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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mahler em Viena

por Leandro OLiveira

Hoje Gustav Mahler completaria 151 anos. Sua música, mais do que nunca, está presente em nossas vidas embora siga admiravelmente complexa, estranha e inescrutável para boa parte do público. Meine Zeit wird kommen teria dito o compositor, e seu tempo realmente chegou. Mas a frase não deve ser entendida como a reclamação de um gênio incompreendido ou uma aposta de fé no progresso, já bem nos esclareceu Heinrich Kralik. É, antes, uma profecia dos tempos de caos, catástrofes e angústia que lhe seguiriam. Para Quirino Principe é como se Mahler com esta frase proclamasse "haverá um tempo em que as pessoas se darão conta de serem representadas, descritas e identificadas pela minha música, e entenderão que esta música - e seu caos, e sua angústia - esteve nelas desde sempre".

Eu escrevi para a Dicta um artigo onde me pus de um lado inequívoco, entendendo o compositor como uma espécie de cínico que com sua música conflagra ou, como digo ali, deseja tais momentos de pesadelo; outros autores, todos mais respeitáveis que eu, imaginam nessas palavras a clarividência de um gênio, em uma vã tentativa de representação da dissolução já anunciada por indícios de seu mundo e, sobretudo, o anseio desesperado de frená-la.

Foram três ou quatro grandes eventos que instauram a modernidade em Viena no ano de 1897. Como eventos da mesma grandeza, ao lado da morte de Brahms e o anúncio da Sezession, devemos colocar a nomeação de Gustav Mahler como diretor da Ópera Imperial. Isto em um ano para não esquecer: em 1897, naquela cidade, Freud inicia sua auto-análise, Herzl organiza a partir dali o primeiro Congresso Sionista, Karl Kraus publica "Die Demolierte Literatur" que satiriza o Jung-Wien dos amigos Arthur Schnitzler, Peter Altenberg e Hugo von Hofmannsthal. É neste ambiente que Mahler triunfa como Kapellmeister, realizando uma pequena revolução administrativa nos palcos do teatro que todos estes freqüentavam.

Sua música segue, aqui como lá, adorada e vilipendiada no mesmo grau. Para abrandar os espíritos, em seu aniversário, coloco esta versão irretocável, no original, para piano e voz, de uma obra preferida.


Retirado de "Fünf Lieder nach Texten von Friedrich Rückert (1788-1866)".

Ich bin der Welt abhanden gekommen,
Mit der ich sonst viele Zeit verdorben,
Sie hat so lange nichts von mir vernommen,
Sie mag wohl glauben, ich sei gestorben!

Es ist mir auch gar nichts daran gelegen,
Ob sie mich für gestorben hält,
Ich kann auch gar nichts sagen dagegen,
Denn wirklich bin ich gestorben der Welt.

Ich bin gestorben dem Weltgetümmel,
Und ruh' in einem stillen Gebiet!
Ich leb' allein in meinem Himmel,
In meinem Lieben, in meinem Lied!

(Thomas Hampson - barítono e Wolfram Rieger - piano. Gravado ao vivo no dia 18 de agosto de 2005 no Salzburger Festspiele 2005)

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