paulo Coelho ou Zíbia Gaspareto? Agradeço desde já por responder.

Eles são fáceis de ler, iludem pessoas que querem ser enganadas e podem ser encontrados em qualquer livraria. Gostei muito do comentário forte de Woody Allen no seu último filme (You Will Meet a Tall Dark Stranger); ele mostra como o auto-engano faz sucesso como consolo ilusório, e o quão ridículo é. Algumas pessoas se beneficiam disso e, por esse motivo, nunca ataquei ninguém conhecido por ler essas coisas. Indicaria aquele livro do G. Reale "Mais Platão e menos Prozac". Mas não posso afirmar que não há nada que se possa salvar nesses livros; acho improvável, contudo. Cada um responda à sua consciência pelo emprego do seu tempo e pela qualidade de suas leituras.

Jesus Cristo comia carne, o que os veggies cristãos radicais têm a dizer sobre isso?

Quase todos se calam; mas alguns ainda tentam justificar que Cristo apenas estava contemporizando a galera para não chocar. Há passagens na Patrística defendendo a superioridade do vegetarianismo, mas - até onde li - sempre com um tom de penitência, e não de humanização dos animais. Várias ordens religiosas (entre as mais duras: cartuxos alemães, carmelitas descalços, trapistas e sei lá mais quem) têm como regra a abstenção de carne, mas por jejum. Quando almoçam fora - e em alguns casos há exceções em certos dias, em que comem carne dentro do mosteiro - não rejeitam a carne. O cabeça dos trapistas no Brasil - insuspeitos de contemporização -, quando vem a SP, sempre vai a uma churrascaria. E o homem é dos mais eruditos sujeitos reclusos vivendo no país (acho que ele é nova-iorquino). O vegetarianismo como superioridade é uma das teses mais gnósticas e anti-cristãs de que tive notícia. Eu já fui vegetariano e tenho certeza de que aquilo era pura vaidade e puritanismo.

"O uso de três verbos é sempre indício de português ruim." Mas quando se usa a locução verbal com "deveria" (deveria ter feito, deveria ter escolhido, etc.), não há alternativa.

Sim, sim. Quando não há alternativa é isso, não há alternativa :)

Neoliberais traçam paralelos entre nazi/fascismo e comunismo. Apesar do autoritarismo em comum, muitas manifestações nazifascistas eram justa e enfaticamente contra o comunismo. Fachada? Paradoxal? Como explicar?

O paralelo é perfeitamente legítimo. Há tanto em comum entre essas idéias (e práticas!) que dá até sono tentar diferenciar. A oposição era semelhante à diferença entre anarquistas e socialistas, entre socialistas e comunistas, etc etc etc. Todos utópicos, estúpidos, violentos e bregas.

Pois é. Sempre achei estranho ler uma apologia à intervenção estatal máxima nos textos do Mussolini e vê-lo atacando o marxismo. Pensei mesmo que fosse jogo de palavras. Valeu, Julio.

Ele e Hitler estavam intoxicados de marxismo, mais que de qualquer outra coisa. Ambos eram socialistas genuínos, com matizes diferentes (racialistas, nacionalistas). A luta nazifascista era meramente sectária.

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