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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Observatório Ocidentalismo


Curto quando o Reinaldo Azevedo faz pequenas viagenzinhas. A de hoje é especial para mim pois acabei de recomendar o livro a amigos e alunos. Me diverti com a coincidência.

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Por Reinaldo Azevedo:

Se o leitor ainda não o fez, deve fazê-lo: ler “O Visconde Partido ao Meio”, do escritor italiano Italo Calvino. Não chegará a ser o seu livro de cabeceira, mas se ganha bastante em poucos mais de 100 páginas. Coisa para duas ou três horas de um daqueles domingos que, muitas vezes, se desenrolam sem motivo aparente… Vocês conhecerão o Visconde Medardo di Terralba, que foi combater os turcos. Um tiro de canhão o rachou ao meio, na vertical. Uma parte, a direita, volta para a casa. Era a metade perversa, má no limite do tédio… dos outros! Depois de algum tempo, suas vítimas já haviam se acostumado com suas perversidades. Até que chegou o lado esquerdo, que havia sido cuidado por monges. Era de uma bondade… insuportável!!! Chamavam-no “o vagabundo”. As duas partes acabarão duelando pelo amor de Pamela. O resto, vocês conferem no livro.

Muitos quiseram decifrar o sentido metafísico do Visconde de Calvino. Até se tentou uma leitura política, com a “direita má” e a “esquerda boazinha”, ambas impróprias para o convívio humano. “Reunidas” as metades do marquês, nem por isso se formou uma inteireza. Somos, os homens, assim mesmo: não cindidos em duas partes, mas em muitas. “Nada do que é humano me é estranho”, escreveu Terêncio. Porque não é, somos levados a fazer escolhas, que acabam determinando com quais pessoas decidimos viver e que moralidade nos serve. Aos escolher os outros, escolhemos o nosso próprio caminho. Potencialmente, podemos ser o monstro moral da metade má ou o abestalhado da metade boa; podemos atormentar os outros tanto com o nosso egoísmo com nossa generosidade. Nada pode crescer à volta de um e de outro; um mata com o seu fel; o outro, com o seu mel. Mas que não se conclua apressadamente que a virtude está no meio, no doce-amaro, na indefinição. A “verdade”, qualquer que seja ela, está no conjunto. A razão tem de domesticar, a cada dia, a besta cínica e a besta crédula que há em nós.

Por que me lembrei de Calvino? Será Dilma Rousseff “a presidente partida ao meio”? (...)

Na íntegra aqui.

por Leandro Oliveira

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