Saiba mais

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Folclore do Homem Industrial - Sinfonia nº7 de Jean Sibelius

"Since the death of Debussy, Sibelius and Schönberg are the most significant figures in European music, and Sibelius is undoubtedly the more complete artist of the two. However much one may admire Schönberg's powerful imagination and unique genius, it is difficult not to feel that the world of sound and thought that he opens up —though apparently iconoclastic— is 'au fond' as restricted as the academicism it has supplanted. Sibelius' music suffers from no such restriction, and it indicates not a particular avenue of escape but a world of thought which is free from the paralysing alternatives of escape or submission. It offers no material for the plagiarist, and is to be considered more as a spiritual example than as a technical influence. We are not likely to find any imitations of Sibelius No. 7, such as we find of Stravinsky's 'Symphonie des Psaumes', because the spiritual calm of this work is the climax of the spiritual experience of a lifetime and cannot be achieved by any aping of external mannerisms." (Constant Lambert em Music Ho! a Study of Music in Decline).

Por Leandro Oliveira

Arnold Schöenberg comenta em algum lugar que mesmo após a implosão forçada do tonalismo, seria possível escrever muita música em dó maior. Em 1924, Jean Sibelius estreou sua última partitura sinfônica casualmente e, porque não, ironicamente, em dó maior. Em tudo estranha - cheia de assimetrias e recorrências temáticas de variação improvável -, a obra é sem dúvida impregnada do espírito da Modernidade.

Ex post facto é fácil pleitear nesta obra o paroxismo da linguagem tonal e o radicalismo da forma como justificativas para a interrupção da atividade criativa do compositor, que a partir dali entraria em seus mais de trinta anos de silêncio profissional. Mas nada nos leva a crer que isso seja verdade: até muito depois, Sibelius seguiu compondo privadamente e, de fato, a partitura, em toda sua inovação melancólica (?!) consegue ser ao mesmo tempo um reflexo de seu tempo e caudatária de valores estéticos que na década de vinte eram nitidamente anacrônicos.

Em toda sua obra, e mais precisamente nesta sinfonia, Sibelius jamais escreverá para a satisfação de um determinado grupo - ao contrário, como diz Lambert, busca a partir de uma reflexão íntima e portanto individual estabelecer comunicação com aquilo que lhe seja universal. Ele diz mais: "enquanto a maior parte da música moderna se preocupa com vocabulário, Sibelius se preocupa com sua expressão". Por isso é um compositor que conjuga estima popular e intelectual. Por isso ele não é passível de plágio, por isso é, ainda hoje, um compositor aparentemente inclassificável em toda sua modernidade:

(...) It is the only modern work whose repose has in it no hint of any lack of vitality, and whose classicism has in it no hint of pastiche. We should not confuse its Olympian serenity with the cold detachment of Stravinsky's Apollo Musagetes and its many neo-classical imitations. There is a repose which marks a final victory and a repose which marks an early defeat. Not everyone who renounces the world is a Buddha.

As idéias com as quais Sibelius trabalha se tornam anátemas nos círculos musicais modernistas do pós-guerra, quando a experimentação formal e a "anti-expressividade" passam a prevalecer como paradigmas. Tanto será assim que Theodor Adorno (temos que falar sobre ele aqui, editor Wolf!) comenta em 1938 que "se Sibelius é bom, então todo critério que aplicamos de Bach a Schoenberg é inválido" (pronto, seqüestrou o Bach...). Em 1955, o compositor René Leibowitz, seguidor de Adorno, publica o panfleto cujo título demonstra o extremo rigor e objetividade da Crítica: "Sibelius, o pior compositor do mundo!". Tratava-se de uma homenagem - what?! - aos noventa anos do mestre.

(Parece a FLIP homenageando Gilberto Freyre).

Os cães ladram, a caravana passa. Hoje, ao lado de Shostakovich, é Jean Sibelius, mesmo tendo interrompido sua produção ainda na primeira metade do século, o mais importante compositor do gênero sinfônico do século XX. E claro, ninguém sabe quem é René Leibowitz e pouca gente liga para os juízos estéticos invariavelmente tortos de Adorno.


Esta semana, a Osesp executa a Sétima Sinfonia de Sibelius na Sala São Paulo.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...