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quarta-feira, 9 de março de 2011

Pensamentos soltos

por Leandro Oliveira

Desde muito não vejo novelas. Então, não há jeito, a cena é impagável mas se tornou conhecida por mim através do excelente site da Letícia L, o Flanela Paulista. E é com agradecimentos a ela que posto o vídeo, antes de falar de coisas mais pertinentes ao nosso mundinho highbrow.


Pois não é que a OSB teve seu momento Clô Souza e Silva esta semana quando, no meio do caos das novas audições, sobrou uma cobertura especial no blog do Norman Lebrecht, sem dúvida o crítico mais conhecido da música clássica internacional?

Está tudo lá: o protesto no facebook (com a estranhíssima carta de Alex Klein); a reverberação pelo mundo; o refugo da Isabelle Faust que participaria da comissão de julgamento das audições; a carta bizarra da Presidente da União dos Músicos do Rio de Janeiro apelando, vejam só, pelos "direitos humanos" dos músicos! (esses sindicalistas precisam aumentar um pouco o vocabulário, pois não...); os esforços do professor Jim Willt pela saída dos membros da banca julgadora; a carta do Roberto Minczuk diretamente ao Lebrecht (o que mostra antes de tudo a influência do crítico, mas também, o nível de pressão interna da administração da orquestra) além, ufa!, do desmentido dos itens da cartas do maestro pelos músicos da orquestra.

É a OSB no Projac!

O resumo de Lebrecht, tal como um editorial do Cid Moreira:

The musicians fear this procedure will cost many, perhaps most of them, their jobs. The conductor, Roberto Minczuk, insists that no jobs are at risk. On the contrary, the players who pass the audition will be paid more.

Clearly, neither side trusts or understands the other.

Why else would an orchestra hold auditions except to select and reject musicians? One of the international musicians named for the jury says she was unaware of any such role; another has withdrawn.

What happens now? Are the members of the Brazil Symphony Orchestra expected to play before the three remaining judges, one of who is contemplating resignation?

And how will the orchestra ever regain trust in a conductor and management who have such little faith in their own players? It would seem that many jobs are now at risk, including maestro and manager.

How soon? Your guess is as good as mine. But I cannot recall an orchestral dispute in recent years when the two sides were so far apart and good will was so low.


O que, aliás, ressalvo não por cabotinismo mas por respeito aos leitores, foi meu julgamento a respeito no post de alguns dias...

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Sabemos que não há musicologia de verdade no Brasil quando alguns dos nossos mais importantes mitos ainda precisam de real posicionamento - não para o grande público, que é naturalmente ingênuo, mas para os especialistas. Fernando Randau faz uma exploração interessantíssima sobre Villa-Lobos e seus vínculos políticos, descarnavalizando um pouco a lenda. E aponta para a tese "Um maestro no gabinete: música e política no tempo de Villa Lobos" de Analia Chernavsky, defendida em 2003 na Unicamp, que parece fundamental.

(O assunto é palpitante e se alguém se der o trabalho, verá que apontar tal indigência é algo recorrente no site).

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James Levine larga a Boston Symphony por problemas de saúde. O meu amigo Marcelo Lehninger, assistente da orquestra, vai ser o responsável pelo primeiro dos três concertos no Carnegie Hall. Mesmo feliz pelo Marcelinho, a verdade é que toda a história é melancólica, para muito além da saúde do maestro.

A nomeação e a sobrevida de Levine no cargo foi uma vergonha; não posso que me indignar quando da usurpação de nossos melhores homens no front: e o caso é que algumas instituições fazem o papel de nossos melhores homens, legitimando e dando parâmetros para nossas sensibilidades. Esta é a importância de um bom museu e de uma boa orquestra. Assim como ficaria triste com a má administração do Louvre, me entristece perceber que a Boston Symphony está desde muito tempo perdida por nós, nesta batalha que travamos, como cultura, pela nossa preservação (batalha dura entre ocidentais, coitados, tão suspeitos neste mundinho politicamente correto...).

Não bastasse o desastroso quarto de século sob a batuta do Seiji Ozawa - um gênio da técnica da regência mas um músico bem fraquinho, esta é a verdade - a orquestra mais rica dos EUA via agora como rotina um chefe dividido em tantas atribuições (seguia como regente do Met de Nova Iorque), e seus cancelamentos. O resultado não poderia jamais ser feliz a longo prazo e, qual um general envelhecido e senil deve saber a hora de deixar suas responsabilidades, Levine deveria ter há muito tempo pedido para sair.

Tomara que agora a orquestra encontre alguém que possa a ela se dedicar. E que não seja mais um selvagem como os dudaméis e outros tantos que estão por aí. Todo músico sério sabe, a Boston Symphony é uma boa tropa - onde, no entanto, há muito trabalho a ser feito.

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Queria falar também da crise da Detroit Symphony, a greve dos músicos que parece ser o único assunto de verdade no mundo musical atual - a OSB, entre os comentadores do norte, é querela aborígene, uma espécie de batalha entre líbios e seu khadafi particular, cuja intervenção civilizada só acontecerá com a chancela da ONU. Ali, no império, o problema é sério pois lida com a discussão sobre o papel de uma instituição musical como uma orquestra sinfônica em épocas de crise. A cidade de Detroit tem praticamente 30% de casas abandonadas por conta da última crise financeira. A posição dos músicos se tornou muito antipática ao público, léguas de distância das orquestras que, na segunda guerra, reuniam-se sob bombardeio para levantar o moral da população. Algo deve acontecer nos próximos dias, mas a chaga já deve estar rasgada: em meio a uma das mais graves crises econômicas de todos os tempos, os músicos de Detroit preferiram viver em seu universo particular, pleiteando aumento e que tais. Realizam a greve de músicos mais longa da história (já dura mais de cinco meses) e é possível que jamais saiam dela. Ao menos espiritualmente. Mas acho que é assunto para outro post... talvez não. A ver.

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