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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A mão do diabo?


Por Leandro Oliveira

Esta semana a Osesp apresenta a suíte "Vila Rica" de Camargo Guarnieri. Feita a partir de referências da trilha para o filme "Rebelião de Vila Rica", a obra é de 1959 e desdobramento da polêmica "Carta Aberta ao Músicos", de 1950. Ali, o compositor paulista condenava o "formalismo" na música clássica brasileira - e por "formalismo" entenda-se principalmente o método dodecafônico (introduzido no Brasil anos antes pelo exilado alemão Hans-Joachim Koellreutter), mas também experimentalismos que negassem a "identidade nacional".

A Carta reverberava a sua maneira o politburo e a "Doutrina Zhdanov", que inaugurará a segunda fase do realismo socialista e, em 1948, começara sanções públicas severas à artistas da então União Soviética - censurando compositores como Prokofiev e Shostakovich ou mesmo entusiastas do regime como Aaram Khachaturian. Em abril do mesmo ano, o Congresso da União de Compositores Soviéticos coloca os termos para a produção da música "progressista": os nacionalismos regionais como a base do que mais claramente servia a expressão do "proletariado".

André Egg faz um excelente artigo a respeito. Realiza algumas distinções entre os tantos "nacionalismos" no Brasil do pós-guerra e, principalmente, comenta a referência ainda mais específica sobre este assunto, a tese de doutorado do professor Luís Antônio Giani "As Trombetas anunciam o paraíso - recepção do realismo socialista na música brasileira. 1945 - 1958".

O tema é interessante, mais do que tudo por apontar as raízes que estarão na briga cultural que culminará no golpe de 1964. Ops, mas isso é outra história...

2 comentários:

Leonardo disse...

Não sei onde li que à época desse Congresso há uma confusão no Conservatório de Moscou, e alguns músicos e compositores (creio que não os mais famosos) tornam-se dissidentes do regime. Já ouviu falar nisso? Queria tanto lembrar onde cruzei com esta informação...

Leandro Oliveira disse...

Leonardo caro, até onde sei - como acontece sempre nestes casos - havia tudo menos unanimidade: a voz do Congresso, pelo menos entre os músicos, era aquela dos mais medíocres. Como disse, o próprio Katchaturian - um entusiasta do regime até o fim da vida - foi censurado, o que o faz, num ato constrangedor, vir a público desculpar-se. Tempos difíceis, e é uma tristeza que ainda encontremos seus apologetas.

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