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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De magische wereld van M. C. Escher


por Julio Lemos

Escrevi sobre Gödel -- e fiquei surpreso com a popularidade do artigo em duas partes. Invoco novamente o nome do lógico austríaco em razão da minha visita à exposição de 85 gravuras do artista holandês M. C. Escher em Brasília, organizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil.

Mas que tem Escher com Gödel? A associação entre eles, no meu caso ao menos, resulta do clássico  "Gödel, Escher, Bach - An Eternal Golden Braid", do matemático Douglas Hofstadter. O autor, entretanto, não sugeriu gratuitamente a associação. Ambos, Gödel em lógica e Escher como artista gráfico, lidaram com os limites do pensamento e da forma dos paradoxos; o primeiro através de teoremas, com o uso da linguagem lógico-matemática, e o segundo através da imagem.

Contemplar as obras de Escher -- em grande parte composta por gravuras e desenhos, mas também com tapeçarias e ilustrações para livros -- exige um pouco do 'espectador'. Diria que o prazer que tiramos da sua contemplação se assemelha ao que temos ao resolver um puzzle -- embora não haja sempre uma solução visual. Desde os primeiros trabalhos de Escher, presentes felizmente no acervo exposto, observamos as mesmas características: ao lado da exatidão, do cuidado e das linhas severas (que lembram os textos de Wittgenstein), e até do realismo, temos os jogos de perspectiva, de início sutis, e depois as metamorfoses, uma bizarra geometria, enfim, o usual em forma não-usual.

O primeiro destes aspectos: a exatidão. Escher, filho de um bom engenheiro, era obcecado com um trabalho bem feito. Ocupado com os detalhes e o acabamento. "I could fill an entire second life doing my prints", disse certa vez; e reafirmou: "I believe that producing pictures, as I do, is almost solely a question of wanting so very much to do it well". Afora o talento surpreendente, o esforço. Marcas de quem sabe a que veio.

O tema e o efeito das obras de Escher é o paradoxo visual. Como seria o mundo se, ao descer por uma escada, chegássemos a uma plataforma mais alta do que aquela onde estávamos? Se, ao olhar um espelho, meu dedo direito se (con)fundisse efetivamente com o dedo esquerdo do meu eu-refletido? Se aquilo que víssemos ao longe se nos afigurasse proporcionalmente maior, e não menor, que os objetos mais próximos? Em Escher, entretanto, essa imaginação febril, embora exata, surge como algo natural. Essa naturalidade é resultado da história pessoal do autor, e não de um plano brusco cuja intenção fosse chocar os apreciadores de arte. Daí a importância das retrospectivas: vemos gravuras dos inícios, ainda sem um intento deliberado de "transporte ao paradoxal", e as comparamos àquelas da fase madura do autor, um grande admirador de paisagens naturais e arquitetônicas da Itália.

Não sei se a exposição vem a São Paulo. O curador holandês Pieter Tjabbes levou muitos anos para convencer o Museu Escher a ceder as obras para uma exposição no Brasil. Se alguém tiver contatos com os bastidores, queira informar...

A exposição em Brasília se chama "O mundo mágico de Escher", e fica até 26 de dezembro deste ano e abre de terça a domingo. Endereço: SCES, trecho 02, lote 22, Centro Cultural Banco do Brasil.

Os que gostam de matemática podem se deliciar com esse site: Math and the Art of M. C. Escher.

2 comentários:

Zé Luis disse...

Gosto muito daquele xeque-mate dado no mar das Cinque Terre. Ou então da série mais medieval, menos realista, feita em xilogravura e não em litografia, da metamorfose constante das figuras. Acho que se encontra aí o salto para dentro do paradoxo, pois o sentido da leitura (esquerda-direita e depois o reverso, infinitamente) nos faz pensar na mudança que o tempo imprime às coisas. Em 1998, creio, deu-se no Masp uma grande mostra do Escher, seria bom tê-lo de volta.

Anônimo disse...

Couldnt agree more with that, very attractive article

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