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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Leis das tecnologias

Entre os Bambar e os Dogon, o talento para tecelagem está 
proximamente associado a fala. 
Soy, a palavra em Dogon para "roupa" significa 
"é a palavra falada" (Giraule 1948, p.30). 
Tecer, assim como falar, foi um presente dado pelo Criador 
para ajudar o Homem.
(Douglas Fraser in "African Art as Philosophy")

por Leandro Oliveira

Uma característica conhecida das tecnologias de comunicação é mudar parte dos conceitos com os quais lidamos ordinariamente quando não tínhamos a mediação da dita tecnologia. Vivendo em um mundo de transformações, fica fácil ilustrar: hoje fazemos parte de "comunidades", "batemos papo", temos "amigos", alguns até "namoram" pela internet.

Não é nenhuma surpresa que quinze anos atrás nenhuma aspa acima poderia ser inteligível em termos práticos: comunidade era quase coisa de hippie - ninguém mais participava de uma -, "bater papo" requeria ao menos a voz de um interlocutor (não precisava ser ao vivo, um telefone servia), amigos eram só aqueles com quem se desfrutava alguma intimidade, namorar previa uma certa troca de calor, por assim dizer.

Hoje não é mais assim e o Estadão em sua versão online consegue dar destaque para uma chamada como "computador será seu melhor amigo" sem que ruborizemos (por enquanto nós ruborizamos, embora algo me diga que, diante de uma chamada assim, imaginar que a tela ruborize não seria de todo um antropomorfismo exagerado).

E cá estamos todos tentando nos virar com essas tantas novas referências, de alguma maneira melancolicamente. Melancólicos os que cantam as loas de um novo mundo assim como os outros de nós, aqueles que ficamos definitivamente receosos do que pode vir. No que me diz respeito, preciso dizer que, tendo um companheiro como o intragável Wolf, seria antes um infeliz por ter um computador como meu melhor amigo.

O que fazer desta insensatez? Marshall McLuhan - para muito além do queridinho dos estudantes de Comunicações das universidades brasileiras - já havia em 1977 previsto uma maneira bastante prática de lidar com o que chamava as "Leis das Tecnologias". Segundo ele para explorar tais Leis deveriamos ter em mente "apenas quatro traços específicos, traços que devem ser pensados em proporção analógica entre si". Chegamos a tais traços com quatro perguntinhas singelas:

a) o que a tecnologia melhora?
b) o que ela torna obsoleto?
c) o que ela recupera e que havia antes sido tornado obsoleto?
d) o que ela produziria se empurrada aos limites de seus potenciais?

Exercitemo-nos. Sugiro três tarefas e publicarei as soluções que eventualmente vocês pensarem. O que esta matriz diria de:

1) telefone celular;
2) a televisão;
3) os talheres de mesa.

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