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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Une grande aventure vers la lumière


por Juliana Perez

Hans Scholl tinha 24 anos quando condenado à morte na manhã do dia 22 de fevereiro de 1943. Foi executado na tarde do mesmo dia. Suas palavras diante da guilhotina foram: “viva a Alemanha, viva a liberdade”.

Não significa escapismo falar em liberdade interior quando a exterior falta. Pois foi pela liberdade civil que os irmãos Scholl e os demais integrantes de "A Rosa Branca" entregaram a vida - a liberdade interior eles já possuíam. Três cartas.

Em serviço militar em Stetten, a sua irmã Inge, em 27 de junho de 1938:

No bolso interno do casaco levo um botão de rosa. Preciso desta pequena planta porque ela é “o outro lado”: muito distante dessa vida de soldado, e no entanto não contraditório a ela. É preciso sempre carregar consigo um pequeno segredo, sobretudo com os camaradas que tenho aqui.

A Rose Nägele, em 28 de outubro de 1941, meses antes de começar a escrever os panfletos:

Encontro-me em uma crise espiritual, a mais importante da minha vida, e é compreensível que eu a leve a sério e não me console com paliativos burgueses. Por sorte tampouco preciso de algum. Encontro-me em um estado de alma ao qual não pode vir nenhuma ajuda de fora, pois eu, no meu interior mais profundo, já o superei, reconheci e estou feliz. Que paradoxo! Minha cabeça dói, embora eu esteja feliz. É a felicidade do vencedor que já antecipa o final da luta.

Esta guerra é (como todas as guerras significativas), na sua verdadeira essência, uma guerra espiritual; às vezes parece que o meu pequeno cérebro é o campo de batalha de todas essas lutas. Não posso ficar de fora, pois de fora não há felicidade, pois sem verdade não há felicidade – e esta guerra é, no fundo, uma guerra pela verdade. Todos os tronos impostores devem cair – isto é o mais doloroso –, para que o que é autêntico apareça sem falsificações. Eu não estou falando do ponto de vista político, mas pessoal, espiritual. Fui obrigado a fazer uma escolha.


A Rose Nägele, em 16 de fevereiro de 1943, dois dias antes de sua prisão na Universidade de Munique:

Hoje eu devo ser como eu sou. Estou interior e exteriormente distante de você, mas nunca, não sou um estranho. Meu respeito pelo seu coração puro nunca foi tão grande como nesses dias, em que a vida se tornou um risco constante. Mas por eu ter escolhido o perigo, preciso ser livre e não ter vínculos, e ir para onde eu quero ir. Já andei por muitos caminhos errados, e eu sei, abrem-se abismos, a noite mais profunda envolve meu coração – mas eu mergulho nela. Como são grandes as palavras de Claudel: La vie, c’est une grande aventure vers la lumière.

Post scriptum: Os trechos de cartas foram retirados do livro Hans Scholl und Sophie Scholl. Briefe und Aufzeichnungen. Hrgs. Inge Jens. Frankfurt a. M.: Fischer, 2005. (pags. 23; 29; 85 e 143, respectivamente). Não há tradução do livro para o português.

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