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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Astrologia e seus mistérios


Isaac Newton, inegavelmente um dos pais da física moderna, era dado aos segredos da alquimia. Com um precedente desses, podemos tranqüilamente reverberar a máxima do príncipe da Dinamarca "there are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy." Joel Pinheiro da Fonseca mostra fontes que tornam verdadeiramente intrigante a arte da Astrologia.

Por Joel Pinheiro da Fonseca

O argumento mais forte pare se dar crédito à astrologia, na minha opinião, é sua universalidade histórica e cultural. Todas as culturas (ou quase todas), em todas as épocas, viram alguma relação entre a os astros e a vida humana. O que tornaria esse argumento ainda mais forte é mostrar que as diferentes tradições, as diferente astrologias (babilônica, chinesa, ptolomaica, asteca), concordam entre si, ou ao menos se complementam. Fora esse fato, que levou, aqui no Ocidente, ao desenvolvimento de todo um sofisticado sistema de análise, sobra a evidência pessoal de quem já teve consultas reveladoras com astrólogos (seja para descrição do caráter, seja para previsão de tendências futuras na vida da pessoa). Mas esse tipo de evidência funciona só para quem teve a experiência. Para quem ouve o relato, ficam muitas incertezas (o quanto foi revelação real e o quanto sugestão?); quanto mais longe se é da pessoa, menor é a força da experiência pessoal dela.

Experiências pessoais existem para absolutamente todos os tipos de crença: astrologia, leitura de mãos (um homem que conheço foi a um astrólogo, e muito tempo depois a uma leitora de mãos, e recebeu a mesma descrição de seu caráter, em termos nada banais, de ambos), espiritismo, pentecostalismo, candomblé, catolicismo, simpatias mil, etc. No fim das contas, nenhum deles pode ter poder decisivo para um ouvinte. Em primeiro porque nunca se tem certeza que, de fato, algo extraordinário aconteceu. Em segundo porque, mesmo que se aceite o evento extraordinário, não se sabe se a interpretação dada por quem a vivenciou é correta (isso vale tanto para o ouvinte quanto para o sujeito). Será que a força benevolente que o fez se sentir em casa no terreiro de umbanda não era um demônio querendo arrastar sua alma para o inferno?

Claro que a astrologia tenta se dissociar de experiências “espirituais” desse tipo e se apresentar como uma ciência, na qual a experiência em questão não é um sentimento ou contato sobrenatural mas a constatação de que o astrólogo, lendo o mapa astral, sabe coisas sobre o cliente que não teria como saber, ou que fez previsões acertadas. Mesmo assim, a experiência humana comum é falível o bastante para nos deixar céticos. Peguem o exemplo da sangria: essa prática medicinal foi usada por milênios e em várias culturas. E vejam só: não só ela não curava doença nenhuma, como danificava a saúde do paciente, aumentando o risco de morte e dificultando a recuperação. E mesmo assim os melhores médicos, geração após geração, não percebiam. Pô, Aristóteles achava que os corpos caíam com velocidade diretamente proporcional ao peso, e muitos seguiram a linha dele; tem coisa mais obviamente falsa que essa crença? Para quem já sabe é óbvio; mas para a experiência casual humana pode parecer plausível. Isso é o bastante para, no mínimo, criar um bom ceticismo com relação a teorias cujo mecanismo proposto não podemos observar diretamente. Precisamos de uma experiência mais rigorosa do que a corriqueira.

O que a astrologia afirma é uma correlação constante entre a disposição dos astros no momento do nascimento e o caráter da pessoa. Isso é uma baita afirmação. Vejam: todo mundo aceita que os astros tenham influência sobre a vida na Terra. O sol bate, as plantas crescem, os homens sentem calor; uma estrela brilha, o amante sente-se inspirado a escrever um poema. Os fótons enviados pelos astros celestes a Terra podem ter efeito - direto ou indireto - inclusive sobre o bebê que acaba de nascer; nada disso é muito polêmico. O polêmico é afirmar que esse efeito é previsível, ou seja, que a correlação entre os dois eventos (caráter da pessoa e disposição dos astros) é constante.

A posição dos astrólogos de que não se trata necessariamente de uma causalidade astro-pessoa, mas apenas de uma correlação cuja causalidade é desconhecida, é perfeitamente defensável. Mas a própria correlação precisa de mais evidências. Um bom exemplo seria procurar correlação entre os signos e comportamentos observáveis. Certo signo tende a ser mais audacioso? Então que tal medir sua correlação com acidentes de carro, ou com abertura de novas empresas? Outro tende a ser mais preocupado? Que tal medir sua correlação com problemas cardíacos? São só exemplos. O caráter (quero dizer, todas as características de sua personalidade) do indivíduo tem relação com seu comportamento. Sendo assim, dado que os astros têm relação com o caráter, então eles têm relação com o comportamento, que é algo mensurável. Nunca vi estudo que mostrasse relação clara de signo com comportamento algum. Também admito que nunca procurei muito, embora eu imagine que, se a evidência fosse forte, ela seria mais comentada publicamente. Por isso, não acredito em astrologia.

Isso tudo diz respeito à astrologia enquanto disciplina científica; mas não quer dizer que é imoral praticá-la. E de fato, se ela se restringir a esse plano puramente científico, não há porque condená-la moralmente (a não ser do modo trivial: é errado se dedicar ao estudo do falso - mas é óbvio que quem estuda não acha que é falso...). O problema moral só pode existir se a astrologia se coloca como algo além de uma mera ciência; como algo mais diretamente ligado ao plano sobrenatural. A simbologia astrológica se presta a esse tipo de leitura, assim como a ligação do astrólogo a disciplinas esotéricas, e a constante ligação histórica dela a cultos religiosos também. Aí ela se torna outra coisa: uma tentativa de violar a ordem espiritual, buscando a comunicação com espíritos para aprender verdades sobre a vida na Terra; a tentativa do homem de submeter o mundo espiritual ao seu poder, e que lança o homem num abismo de ilusões no qual ele está cada vez mais sob o poder de algo que não é nada bom. E isso sim, é digno da condenação moral dada por muitas religiões, inclusive o Cristianismo.

Retirado de Terra à Vista.

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