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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Passagem preferida

POLÔNIO: O que é que está lendo, meu Princípe?
HAMLET: Palavras, palavras, palavras.
POLÔNIO: Mas, e qual é a intriga, meu senhor?
HAMLET: Intriga de quem?
POLÔNIO: Me refiro à trama do que lê, meu Príncipe.
HAMLET: Calúnias, meu amigo. O cínico sem-vergonha diz aqui que os velhos têm barba grisalha e pele enrugada; que os olhos dele purgam goma de âmbar e resina de ameixa; que não possuem nem sombra de juízo; e que têm bunda mole! É claro, meu senhor, que embora tudo isso seja verdadeiro, e eu acredite piamente em tudo, não aprovo nem acho decente pôr isso no papel. Pois o senhor mesmo ficaria tão velho quanto eu se, como o caranguejo, se pudesse a avançar de trás pra frente.
POLÔNIO: (À parte.) Loucura embora, tem lá o seu método. (Pra Hamlet.) O senhor precisa evitar completamente o ar, meu Príncipe.
HAMLET: Entrando na tumba?
POLÔNIO: Realmente, não há melhor proteção. (À parte.) Que respostas precisas! Achados felizes da loucura; a razão saudável nem sempre é tão brilhante. Vou deixá-lo agora e arranjar logo um encontro entre ele e minha filha. (Pra Hamlet.) Meu honrado Príncipe, não quero mais roubar seu tempo.
HAMLET: Não há nada que o senhor me roubasse que me fizesse menos falta. Exceto a vida, exceto a vida, exceto a vida!
POLÔNIO: Passe bem, senhor.
HAMLET: Esses velhos estúpidos e fastidiosos!


Extraído de "Hamlet" (traduzido por Millôr Fernandes).

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